Vida bandida: Quem é o menor acusado do assassinato no CIP

Os percalços do menor J.A.M., acusado de enforcar com um lençol o monitor Luciano Carlos de Oliveira, 43 anos, no interior do Centro de Internamento Provisório de Joinville (CIP), no dia 18 de abril desse ano, parecem que o acompanham desde os seus primeiros dias de vida. O menor nasceu no município de Chapecó, no Oeste de Santa Catarina, e foi deixado pelos pais biológicos para adoção.

Quando completou 3 anos, a família Miers, de origem alemã e educação rígida, moradores do bairro Vila Nova, em Joinville, receberam uma ligação do Fórum de Joinville informando sobre uma criança que estaria disponível para adoção. O destino de J.A.M. ganhara nova expectativa quando foi entregue aos cuidados dos novos pais.

Um dos filhos biológicos do casal Miers, que prefere não se identificar, revelou que a adoção foi feita dentro da lei, e que todos os trâmites foram cumpridos. “Meus pais compareceram a todas às entrevistas com psicólogos, assistentes sociais e juiz”, disse. Entretanto, após abrigarem a criança em sua casa, a família não recebeu mais qualquer visita de acompanhamento.

Uma vida dentro de um tambor

Ele também revelou que quando J.A.M. chegou ao novo lar, o menor não conseguia andar. “Até os 3 anos de idade, JAM foi criado dentro de um tambor. Passava o dia brincando ali dentro. Assim que chegou, percebemos que ele não conseguia andar, pois, estava com as pernas atrofiadas. Somente conseguiu se locomover 1 ano depois”, contou o irmão adotivo.

A vida na casa seguiu normal até o novo filho atingir 6 anos de idade. Os primeiros sinais de sua inclinação para o crime começaram aparecer assim que o filho adotivo ingressou no jardim de infância. J.A.M. furtava pequenos objetos de casa e os levava consigo para a escola. Entre os delitos cometidos em sua infância também estão a depredação de bens públicos e violação de correspondências. O menor também ia muito mal nas séries iniciais. Passou no primeiro ano do ensino fundamental com sérias dificuldades e reprovou no segundo. No entanto, o irmão alega que com os pais adotivos ele mantinha respeito.

Desistindo da adoção

Quando completou 10 anos de idade e depois de causar muito transtorno, os pais adotivos resolveram devolver o menor J.A.M aos cuidados da Justiça. Porém, em determinadas datas como Natal, J.A.M. ligava e exigia presentes. No início desse ano, ele apareceu em companhia da namorada, a menor F.L.M.M., 16 anos, acusada de ter raptado um bebê na mesma semana em que J.A.M. supostamente assassinou Luciano.

Ele pediu ajuda alegando que sua namorada estava grávida. Comovidos com a situação, os pais adotivos permitiram que ele ficasse com F. na casa. Mas, os outros irmãos, ao tomarem conhecimento do fato, pediram que o menor fosse embora sob o argumento de que ele já havia recebido a chance de uma vida melhor e a havia desperdiçado. O menor foi embora, mas voltou a ligar pedindo dinheiro.

Certa noite, os pais receberam um telefonema de uma delegacia do município de Araquari. Os policiais queriam saber se eles eram mesmo os pais do menor. Os policiais informaram também que J.A.M. e sua namorada estavam presos por invadirem uma casa naquele município.

Nova chance

O irmão também conta que teve conhecimento de que o menor teve uma segunda chance ao ser adotado por outra família no centro da cidade. Mas o instinto de J.A.M. falou mais alto e seu comportamento fez com que a nova família também desistisse da adoção. J.A.M. chegou a participar de um projeto chamado Jovem Aprendiz, onde prestava serviço nas Centrais Eletricas de Santa Catarina (Celesc) e ganhava meio salário mínimo. A família Miers afirma desconhecer outros dois homicídios atribuídos a J.A.M.

Madrinha adotiva

Deibi Regina da Silva Cavalheiro, técnica em meio ambiente, 37 anos, realiza um trabalho social junto a um abrigo para menores. Por intermédio de outro menor, ela conheceu J.A.M.
A mulher conta que J.A.M. chegou a morar em sua casa. “A rotina dele era de idas e vindas entre o abrigo e minha casa. Porém, ele começou a aprontar e como castigo o proibi de vir à minha casa”, relatou Deibi.

Depois disso, a técnica alegou que perdeu o contato com o garoto. Entretanto, no dia 5 de fevereiro desse ano, o adolescente voltou a procurá-la. Dessa vez, o menor apareceu na companhia da menor F.L.M.M, 16 anos. Novamente J.A.M. solicitou à técnica abrigo em sua casa e contou que sua namorada estava grávida e o abrigo onde estavam os tinha separado.
Antes de permitir que o casal ficasse em sua casa, Deibi procurou o Fórum de Joinville. Lá, foi informada de que a adolescente já havia sofrido dois abortos e que o menor respondia a uma tentativa de homicídio ocasionada por uma briga.

De posse da guarda provisória, a técnica permitiu que o casal morasse em sua casa. Dias depois, os dois fugiram e Deibi foi ao Fórum pedir a baixa nos documentos da guarda provisória. Mas o menor voltou a ligar para ela em março, alegando que sua namorada seria transferida para o município gaúcho de Uruguaiana. “Eu disse a ele que o que eu podia fazer por eles eu já havia feito. Então, ele desligou o telefone na minha cara”.

Deibi conta que dias depois ela teve notícias de J.A.M pela TV. “Passaram alguns dias e eu soube que ele havia cometido um assalto contra um menor num shopping”. Sobre os outros homicídios cometidos por J.A.M, Deibi disse que não tinha conhecimento. “Eu fiquei muito abalada quando descobri que existiam esses homicídios praticados por ele. No dia 27 de fevereiro J.A.M completou 17 anos, e eu fiz um bolo pra ele aqui na minha casa. E ela, irá completar 17 anos no dia 15 de junho”.

Deibi também teceu criticas à falta de interesse do serviço de assistência social do Fórum de Joinville. Segundo ela, foi cometido um grande erro quando não a avisaram sobre os riscos na solicitação da adoção provisória. “Ele aparentemente não apresentava perigo, no entanto, demonstrava ser uma pessoa fria. Se no Fórum tivessem me alertado sobre os crimes, eu jamais teria posto meus filhos na convivência com uma pessoa dessa”. A técnica, bastante assustada, criticou o serviço social do Fórum. “Eu conheci ele através de assistentes sociais que trabalham no abrigo. Agora eu fico pensando: eles permitiram que a vida da minha família corresse um grande risco”.

Entenda o caso envolvendo o menor

No dia 18 de abril, o menor que era interno do CIP, ao ser levado até o banheiro pelo monitor Luciano Carlos de Oliveira, ataca o monitor e o enforca até a morte com um lençol. Na delegacia ele confessa o crime e é transferido para Florianópolis. No dia 6 de maio, em interrogatório a justiça, ele nega a autoria e diz que o homicídio foi praticado por um irmão, que invadiu o Centro de Internamento Provisório para resgatá-lo.

O caso também gerou polemica pelo fato de o monitor assassinado estar trabalhando sem qualquer tipo de treinamento. Ele foi admitido para a função pela Organização Não Governamental Opção de Vida. Luciano trabalhava sozinho naquela noite cuidando de 14 internos.

J.A.M. namorava a adolescente F.L.M.M., que também foi interna do CIP. Porém, na época ela já havia cumprido sua pena e liberada. A namorada foi autora do rapto de um bebê, ocorrido na manhã do dia 17 de abril. A atitude extrema da menor tinha como objetivo seu retorno para o CIP para ficar próxima do namorado. Cerca de 15 dias depois, o bebê é encontrado junto com a namorada de J.A.M. Ela admitiu que iria usar a criança como moeda de troca na obtenção de uma permissão para conversar com o namorado.

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