Não deveriam”, diz preocupado Charles Narloch”, diretor executivo da Fundação Cultural de Joinville
Ele sabe da dificuldade de aprovar uma nova lei de patrimônio na cidade que sofre com a especulação imobiliária e vê seu prédios antigos tombarem diariamente.
A discussão sobre a derrubada da Casa Amarela, em 2008 deu chance a grandes debates sobre a questão da preservação do patrimônio arquitetônico em Joinville. Determinar se aquela era apenas uma casa velha ou imóvel com valor histórico dividiu opiniões. No fim, a casa caiu e a discussão permaneceu silenciada até a última semana quando aconteceu a primeira edição do Fórum Municipal de políticas públicas: Patrimônio, Museus, Espaço de Memória e Turismo, seminário gratuito que aconteceu no dia 2 de abril no Teatro Juarez Machado.
Ali representantes do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Ministério da cultura, do Turismo, Instituto Brasileiro de Museus, Promotur, Fundema e representantes do empresariado se reuniram para buscar soluções. Mesmo assim o caminho para a elaboração de uma lei definitiva de patrimônio continua distante.
Se há alguns anos atrás, visitar Joinville era sinônimo de realizar uma viagem no tempo, hoje a pitoresca cidade deu lugar a um grande pólo industrial com forte potencial para o mercado de produtos e serviços, onde o futuro é promissor e promete ainda mais, com a chegada do novo campus da Universidade Federal e de uma nova fábrica da General Motors.
Em busca de expansão, a região central avança por entre os bairros mais próximos, mudando o cotidiano e a paisagem dos moradores. O estilo enxaimel original das residências mais antigas praticamente desapareceu e muitas outras casas dos séculos 19 e 20 estão ameaçadas pela especulação imobiliária.
Para tentar conter esta tendência e ainda preservar o conjunto arquitetônico tradicional da cidade, foram criadas as UIPs (Unidade de Intenção de Preservação), uma lista que conta atualmente com cerca de 1.200 casas onde a Fundação Cultural de Joinville acena com a intenção de tombamento. Imóveis incluídos nesta lista ficam impossibilitados de serem demolidos ou realizar reformas sem a autorização da Fundação Cultural.
Primeira tentativa
Em busca de vantagens para proprietários de imóveis incluídos nesta lista foram encaminhados pela Fundação Cultural e pela Comissão de Patrimônio público, em julho de 2007, dois projetos de lei para a Câmara, já com o o parecer jurídico da prefeitura altamente positivo que recomendava a aprovação. Estes projetos tramitaram durante um ano, até 2008, quando foi marcada uma audiência pública. Naquele momento as entidades de classe como a Acij e a CDL, defendendo o ponto de vista do empresariado, solicitaram a retirada destes projetos de lei, que acabaram sendo vetados pelo então prefeito Marco Tebaldi, o que impediu a discussão do tema na Câmara.
Derrubadas ou abandonadas
Mesmo com a possibilidade de sofrer processos judiciais, muitos proprietários que pretendem lucrar com venda de terrenos onde existem imóveis declarados Unidade de Interesse de Preservação efetuam a demolição sem autorização. Há quem diga que a multa, que pode variar entre R$ 80 e 150 mil, não influenciea na decisão do proprietário em preservar o imóvel.
Outros tantos que têm em mente a venda, recorrem a uma estratégia mais sutil, que é abandonar o imóvel e esperar que o mesmo caia por falta de manutenção. Não raro, os próprios donos acabam depredando aos poucos para acelerar este processo e tentar burlar a lei.
Entre os imóveis derrubados sumariamente e já notificados, estão dois respectivamente, na rua XV de Novembro, próximo do cruzamento com a rua Aquidaban, e na rua Visconde de Tunay, em frente ao hotel Bourbon, cujo proprietário não vive em Joinville.
Soluções
Maria Claudia Lorenzetti Correa, coordenadora de Patrimônio da Fundação Cultural de Joinville conta que a Fundação pretende reelaborar o projeto que criará um inventário do patrimônio cultural de Joinville em substituição as UIPs, que seriam totalmente reavaliadas, incluindo-se ai benefícios a proprietários de bens inventariados.
Dedução de impostos, isenção taxas e alvarás, ISS, e a troca do potencial construtivo, mecanismo já previsto na legislaçao brasileira das cidades. Em que o proprietário poderia vender o potencial construtivo do local.
Já o presidente da Fundação Cultural, e atual presidente da Comissão de Patrimônio, Silvestre Ferreira, é ponderado e sabe que “não se tiram soluções da cartola”. Por isso serão realizadas reuniões em que toda a classe empresarial e interessados poderão discutir e contribuir para a elaboração destas novas leis de preservação. “O fórum foi apenas um começo para as discussões”, confirma.
Greve dos servidores da Prefeitura 2011
Há 13 anos
Um comentário:
O assunto é delicado e muito complexo, certamente.
Mas já estamos atrasados, e muito, na tomada de uma decisão e de um rumo quanto ao nosso Patrimônio Histórico. Nasci em Joinville, aqui me formei e casei. Depois, por motivos profissionais fiquei 32 anos fora daqui, voltando há pouco, em 2007. Fiquei estarrecido com a Joinville que encontrei. A primeira coisa que fiz, junto com minha mulher, foi percorrer a rua do Príncipe, caminho que percorria todos os dias na minha juventude, em direção ao Colégio Marista. Sempre foi nossa principal rua. Era uma rua bonita. A praça Nereu Ramos (a do Correio) tinha árvores...e poucos dos prédios antigos era deformados por out-doors de mau gosto. E o que se vê hoje? Magníficas fachadas escondidas por tapumes de propaganda. Lojas de R$ 1,99. Pinturas escurecidas por fungos ou desmanchando. Belas portas de madeira de lei trabalhadas, trocadas por vidro plano...Um desastre!! Uma ofensa à nossa história e nossa memória!! Cito apenas a fachada do antigo Hotel Joinville...uma lástima atualmente.
Imaginem todos aqueles prédios e fachadas recuperados e limpos da sujeira publicitaria...que belo cartão postal seria.
E a nossa rua das Palmeiras? Virou ponto de tráfico de crack...
Dá vontade de chorar.
Nós joinvilenses não somos isso. Sempre fomos um povo cultivador das nossas tradições e da nossa história, belíssima aliás.
O que está havendo gente? Onde está a nossa cultura? Onde estão os centros tradicionalistas alemães? Onde está nossa comida típica?
E o que dá vontade de chorar mais ainda, é que a única discussão a respeito foi em torno da famosa "casa amarela", cujo valor histórico era altamente questionavel.
Vamos focar no que interessa minha gente. Primeiro, vamos salvar a rua do Príncipe. Urgente, antes que seja tarde demais.
Depois estabeleçamos novas prioridades e sigamos em frente. Mas não podemos mais ficar parados.
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