O BIAL DE JOINVILLE, OU A JOINVILLE DE ALBERTO BIAL?

O técnico Alberto Bial chegou a Joinville em 2005 com a missão de profissionalizar o basquete da cidade. Fez mais. Além de colocar a cidade novamente no cenário nacional, transformou jovens promessas em verdadeiras estrelas da modalidade

Por Juca Miguel

O paulista Alberto Bial fez das quadras do basquete seu segundo lar. Aos 14 anos, começou a atuar como atleta. Como jogador, já defendeu Fluminense, Flamengo, Municipal e Mackenzie. Aos 30 anos, a responsabilidade aumentou passando de comandado a comandante.

Há quatro anos à frente da equipe de basquete profissional de Joinville, Bial está vivendo um dos melhores momentos de sua carreira como treinador. Em meio aos treinamentos visando à semifinal contra o Flamengo pelo Novo Basquete Brasil, o técnico se diz feliz, agradecido e identificado com a cidade. Após o treino em quadra na manhã ensolarada do último domingo (24), no Ginásio Ivan Rodrigues, Alberto Bial recebeu nossa equipe de reportagem para um bate-papo informal e sem roteiro prévio.

O convite
Eu nunca vi, em nenhuma das cidades que eu passei a preocupação com a educação que se tem em Joinville. E eu vislumbrei a possibilidade de fazer o basquete que sempre sonhei. Meus quatro anos em Joinville podem ser definidos em duas partes muito bem definidas. Quando eu vim contratado pela prefeitura municipal, eu disse: Eu gosto de fazer basquetebol não só no rendimento, porque eu não vejo nenhuma modalidade esportiva, sendo feita da maneira que a gente acha que é melhor, que não tenha o rendimento dissociado de formação, base e basquete social.

O início
Nos dois primeiros anos, realizamos uns 20 eventos de basquete de rua, que possibilitaram a massificação do esporte na cidade. Nestes dois anos, o social e a formação ainda ficaram um pouco abaixo do que a gente pretendia assim como o rendimento, mas é sempre importante o início, o primeiro passo.

Lutando por um sonho
Em 2007, quando a prefeitura resolveu acabar com a equipe de basquetebol, eu já tinha na cidade um apelo maior, já tinha conhecimento das pessoas, das empresas. Você até questionou em sua coluna: “o que que o Bial está fazendo nesta cidade, já que não tem basquete?” Eu estava correndo atrás de criar subsistência através do dr. Ricardo Roessler, que foi quem me possibilitou ficar seis meses batalhando. Então inscrevemos o time em todos os campeonatos, Sul-brasileiro, Jogos Abertos, Campeonato Catarinense e Taça SC e conquistamos os quatro títulos.

Dificuldades
A gente vinha de uma dificuldade muito grande e a Univille naquele momento me deu a possibilidade de eu sustentar durante aqueles seis meses em que muitos perguntavam o que eu ainda estava fazendo na cidade. Aí veio o milagre da mãe Abigail.

A visão social
No momento em que a campanha em prol do Lar Abigail foi divulgada na TV Globo, surgiram mais parceiros e Joinville passou a ter uma importância muito grande no cenário nacional, onde eu passei a ser identificado com Joinville, e as pessoas misturam hoje Joinville com Bial, e é muito legal. E isto nos fortaleceu.

Os resultados
No ano passado, ficamos em quarto lugar. Estamos quebrando paradigmas, conseguimos conquistar bons resultados e vivemos agora este maravilhoso momento. As grandes vitórias não ocorrem somente dentro da quadra, mas mobilizam a cidade em torno de atletas exemplares, que eles estão dando exemplo e o time tem um modelo de trabalho que está sendo útil para o futebol usar, para o vôlei e outras modalidades.

Esporte e princípios
A grande vitória pra mim é exatamente num treinamento de domingo ver famílias vindo aqui assistir. E também a possibilidade de ter em todas as escolas particulares e nas municipais escolinhas de basquete. Hoje tem muita gente jogando basquete, e isto é bom para o futuro, porque a gente pode ter não grandes jogadores, mas vamos ter pessoas com aqueles princípios que o esporte ensina.

Profissionalismo
O esporte é uma atividade que requer profissionais que tenham capacidade e conhecimento profundo em todas as áreas. E hoje a gente percebe que Joinville tem a preocupação em fazer o esporte com profissionalismo. A possibilidade de fazer esporte e educação juntos está acontecendo.

O amor por Joinville
A relação com a cidade se deu porque sou uma pessoa muito emotiva, calorosa e entendi que pela minha forma de agir, muitas famílias, muitas crianças se soltaram e entenderam que a gente não precisa ser totalmente formal e rígido para nós sermos honestos e civilizados.

Emoção e gratidão
Hoje vim para o treino cantando Roberto Carlos “Vivendo este momento lindo...”. É Lindo ver a gente vivendo este momento. Estamos na semifinal, quebrando paradigmas no basquete brasileiro, na sociedade catarinense. E eu muito cheio de gratidão e alegria no peito. Minha mulher também se adaptou muito bem a Joinville e voltou a estudar após 30 anos. Então vivo um momento especial no esporte e na vida pessoal. Por isto minha gigantesca gratidão com Joinville.

Projetos
Pretendo aplicar em Santa Catarina o projeto desenvolvido aqui em Joinville. A Fesporte me chamou e eu acertei com eles a possibilidade de trocar experiência com 150 professores do Estado. Eu vou poder fazer uma coisa que eu sempre sonhei, que é multiplicar este tipo de entendimento que eu tenho de como ensinar basquete na base. Meu sonho é ver todas as crianças de Joinville, dentro de núcleos criados na cidade, fazendo atividades lúdicas, recreativas e de formação.

Contrariedade e desabafo
O Manteguinha e o Shilton estão jogando no Brasil mostrando qualidade e referência e mesmo assim a Confederação convocou atletas que estão jogando fora do país que eu acho que são do nível igual ou abaixo dos meus jogadores, então foi um momento de impulso, de emoção e eu não posso deixar das pessoas que são leais a mim, porque foi um campeonato muito difícil e eu devo tudo a eles.

Espiga, o homem de confiança
Eu conheço ele há 13 anos e trabalhamos juntos há quase 10. Eu enxerguei no espiga a possibilidade de formar um substituto para mim. E ele foi criando uma evolução nestes quatro anos, um amadurecimento. Ele perdeu pai e mãe seguidamente no primeiro ano de Joinville, tem um casamento maravilhoso e dois lindos filhos. Eu chamei ele no começo desta temporada e pedi que ele atuasse não só como jogador, mas também como auxiliar técnico. E poucas vezes na vida uma pessoa demonstrou para comigo a lealdade que ele demonstrou, porque na hora que a coisa balança os amigos somem, e na hora que a equipe mais precisa, ele sempre está ali.

De amigo para amigo
Quando teve aquele episódio com o Cláudio Mortari, eu fiz de tudo para absolver ele, devido a esta extrema lealdade que ele tem comigo. Hoje eu vou à morte por ele. Se um cara der um tiro, é possível, como faço isto por qualquer familiar, de eu me jogar na frente para o tiro não pegar nele. Criou-se uma afinidade muito grande, não de pai para filho, mas de amigo para amigo.

O que esperar dos jogos contra o Flamengo?
Eu espero que o nosso time tenha um comportamento e uma atitude muito próxima ou até melhor do que na série contra o Limeira. O desafio é o mesmo, porque desbancamos o campeão paulista. Agora o Flamengo, hoje, joga melhor do que o campeão paulista. Nós fomos jogar lá e imagina uma torcida de futebol dentro de um ginásio pequeno com quatro mil pessoas. Eu acho que o time está preparado, mas só no passo a passo que a gente vai poder avaliar se estávamos prontos para ser campeão. Eu já ouvi muito, que chegar até a semifinal já está bom, mas nós queremos ser campeões. Nós temos todas as possibilidades de fazer uma baita série, para isto nós vamos fazer nossas ações jogo a jogo.

Mensagem ao torcedor
Esse momento de manifestação que a cidade de Joinville tem vivenciado, esta mobilização que se deu através do basquete, só foi possível porque famílias, jovens, pessoas de bem, entenderam mais rápido isto. A gente atingiu a principal célula da sociedade que é a família. E nós esperamos num futuro muito próximo que todas estas famílias de Joinville tenham no esporte a possibilidade de educar seus filhos, de terem a formação deles atreladas não só a escola, mas também ao esporte, para que a gente possa ter uma Joinville daqui a 50, 100 anos, uma cidade como já é hoje com este potencial como poucos lugares no Brasil têm, para se formar atletas.

2 comentários:

Basquete disse...

Parabens Bial, espiga e os empresários que estão investindo no nosso Basquete que é a alegria da cidade.
Com certeza nossos empresários virão com mais força para o nosso basquete que é retorno garantido.

rolf

Anônimo disse...

muito,,,,legal,,,a reportagem,,,so que acho que o Bial foi um pouco egoista,,,,e menosprezou,,,,muitas pessoas,,,,ai,,,