Acidentes domésticos com crianças aumentam nas férias

Nesse período, ocorrências crescem mais de 50% nos hospitais

Sergio Sestrem
reportagemjoinville@gmail.com

Férias, sol, calor. Essa é a época mais aguardada por adultos e principalmente crianças que extravasam sua energia na estação mais quente do ano. Período de diversão, mas também de atenção redobrada porque é nas férias que o numero de acidentes domésticos envolvendo crianças aumenta consideravelmente.

O menino Guilherme Pires, 10 anos, ajudou a compor as estatísticas do Ministério da Saúde, que em pesquisa recente revelou que, dos 10.988 atendimentos a crianças nessa faixa etária, 5.540 (50,4%) foram provocados por quedas.

Na semana passada o garoto brincava em casa, subiu em um muro e caiu, sendo levado ao Hospital Infantil onde foi atendido e teve que ficar em observação por algumas horas. "Eles são muito espoleta", afirmava já mais tranqüila a costureira Guilmara Pires, 36 anos, mãe do menino.

O Hospital Infantil de Joinville já sente os reflexos do aumento desse tipo de atendimento. Neste inicio de ano, já foram registradas várias ocorrências com crianças. "A grande maioria delas são relacionadas a acidentes domésticos que poderiam ser evitados em casa", explica o cirurgião pediátrico Joaquim Leite Neto.

Mas não são somente as quedas que aumentam nesse período: as intoxicações, queimaduras e outros acidentes são frequentes nessa época do ano. "Um dos acidentes mais comuns são crianças que prendem o pé no raio da bicicleta chegando a causar muitas vezes fratura exposta e amputação de dedos", explica o médico.

Leite Neto adverte também sobre ambientes incompatíveis com crianças: "Cozinha não é lugar para crianças, pois concentra objetos como copos e pratos, que podem quebrar e causar ferimentos, além de talheres, estruturas que são cortantes ou quebradas, sem falar em panelas quentes", lembra.

O médico também não esconde sua indignação com a imprudência de pais que expõem diariamente crianças a situações de risco. "Chega a causar revolta a irresponsabilidade de pais que não põem o cinto de segurança nas cadeiras nas crianças no banco de trás. Aquilo ali é um projétil engatilhado que vai disparar, podendo gerar vários ferimentos na criança. Tudo é prevenção", finaliza.

Quedas são ocorrências mais frequentes

As quedas representam a principal causa de atendimentos a crianças de zero a nove anos nas unidades de urgência e emergência do Sistema Único de Saúde (SUS). A pesquisa do Ministério da Saúde revelou que, dos 10.988 atendimentos a crianças nessa faixa etária, 5.540 (50,4%) foram provocados por quedas. Os dados mostram ainda que o perigo nem sempre está nas ruas. A maioria das quedas, 3.838 (69%), ocorreu dentro da residência das vítimas.

Do total de quedas registradas pela pesquisa, 2.626 (47%) foram de crianças que caíram do mesmo nível, ou seja, foram causadas por tropeções, pisadas em falso ou desequilíbrios. Para a coordenadora Deborah Malta, as quedas são freqüentes e naturais durante a infância. "A descoberta faz parte do processo de crescimento e desenvolvimento da criança. Ter contato com tudo que há de novo, experimentar, brincar, correr. Elas não têm noção de risco ou perigo. Por isso, é importante ter sempre um adulto por perto para evitar acidentes mais graves", alerta.

A parte do corpo mais atingida foi a cabeça com 2.445 (44%) ocorrências, seguida pelos braços com 1.720 (31%) e pernas com 760 (13,7%) registros. As lesões mais freqüentes foram os cortes e lacerações com 1.426 (26%) notificações. Em seguida, estão as contusões com 1.234 (22%) e fraturas com 955 (17,2%).

Deborah Malta explica que, em crianças pequenas, as chances de um ferimento mais grave são maiores, pois a estrutura óssea, ainda em processo de formação, não está completamente calcificada. Uma pequena queda pode levar a um acidente muito grave. A coordenadora cita como exemplo a queda de um berço, que pode provocar até um traumatismo craniano.

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