Eles mudam, mas a Lia e a lei não

Em 15 anos como fiscal sanitarista, Lia Abreu enfrenta desafetos com a lei e a coragem

Sergio Sestrem
reportagemjoinville@gmail.com

Ela já foi professora, mas ganhou notoriedade nos últimos anos como fiscal da Vigilância Sanitária de Joinville. Desde 1993 é funcionária de carreira do município, há onze anos é a responsável pela fiscalização de aproximadamente 700 estabelecimentos de ensino. Graças à atuação firme da fiscal sanitarista Lia Renata Abreu a opinião pública joinvilense tomou conhecimento de algumas mazelas que imperavam na estruturas do poder público municipal e estadual.

Sua atuação, interditando escolas em condições de precariedade e abandono, causou a ira em alguns e por isso mesmo, nestes últimos anos, gerou muitos desafetos. Recebeu ameaças de figurões da política e constantemente sofria tentativa de censura de seus superiores. Apesar disso tudo, Lia não se intimidou.

Uma dessas ameaças, denunciada por ela ao Ministério Público Estadual, levou a polícia a desmantelar uma rede de corrupção que sangrava os cofres públicos da combalida Secretaria de Saúde de Joinville, exatamente há um ano. O preso era Norival Silva (PSDB) eminência-parda da controvertida administração tucana do ex-prefeito Marco Tebaldi.

Meses antes de ser preso pela Deic, Norival Silva havia proibido a fiscal de interditar escolas sem o seu consentimento. "Me lembro que quando falei pra ele que procurei o Ministério Público, ele debochou de mim", diz Lia. "Meses depois, ele foi preso por corrupção", conta a fiscal. "Não fosse a atuação do Ministério Público, eu não estaria mais nessa função", revela.

Dois anos antes o governador Luiz Henrique da Silveira (PMDB), incomodado com as autuações de Lia, tentou desqualificá-la pelas páginas de jornais. "Acionei a Justiça. Pedi um direito de resposta e publiquei a verdade", diz. "Eu não me intimido, trabalho de acordo com a lei", enaltece novamente a fiscal.

"Eu cumpro a lei.
Estou aqui para isso"


Para Lia, o que se vê é que as autoridades públicas, que deveriam zelar para que o cidadão tenha conforto e segurança, agem contráriamente às promessas feitas em campanha. Segundo Lia, eles tentam exercer pressão. "Mas comigo não conseguiram e não vão conseguir", avisa. "Várias autoridades respondem processos ou já foram condenadas. Ou você se impõe, ou você recua e não faz nada. A lei é para todos, indistintamente e está aí para ser cumprida, só isso", aponta a fiscal.

"Quantas escolas eu interditei com vasos sanitários quebrados, descarga que não funcionava, ambientes insalubres, enumera.

A fiscal também percebe um sucateamento deliberado da Vigilância Sanitária no município. "Para alguns é vantagem a Vigilância Sanitária não estar nas ruas. Ano passado eu só tinha carro duas vezes por semana. Isso quando ele não quebrava ou ficávamos sem motorista", afirma. "Por falta de estrutura, muitas escolas deixaram de ser fiscalizadas. Espero que este ano seja diferente".

Lia Renata demonstra o mesmo entusiasmo de 15 anos atrás. "Sou apaixonada pelo que eu faço, adoro o meu trabalho. Eu cumpro a lei. Estou aqui para isso. Acontece que quem é correto e digno não é reconhecido, é repudiado". Mas nada tira o ânimo e o otimismo da fiscal.

Um comentário:

Dutra disse...

Desde 2006 com a edição da portaria 399 que considerava o art.198 da constituição federal e da lei 8080 que criou o sistema único de saúde ( SUS ), foi instituido o pacto pela saúde , pacto este com o aval do ministério da saúde, conass ,conasems e por com seguinte os comites intergestores tri e bipatirte. dentro deste pacto consta um plano nacional de reestruturação e de montar estratégias para o setor de vigilância sanitária incluindo recursos provenientes do governo federal, recursos estes que chegaram com a edição da portaria 1998 de 21 de agosto de 2007, verba esta que vem sendo depositada no fundo nacional de saude, na transferencia fundo a fundo desde julho do ano de 2007, fico surpreso em saber que a vigilância não tem nem carro para realizar suas tarefas , pergunto aonde estão sendo alocados as verbas federais então? com a palavra os antigos getores municipais.