Lama do Cachoeira vira arte

Garrafas pet, isopor, madeira, entre outras sucatas encontradas no rio servem para as criações da artista plástica Márcia Camargo.

A lama fétida e contaminada do rio Cachoeira serve de principal matéria-prima para uma exposição no mínimo inusitada, que teve início nesta quarta feira (25) no espaço da agência central do correio na rua Princesa Isabel. O cidadão que comparecer ao correio encontrará as 13 obras, entre pinturas, esculturas e instalações da artista plástica Márcia Camargo, que levou até a água do rio Cachoeira para a exposição “Refletindo sobre o rio”.

Garrafas pet, isopor, madeira, entre outras sucatas encontradas no rio também servem para suas criações. Em um dos trabalhos, que está disposto no chão, diversos mapas de Joinville retirados de listas telefônicas servem de tapete para um penico que abriga a água do rio, que segundo pesquisa da artista junto a órgãos ambientais, detectou 75% de coliformes fecais. “O penico é centenário, pertenceu à mãe da artista octogenária Ilka Behnke e podemos notar que não há um pedaçinho de mapa da cidade onde não tenha um rio”.

A artista que além de vizinha do rio faz parte da ONG Instituto Viva o Cachoeira e conta que desde que se lançou nas artes em 2006, trabalha com a temática ecológica, e mais especificamente o rio Cachoeira. Foi ela que em 2008 plantou um boneco na margem do rio com os dizeres: Relaxa e goza. Márcia conta que em suas freqüentes palestras onde apresenta seus trabalhos a estudantes a reação é de espanto e nojo, ao descobrirem qual a matéria-prima de suas obras. “É caca! Minha, sua e de todos nós que poluímos o rio” explica.

Na mostra ainda existem pinturas, cujos pigmentos e tonalidades são extraídas do lodo, uma instalação em forma de piscina que simula o rio, e onde flutua um pedaço de isopor também coletado no rio.

O convite para a exposição surgiu durante o evento de lançamento do selo filatélico em homenagem ao jacaré Fritz, que também é retratado na exposição. Ele está em uma fotografia afixada em um painel também recoberto de lodo.