O aquecimento global aumenta a incidência de tempestades tropicais e, por extensão, a probabilidade de raios caírem duas vezes no mesmo lugar.
Cientificamente embasada ou não, essa premissa abre a comédia "Se Eu Fosse Você 2", de Daniel Filho, sequência do filme que levou 3,6 milhões de pessoas aos cinemas em 2006.
A história do casal (interpretado por Glória Pires e Tony Ramos) que troca de corpos é reeditada agora com alterações sutis: Helena e Cláudio estão se separando quando descobrem que sua filha, Bia, está grávida.
O lançamento vultoso (330 cópias, 130 a mais do que o original), que incluiu uma série de pré-estreias em horários de sessões regulares (com mais de 200 mil ingressos vendidos), sugere que ao menos os co-produtores Fox e Globo Filmes acreditam na teoria do raio reincidente.
A produção abre um ano em que os títulos brasileiros tentam ir além dos 9,93% de participação no público total de cinema no país registrados em 2008 (até 4/12) --em 2003, a "fatia" chegou a 21,4%. Além de "Se Eu Fosse Você 2", o calendário de lançamentos traz pelo menos duas outras comédias com boa expectativa de bilheteria: "Divã" e "Os Normais 2".
"Esse gênero é o grande circo do povo, sempre foi a grande saída, o colchão do cinema mundial", diz Daniel Filho, que não se acanha em falar do filme como uma franquia: "Termos um filme como "Se Eu Fosse Você" virar um "franchising" é uma nova visão [para o cinema brasileiro]. Quando a classe média começa a se referir a ele da forma como eu ouvi, falando em "um filme bem-feito, que me agradou, vovó gostou muito, minha filha quis ver", vejo que atingimos a família toda. E não chateia as pessoas que querem algo mais requintado. É agradável, né?"
Não chatear e ser agradável é o bastante? "Há arrebatamento. Algumas pessoas me falam do filme como o brasileiro de que elas mais gostam. Eu não considero "Se Eu Fosse Você" o meu melhor. Fazendo uma comparação exagerada, não acredito que o Spielberg veja "Indiana Jones" como o seu melhor filme. Mas é o que mais franquia deu. Então, você não pode fazer nada", afirma.
"Se Eu Fosse Você 2" termina com um letreiro que anuncia outra continuação: "Se Vovó Fosse Vovô". O diretor despista: "É uma piada. Acho engraçado terminar um filme com esse tipo de ganância".
Cinema não é exibição
Filho, que se considera o cineasta brasileiro de melhor bilheteria na última década, não se abate com as críticas de que seus filmes seriam demasiadamente ligados à estética da TV e pouco afeitos à investigação de linguagem: "Nunca experimentei linguagem na minha vida, não sei exatamente como se faz isso. Gosto do cinema bem narrado, de entender a história que estou vendo. Não gosto de filme de experimentação. Godard, para mim, acabou no primeiro. Não uso o cinema como uma exibição pessoal minha. Uso para montar uma história."
Que seja do agrado da plateia, bem entendido. "Tenho preocupação com público, sim. O que é feito com dinheiro público? Um filme de que o brasileiro tem de gostar, e não o festival de não sei onde. Quando vejo que há pelo menos dois filmes brasileiros entre os dez mais vistos, fico satisfeito. É isso que é importante."
Vox populi
Tony Ramos e Glória Pires defendem a vocação popular do cinema de Filho. "A gente sabe que se a crítica ficar só dizendo "é bacana", não vai dar certo, né? Mas quem vai ao cinema é o público, é ele que tem o poder de decidir o que vai lhe fazer bem", diz Pires. "Acho que há uma reserva muito grande [por parte da crítica] com o fato de o Daniel ter sido uma pessoa tão importante na TV. No cinema, ele está envolvido com os nossos maiores sucessos. Isso não é importante? Claro que é!"
Para Ramos, o que não se pode é ser "blasé à comunicação": "Não é por que algo se comunica e é eleito pelo povo que não vai ser legal. Tem cara que chega e fala: "Fui ver um filme polonês" "E o que que é?", pergunto. "Bicho, sabe que eu não sei direito?" Aí fica todo mundo posando. Quero que me contem uma história! As experimentações são muito bem-vindas, mas não fique contando com elas para obter sucesso".
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