'São anos de descaso do poder público em Santa Catarina', avalia pesquisadora

As características do solo e do relevo e as condições climáticas anômalas não são capazes de, sozinhas, explicar a tragédia ocorrida em Santa Catarina. Mais do que os fenômenos naturais, o descaso do poder público ao longo das últimas décadas foi a principal razão do elevado número de mortos, desabrigados e desalojados em decorrência das chuvas que atingiram o Estado no mês de novembro. Quem faz essa avaliação é a geóloga e pesquisadora do grupo de estudos de Desastres Ambientais da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), Maria Lúcia de Paula Hermman.

A Defesa Civil de Santa Catarina registrou, até o momento, 59 mortes, 7.703 desalojados e 15.434 desabrigados, vítimas, sobretudo, de inundações, desabamentos e deslizamentos de terra. Para a pesquisadora, que monitora os desastres ambientais ocorridos no Estado desde 1980, "há muito tempo essas tragédias vêm se repetindo em Santa Catarina e nada de efetivo foi feito por parte do poder público".

Hermman admite que uma quantidade incomum de chuva atingiu o Estado nos últimos dias, mas avalia que não houve, ao longo dos anos, o esforço necessário dos governos e prefeituras para impedir ocupações irregulares em encostas de morro e em planícies fluviais, locais que sofrem quando há grande ocorrência de chuvas.
Cidades mais atingidas pelas chuvas em Santa Catarina

Solo e relevo catarinense

A pesquisadora explica que, ao longo do litoral de Santa Catarina , distribuem-se três grandes "serras". A primeira, semelhante à "Serra do Mar" do sudeste, começa no extremo norte do Estado e vai até Joinville; a segunda, conhecida como "Serra do Leste", vai de Joinville até o começo do litoral sul; e a terceira, "Serra Geral", ocupa o litoral sul de Santa Catarina até o Rio Grande do Sul. Nas proximidades dessas serras estão algumas das principais e mais populosas cidades catarinenses, como Joinville, Blumenau, Itajaí e Brusque.

De acordo com Hermman, uma boa parte da população litorânea de Santa Catarina reside nas médias ou baixas encostas destas serras. Enquanto as moradias localizadas nas médias encostas são suscetíveis a desmoronamentos, as situadas nas baixas encostas costumam ser atingidas por deslizamentos de terra.

"Nas baixas encostas há uma camada espessa, extremamente permeável, conhecida como 'manto superficial', formada pelo desgaste das rochas, causado pela ações do sol, dos ventos e das chuvas. Essa camada fica entre a superfície e a rocha dura. Quando chove muito, a água ocupa toda essa camada, o manto fica encharcado e os deslizamentos inevitavelmente acontecem", explica a pesquisadora.

Rios

Outra região de risco, segundo Hermman, são as planícies fluviais, ou seja, regiões localizadas próximo das margens dos rios, que sofrem constantes inundações nos períodos de chuva.

"A legislação impede a ocupação de áreas a menos de 30 m de distância das margens dos rios, mas isso não é respeitado em Santa Catarina". A pesquisadora conta que no Vale do Itajaí, região do Estado mais afetada pelas chuvas, uma parcela significativa da população reside nas planícies fluviais.

"Várias cidades, como Blumenau, por exemplo, são cortadas por rios. Muitas rodovias, inclusive, foram construídas próximas dos leitos dos rios", diz. "Não há como transferir uma cidade de lugar, obviamente, mas o governo pode tomar várias medidas, como dragar os rios, aprofundar os canais, retirar as pessoas das margens, construir muros, limpar bueiros, coibir ocupações clandestinas, aplicar multas pesadas, entre outras. As cidades precisam serem reestruturadas e planos de prevenção mais efetivos necessitam ser colocados em prática para evitar tragédias como esta que Santa Catarina está vivendo", completa Hermman.

Fonte: UOL
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Chega a 59 número de mortos por causa das chuvas em SC; oito municípios estão isolados
Postado por: Rogério Giessel
Atualizado às 20h27

O governo de Santa Catarina continua a contabilizar mortos devido à chuva que atinge o Estado. Segundo a Defesa Civil, já foram confirmadas 59 mortes, sendo 13 em Blumenau, quatro em Luiz Alves, seis em Jaraguá do Sul, 15 em Ilhota, duas em Rancho Queimados, dez em Gaspar, quatro em Rodeio, duas em Benedito Novo e as outras quatro foram registradas nas cidades de Pomerode, Brusque, Guaratuba (PR) e Bom Jardim da Serra. "Se chover mais, será o caos final", diz o governador de Santa Catarina


Agora, oito municípios estão isolados - São Bonifácio, Luiz Alves, São João Batista, Rio dos Cedros, Garuva, Pomerode, Itapoa e Benedito Novo. A Defesa Civil estima que a ajuda às comunidades isoladas pode demorar um dia para chegar.

O órgão registra 43.054 desalojados e desabrigados, sendo 28.543 desalojados (os que podem contar com ajuda de vizinhos e familiares) e 14.511 desabrigados (pessoas que precisam dos abrigos públicos). Cerca de 1,5 milhão de pessoas foram afetadas.

Aproximadamente 160 mil pessoas estão sem luz e outras seis cidades estão sem abastecimento de água. De acordo com a Defesa Civil de Santa Catarina, as chuvas devem continuar até esta quarta (26). Para o coordenador do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (Cptec/Inpe), o fenômeno das chuvas em SC "é anômalo, mas natural".

Calamidade pública

Com novas quedas de barreira, na noite de domingo (23), o prefeito de Blumenau, João Paulo Kleinübing, decretou estado de calamidade pública no município. No total, 20 mil estão desalojados e 280, desabrigados. Boletim informa que o nível do Rio Itajaí-Açu atingiu a marca de 9,5 metros às 15h, no centro de Blumenau. Chuva dificulta tráfego


Segundo a Defesa Civil, em Balneário Camboriú, o hospital Santa Inês foi atingido por um desmoronamento de barranco. Os pacientes foram removidos para outros setores do próprio hospital, que não recebe mais pessoas. No município, 2.000 estão desabrigados e 25 mil pessoas foram afetadas.

Quase 40 municípios tiveram graves prejuízos em decorrência das chuvas. Joinville conta 2.350 pessoas desalojadas e desabrigadas. Em Brusque, 100 casas foram interditadas por deslizamentos. Em Itajaí, deslizamentos, alagamentos e malha viária danificada deixam 1.200 desabrigados e 2.000 desalojados. O secretário da Infra-Estrutura de Santa Catarina, Romualdo Theophanes França, informou que as chuvas irão atrasar obras do PAC no Estado. Cidades mais atingidas pelas chuvas em Santa Catarina


Mais chuvas para os próximos dias

O gerente de Operações da Defesa Civil, major Emerson Neri, acredita que a situação deve piorar nos próximos dias porque as chuvas vão continuar. "Está chovendo ininterruptamente há quase dois meses e, infelizmente, a expectativa da meteorologia é de que o clima não mude nos próximos dias. Praticamente todos os municípios do litoral, de norte a sul, foram afetados. E ainda não temos informações consolidadas de todas as cidades", afirmou.

Diversos trechos de rodovias estaduais e federais estão interditados por causa de deslizamentos e queda de barreiras. Ainda há risco de outros deslizamentos, por isso, a Defesa Civil orienta a população a usar seus veículos apenas em casos de emergência.

Ajuda de outros Estados e doações

Seis helicópteros foram enviados ao Estado. Os governos dos Estados de São Paulo e Minas Gerais encaminharam na tarde desta segunda (24) quatro unidades para auxiliar nos trabalhos de resgates as comunidades catarinenses. O Exército Nacional desloca duas unidades.

O ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, aproveitou a reunião ministerial com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para acertar os termos de medida provisória que vai destinar recursos federais ao socorro das vítimas das enchentes e à recuperação da infra-estrutura do Estado. Enchentes provocam destruição e mortes em várias cidades de Santa Catarina

Cestas básicas, colchões, cobertores e kits de higiene estão sendo entregues às famílias atingidas pela chuva. O governo de Santa Catarina fez contato no domingo (23) com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para reforçar o pedido de auxílio à região de Blumenau, principalmente com helicópteros nas áreas isoladas da cidade. Ao presidente, o governador disse que o maior problema na região é a chuva constante.

Também foram procurados os governadores do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius (PSDB), e do Paraná, Roberto Requião (PMDB), para pedir apoio na atuação junto à Defesa Civil. O Estado do Paraná autorizou na tarde de ontem o envio de 140 bombeiros militares, 16 viaturas, 15 barcos, dois helicópteros e um avião para auxiliar às vítimas de Santa Catarina.

A Defesa Civil distribui alimentos, água potável e medicamentos. Em Florianópolis, doações podem ser feitas no Portal do Turismo, Assembléia Legislativa e Procon. No interior do Estado, os produtos devem ser encaminhados aos abrigos, Defesa Civil e prefeituras.

A recomendação é de que produtos de limpeza não sejam misturados com alimentos e roupa. Os alimentos devem estar dentro da validade, de preferência não perecíveis e com a embalagem em boas condições.

Chuvas em Santa Catarina danificam gasoduto Brasil-Bolívia

O abastecimento de gás entre o município de Guaramirim, em Santa Catarina, até o Rio Grande do Sul, foi interrompido na noite de ontem por causa das chuvas, segundo nota divulgada pela Transportadora Brasileira Gasoduto Brasil-Bolívia.
Deslizamento é fator mais dramático em SC, afirma governador
Luiz Henrique Silveira (PMDB), governador de Santa Catarina, disse hoje (24) que os deslizamentos de terra são o fator mais dramático das chuvas que atingem o Estado. "Quatro meses de chuva batida, sem parar, estão dissolvendo a terra e as casas estão desabando. Temos 7.300 desabrigados em alojamentos públicos. Essa é a maior que já ocorreu em todos os tempos em Santa Catarina"

Leia a notícia completa

De acordo com a nota da TBG, a interrupção se deu por conta de um acidente no duto, seguido de fogo e ruído elevado, no trecho do gasoduto Brasil-Bolívia, na localidade de Belchior, em Blumenau, em Santa Catarina.

Não há registro de vítimas ou danos a edificações, de acordo com a empresa, e o vazamento e o fogo foram debelados após o fechamento das válvulas de segurança do gasoduto próximas ao local do vazamento.

No sábado (22), outro duto foi rompido em Santa Catarina. De acordo com a SC Gás, a queda de uma parte do leito da pista da rodovia BR 470, na altura do km 41,5, pressionou a tubulação do duto, o que ocasionou o vazamento do gás, bloqueio imediato das válvulas e incêndio no local. Por causa do acidente, as cidades de Blumenau, Gaspar, Pomerode, Timbó e Indaial estão sem abastecimento de gás.

Os acidentes ocorreram por conta das fortes chuvas e inundações ocorridas na região de Santa Catarina. Tanto a TBG quanto a SC Gás acionaram imediatamente seus planos de contingência, com a mobilização de equipamentos, materiais e recursos humanos para efetuar o reparo dos gasodutos.

Fontes: UOL, Agência Estado e Agência Brasil

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