Acidentes com motos tornaram-se epidemia em Joinville

Só no ano passado, morreram 148 pessoas na cidade

O grande número de acidentes de trânsito está causando apreensão no setor de traumatologia do Hospital Municipal São José de Joinville. No Ministério da Saúde, a ocorrência já está sendo classificada como epidemia. Dados divulgados esta semana apontam uma outra realidade cruel no município: das internações e atendimentos a pacientes vítimas de acidentes de transito, 65% são prestados a condutores de motocicletas.

A escalada dos acidentes envolvendo motociclistas não para de aumentar. Segundo relatório da Sociedade Corpo de Bombeiros Voluntários de Joinville, em 2005 foram registrados na cidade 2.830 acidentes com este tipo de veículo, em 2006 somaram 3.138 acidentes, em 2007 foram 3.210, em 2008 foram 3.333 e no período de janeiro ao dia 23 de março deste ano 678 pessoas haviam colidido pilotando moto.

Esse grupo é formado por homens em sua grande maioria e jovens, segundo pesquisa do Ministério da Saúde, que apontou crescimento de 2000% em 16 anos no número de mortes envolvendo este tipo de veículo em todo o país. De acordo com o estudo, em 1990, haviam sido registradas 300 mortes por acidentes de moto. Em 2006, o numero pulou para 7 mil.

O aumento do número de acidentes envolvendo motocicleta em Joinville está diretamente ligado à grande quantidade comercializada deste veículo. Números divulgados pelo comércio local apontam que a cada 1 hora e doze minutos uma moto é vendida na cidade. “Por ser mais barata que o automóvel, a moto se tornou uma opção muito mais acessível ao consumidor, por isso virou um meio de trabalho para muitos”, comenta a assistente social Rosana Aparecida Barbosa, do Núcleo de Prevenção de Violência e Acidentes, da Secretaria Municipal da Saúde.

Rosana explica que a popularização das motos e o consequente aumento no número de acidentes em todo o país levou o Ministério da Saúde a publicar há oito anos a portaria 737, como forma de tentar reduzir o avanço de acidentes e mortes violentas. “O fato é que essas violências, incluindo os acidentes de trânsito - se tornaram questão de saúde pública”, explica.

A cada três horas, uma moto se envolve em acidente

Um relatório elaborado pelos Bombeiros Voluntários de Joinville aponta que desde o início deste ano a cada 3 horas uma moto se envolve em acidente em Joinville, um número alarmante, segundo a assistente social Rosana Barbosa. Ano passado, a proporção foi ainda mais preocupante: a cada 2 horas e meia um acidente envolvendo motociclista ocorria na cidade.

De acordo com o relatório do Núcleo de Prevenção de Violência e Acidentes, da Secretaria Municipal da Saúde, o perfil epidemiológico de Joinville aponta que as 148 mortes ocorridas no trânsito representam 15% do total de óbitos em 2008, sendo que destes, 28% estavam relacionados a acidentes com moto. No município, as mortes no trânsito ficam atrás somente dos óbitos causados por doenças circulatórias (27%) e neoplasias (20%),

Na sua maioria os condutores de motocicletas pertencem à faixa etária dos 18 aos 40 anos, são homens e estudaram até o ensino fundamental. “Há poucos dias, acompanhei uma entrevista sobre saúde pública que mostrava que a violência é maior entre esse público, de forma que esta é uma fatia da sociedade que está sumindo, nós estamos perdendo essa juventude para uma espécie de guerra”, declarou a assistente social Rosana Barbosa.

Causa é comportamental, diz praticante

O integrante do Motoclube Liberdade, Francisco Rodrigo Miranda, tem uma explicação direta para o aumento no número de acidentes envolvendo motociclistas em Joinville. Para ele, as causas se resumem a três fatores: imperícia, imprudência e negligencia.

Associado ao Motoclube Liberdade há aproximadamente 10 anos, Francisco dá palestras em escolas sobre prevenção de acidentes e aponta um dado preocupante. Segundo ele, a maioria dos acidentes ocorre com os chamados avulsos (motoqueiros de primeira viagem ou que raramente utilizam o veículo). “Eles compram a moto, vão até uma autoescola e em poucos dias já estão nas ruas expostos aos perigos”, explicou.

Para ele, a autoescola não prepara suficientemente o aluno para as armadilhas da rua. “Nas aulas práticas, tudo é perfeito, piso sem irregularidade, sem movimentos de outros veículos, sem passagem de pedestres ou ciclistas”, raciocinou.

Francisco classifica o trânsito como muito complicado e aponta a experiência como um fator aliado na redução dos riscos de acidentes. “Se compararmos os avulsos com os motoboys, veremos que é raro haver acidentes com os últimos”, comentou o motoqueiro.
Francisco dá uma dica aos amantes pilotos de primeira viagem: “Procurem pilotos experientes para dar dicas sobre pilotagem e mantenham um trajeto regular para aprender a característica do transito de cada local”, finalizou.

Hospital gasta R$ 60 milhões por ano com acidentados

Os traumas decorrentes de acidentes de trânsito são os atendimentos que mais lotam os leitos do Hospital Municipal São José e os que mais consomem recursos também. “O acidente é algo não intencional, mas é perfeitamente evitável”, afirma a assistente social Rosana Barbosa, do Núcleo de Prevenção de Violência e Acidentes, da Secretaria Municipal de Saúde.

Levantamento realizado pelo Hospital Municipal São José apontou que, em média, cada paciente vítima de acidente com moto permanece oito dias internado, a partir desse momento o paciente ocupa o leito hospitalar como clínica geral.

Depois de um período de internação que pode variar de 8 a 118 dias, o sobrevivente de um acidente motociclístico terá pela frente um período de recuperação, que irá variar de um a seis meses, podendo ultrapassar os 18 meses em casos mais graves.

Os gastos diários de uma internação giram aproximadamente em torno de R$ 6 mil reais ao hospital. Também implica o consumo de próteses, medicamentos e fisioterapias. No entanto, em muitos casos, a recuperação não é total: em 16% dos casos as vítimas guardam seqüelas que as tornam inválidas temporariamente, sendo afastadas do mercado de trabalho por um período médio de seis meses, sendo que 5% dessas vítimas tornam-se inválidas permanentemente.

De acordo com estudos realizados pelo Hospital São José, os gastos anuais com acidentes envolvendo motociclistas são estimados em R$ 60 milhões.

“O custo é alto para a sociedade como um todo”, lembrou Rosana.

9 comentários:

Anônimo disse...

Eu gostaria de saber quem disse aos "motoqueiros" que eles tem blindagem? Que eles podem ultrapassar mesmo quando existe "tartarugas" dividindo as faixas forçando que outros veículos saiam da frente, ou que o que está do lado se vire para arrumar um espaço para ele entrar? Querem ver tudo isso? Dêem uma passada pela rua guanabara proximo a Sociedade Dallas " se é que ainda existe" nas horas de pico? É bom lembrar aqui que não são apenas eles que fazem isso, tem muito motorista fingindo não ver o carro na pista contrária pra tirar vantagens...

Anônimo disse...

Parabéns pela reportagem. Na minha opinião a conscientização também passa pelas revendas. Embora não se possa cercear o direito à compra, e o comércio não vai deixar de vender, as leis poderiam ser mais rigorosas no sentido de se exigir mais experiência de pilotagem no momento da aquisição do veículo. Hoje, é impressionante a facilidade de compra e a inexperiência de muitos motociclistas de primeira viagem. Sobram, então, as críticas aos motociclistas responsáveis, que são confundidos com 'motoqueiros'. Que tal a Câmara de Vereadores pensar sobre o assunto e encaminhar uma discussão em nível federal, pois essa é uma questão que deve ser regulamentada pelo Congresso?

Anônimo disse...

Parabéns pela reportagem. Na minha opinião a conscientização também passa pelas revendas. Embora não se possa cercear o direito à compra, e o comércio não vai deixar de vender, as leis poderiam ser mais rigorosas no sentido de se exigir mais experiência de pilotagem no momento da aquisição do veículo. Hoje, é impressionante a facilidade de compra e a inexperiência de muitos motociclistas de primeira viagem. Sobram, então, as críticas aos motociclistas responsáveis, que são confundidos com 'motoqueiros'. Que tal a Câmara de Vereadores pensar sobre o assunto e encaminhar uma discussão em nível federal, pois essa é uma questão que deve ser regulamentada pelo Congresso?

Anônimo disse...

Entendo que a falta de experiência no trânsito possa contribuir para o aumento do número de acidentes com motos, porém, moro em uma esquina movimentada de Joinville e posso dizer sem medo de errar que mais de 90% dos acidentes que aqui presenciei, os pilotos de motocicletas não mostraram falta de experiência, e sim, exesso de confiança, pois sempre estavam em alta velocidade, furando sinal e ultrapassando onde não deveria, sempre querendo achar um espaço na marra...

Anônimo disse...

O QUE IMPERA ENTRE OS MOTORISTAS E PILOTOS DE MOTOCICLETAS DE JOINVILLE, NÃO É FALTA DE EXPERIÊNCIA, E SIM, FALTA DE EDUCAÇÃO... EM TODOS OS SENTIDOS...

Anônimo disse...

Só para registro...

Na noite de sabado passado, quando trafegava pela A. Procópio Gomes, no Bucarem, um motoqueiro que trabalha como entregador para a Oficina das Pizzas, furou o sinal, quase bateu em meu carro, e pelo fato de eu ter dado um leve toque na buzina, pois vinha em minha direção sem olhar, emparelhou com meu carro para tirar satisfações. São esses os pilotos sitados pela reportagem como pessoa que deve ser procurada para ouvir uns "toques" de como se comportar no trânsito???

Anônimo disse...

Tenho moto e carro, pela vantagem ando mais de moto. E como usuário de carro sei que temos em nossas ruas muitos motociclistas (não motoqueiros) que arriscam a vida por poucos segundos de vantagem na entrega do que carrega. Nunca provoquei acidentes, seja de moto ou de carro, mas canso de ser fechado por carros... a gente acaba aprendendo com o calejar do dia-a-dia a prever comportamentos desleichados de quem troca de pista como quer, de quem ultrapassa achando que moto (por ser menor) cabe em qualquer lugar (calçada por exemplo), de quem acha que "pisca" eh direito adquirido de conversão e que espelho serve apenas pra retocar a maquiagem... Quando ia pra Univille, todo dia era fechado por alguém... inclusive por motoristas profissionais (de ônibus) e outros veículos de placa vermelha. Já fui ao chão 3 vezes por ser fechado. Nestas 3 vezes tive meus prejuizos materiais ressarcidos por não ser minha culpa, mas graças a Deus nunca (e a baixa velocidade) me machuquei com gravidade. Em outras 4 ocasiões fui abalrroado na via por quem não aprendeu ainda que tem que respeitar o espaço dos outros ou que nao admite que seu carro tem "pontos cegos". E tenho dito...

Anônimo disse...

SERÁ QUE É TÃO DIFÍCIL TIRAR A CARTEIRA DE HABILITAÇÃO PRA MOTO QUANTO PRA CARRO?
ACHO QUE ESTÁ NA HORA DE DIFICULTAR E RECICLAR CERTOS MOTOQUEIROS QUE NÃO RESPEITAM AS LEIS DE TRÂNSITOS E PRINCIPALMENTE OS PEDESTRES E OUTROS MOTORISTAS...

Anônimo disse...

Caro Flávio S.

Condutores de motocicletas que respeitam as leis de transito e que sabem que dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço, esses sim chamamos de motociclistas, mas pessoas que acham que a sensação de libertade tanto se falada que se tem quando pilota-se uma moto, significa liberdade para não respeitar leis básicas de transito como sinal vermelho, não ultrapassar pela direita, não parar sobre faixa de pedestres, e outras cosinhas mais sempre serão MOTOQUEIROS... e TENHO DITO.