Mais de 250 crianças já morreram em conflito em Gaza, diz ONU

Cerca de um terço das vítimas do conflito entre Israel e o Hamas são crianças, de acordo com estatísticas divulgadas pela ONU na última quinta-feira. Segundo estes dados, 257 crianças morreram e 1.080 ficaram feridas desde que a ofensiva israelense em Gaza começou, em 27 de dezembro.

Ann Veneman, diretora-executiva da UNICEF, a agência da ONU para crianças, disse que a suspensão das atividades da organização em Gaza, após ataque israelense a um comboio de ajuda humanitária nesta quinta-feira, deve piorar a situação das crianças.

"Isso só aprofunda uma já criítica situação humanitária e põe as crianças em ainda mais risco. A distribuição de comida, água e remédio não pode ser impedida", afirmou.

"Crianças estão morrendo e se ferindo diariamente como resultado da operação militar", continuou Veneman. "Isso é inaceitável e todos os esforços devem ser feitos para garantir que as crianças recebam a proteção que é direito delas e nosso dever coletivo".

Nesta sexta-feira, oficiais da ONU disseram que as atividas humanitárias serão retomadas "o mais rápido possível" em Gaza, depois de o Ministério da Defesa de Israel ter dado garantias de que os funcionários da organização estarão protegidos.

Segundo a porta-voz da ONU, Michele Montas, as Forças Armadas israelenses "lamentaram profundamente" o ataque ao comboio que forçou a interrupção das atividades da agência.

Crimes de guerra
A Alta Comissária de Direitos Humanos da ONU, Navi Pillay, afirmou nesta sexta-feira que um incidente envolvendo soldados israelenses na Faixa de Gaza tem todos os elementos de um crime de guerra. Em entrevista à BBC, Pillay afirmou que o relato da Cruz Vermelha de que militares israelenses não teriam ajudado civis feridos em ataques na região deve ser alvo de uma investigação independente.

Segundo a Cruz Vermelha, seus funcionários presenciaram cenas "chocantes". Em um incidente, uma equipe médica disse ter encontrado pelo menos 12 corpos em uma casa destruída por bombardeios em Zeitun, ao sul da Cidade de Gaza.

Junto aos cadáveres, segundo a Cruz Vermelha, estavam quatro crianças apavoradas, muito fracas para conseguir levantar, sentadas ao lado dos corpos de suas mães.

A Cruz Vermelha acrescentou ainda que os agentes humanitários foram impedidos de chegar ao local por dias após o bombardeio.

"O incidente que a Cruz Vermelha descreveu é muito preocupante, pois tem todos os elementos que constituem um crime de guerra", disse a comissária da ONU em Genebra.

"Existe a obrigação de proteger os feridos, de tratar os doentes, de levá-los para um local seguro e aqui, segundo a Cruz Vermelha, soldados israelenses não fizeram nada por essas quatro crianças, que estavam fracas demais para se mover", acrescentou.

Obrigações
Apesar de também condenar os ataques de foguetes do Hamas contra civis em Israel, a comissária de direitos humanos da ONU destacou que as autoridades israelenses não podem ignorar suas obrigações previstas nas leis internacionais.

"Quero destacar que, embora os ataques indiscriminados com foguetes contra alvos civis em Israel sejam ilegais, a responsabilidade de Israel de cumprir suas obrigações internacionais é completamente independente da obediência do Hamas às suas próprias obrigações de acordo com a lei internacional", disse.

O representante de Israel no encontro em Genebra, Aharon Leshno-Yaar, acusou o Hamas de aterrorizar israelenses e palestinos.

"O Hamas usa a população palestina como escudos humanos, se escondendo em escolas, mesquitas e casas na Faixa de Gaza e transformando-as em depósitos de munição", afirmou Leshno-Yarr. "Para o Hamas, um civil não é mais do que um método sofisticado e eficiente de guerra e defesa."

O representante palestino na reunião, Ibrahim Khraishi, acusou os líderes israelenses de iniciar uma guerra para conseguir vantagens eleitorais.

"Desde o início da recente agressão contra a Faixa da Gaza, 14 dias atrás, sem parar e sem piedade ou moralidade, o fluxo de sangue e partes dos corpos de crianças, mulheres e civis palestinos inocentes se transformou, infelizmente, em parte da campanha eleitoral dos líderes israelenses", disse Khraishi.

Sem acordo
Com a única abstenção dos Estados Unidos, o Conselho de Segurança adotou uma resolução que pede a declaração de um cessar-fogo imediato em Gaza, a retirada das tropas israelenses e a entrada sem impedimentos de ajuda humanitária ao território palestino.

No entanto, o primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert, rejeitou a resolução e disse que a ofensiva na Faixa de Gaza continuará até que o Exército complete sua missão.

"Israel nunca esteve de acordo em que terceiros determinem seu direito de defender sua cidadania", afirma Olmert, em comunicado, horas depois da chamada das Nações Unidas para o fim do conflito em Gaza. O primeiro-ministro acrescenta que "o Exército continuará sua operação para defender a população de Israel até que complete as missões.

O Hamas também não aceitou o documento, elaborado pelo Reino Unido em colaboração com a França e os países árabes, embora o veja como prova do fracasso da ofensiva militar israelense em Gaza. "Este fracasso é o que gerou a resolução", disse, em Beirute, o dirigente Osama Hamdan, em declarações à imprensa local.Para Hamdan, a resolução do Conselho de Segurança "não leva em conta o interesse palestino e não fala nem da suspensão do bloqueio nem da abertura das passagens fronteiriças" em Gaza.A atual escalada de violência na região entra hoje no 14º dia sem que a diplomacia internacional tenha conseguido uma solução que convença as partes a deixar as armas. Segundo o correspondente do iG em Israel, Nahum Sirotsky, o cessar-fogo em Gaza ainda está distante.

Com Agências Internacionais

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