Novas informações agravam ainda mais o caso que tem como pivô Daniel Dantas
Rogério Giessel
Os tentáculos da corrupção parecem despontar em todas as esferas dos poderes. A situação mostra sua gravidade quando o conteúdo da gravação realizada durante uma reunião da cúpula da Policia Federal (PF), no dia 14 de julho desse ano, veio a público e revelou possíveis pagamentos de propinas a políticos, juizes e jornalistas. A ligação entre setores da imprensa e Dantas, segundo a gravação, era feita pelo ministro-chefe da Secretaria de Planejamento de Longo Prazo, Roberto Mangabeira Unger.
Em um dos trechos da gravação feita na reunião, o delegado Carlos Eduardo Pelegrini revela: “Nosso alvo é extremamente estrategista. Ao pegar o laptop (na casa dele, na hora da apreensão) estavam os manuscritos: na PF vai a pessoa tal, falar com tal. No Judiciário vai a pessoa tal. No jornalista, a gente contrata o Mangabeira para chegar nos meios de comunicação. Estava todo o organograma dele lá”, disse o delegado que também era um dos responsáveis pela operação Satiagraha.
O superintendente da PF em São Paulo, Leandro Coimbra, solicitou aos demais presentes na reunião que tivessem cuidado ao perpetrar acusações sobre a divisão da suposta propina, que alcançava o valor de R$ 18 milhões. “As organizações hoje se caracterizam por tentar entrar nos órgãos públicos. Temos que ter sobriedade nesses julgamentos”, alertou Coimbra.
“Imprensa sem-vergonha”
Ainda na reunião, o delegado da PF, Protógenes Queiroz, denunciou parte da imprensa de querer “desestabilizar” as investigações. Protógenes rotulou o jornal Folha de S. Paulo e as revistas Veja, Istoé Dinheiro e Época de “imprensa sem-vergonha”. Para o delegado, os títulos sobre o caso nesses veículos de comunicação tentavam “denegrir” o trabalho da PF. “Tentaram fazer isso no Judiciário, não conseguiram. Tentaram fazer no Ministério Público, não conseguiram. Será que aqui vão conseguir? Acredito que não”, indagou o delegado.
O diretor da Divisão de Combate ao Crime Organizado, Roberto Troncon, alegou que os esforços da PF para manter em sigilo as informações estão se mostrando infrutíferos. Prova disso, foi o vazamento da operação para a imprensa. Especificamente na Operação Satiagraha, jornalistas chegaram antes que a PF na prisão do ex-prefeito Celso Pitta. “A equipe (PF) teve que pedir licença para estacionar o carro”, disse se referindo à Rede Globo. “A Globo, que já teve preferência outras vezes e que gerou a ira da imprensa em geral. Se tivesse que dar privilégio para alguma empresa, que se desse para a pública, para a TV Cultura”, bradou o diretor.
“Mídia bandida”
Leandro Coimbra e Protógenes Queiroz também não pouparam criticas à Rede Globo. Eles não esconderam durante a reunião que a emissora é privilegiada pela Polícia Federal. “Ainda mais uma imprensa que é uma empresa privada, que vive de lucros, que é a líder de audiência. Por que temos de dar preferência para a Rede Globo?”, cutucou Coimbra.
Indignado, o delegado Prótogenes disse que um capítulo inteiro foi atribuído à imprensa no relatório. Na gravação ele chamou a imprensa que tenta desmoralizar a PF de “mídia bandida”, e acrescentou: “Eu fiz mesmo um parágrafo de mídia para movimentar a sociedade e nós refletirmos realmente a questão da mídia nos trabalhos da PF, e até refletir no Judiciário e no Ministério Público Federal também”.
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