De suspeito a vítima

Uma história que mexeu com Joinville e deixou em pânico os moradores do município, e que dificilmente será esquecida pelos joinvilense. Sem dúvida, não há quem esqueça do caso do Maníaco da Bicicleta, marginal que estuprou várias mulheres na cidade e que foi preso em 4 de abril de 2002, quase 2 anos depois de cometer os crimes.

O caso foi elucidado pelo delegado da extinta Divisão de Investigações Criminais de Joinville (DIC), Marco Aurélio Marcucci. Os fantasmas do grosseiro erro policial voltam a povoar a memória dos envolvidos. No último dia 26, foram ouvidas as últimas testemunhas em uma audiência de instrução e julgamento no processo movido por Aluísio Plocharski.

Ele teve uma fotografia sua apresentada à imprensa como o Maníaco. São réus no processo, RBS Zero Hora Editora Jornalística S.A, a Rede Globo de Televisão e o Estado de Santa Catarina. O próximo passo do trâmite judicial deverá ser a sentença, que será proferida pelo juiz Renato Roberge, da 1º Vara da Fazenda Publica.

O verdadeiro responsável pelos estupros era o mecânico ferramenteiro Marlon Cristiano Duarte, 26 anos, que foi reconhecido por todas as vítimas. Porém, antes disso, no desespero em busca de um culpado, a polícia - em uma sucessão de erros desastrosos, - destruiu a dignidade e a intimidade da família humilde do jardineiro

Aluísio Plocharski, que mora em uma modesta casa no bairro Atiradores.

Na época, a Diretoria de Investigações Criminais (Deic) manipulou uma foto de Aluísio e distribuiu à imprensa em forma de retrato falado, fazendo com que o caso ganhasse as manchetes nacionais. A incompetência policial produziu uma dramática situação. Em questão de minutos um inocente rapaz passou a ser o maníaco procurado. Essa ação policial destruiu a vida do humilde jardineiro, que anos depois, ainda carrega graves seqüelas do episódio.

Em 2000, ocupavam os seguintes cargos na Secretaria de Segurança Pública de Santa Catarina, Dirceu Silveira Junior, delegado da (Deic), atualmente Delegado Regional de Joinville, Mauricio José Eskudlark, diretor da Polícia Civil para o Interior e Litoral, atualmente chefe da Polícia Civil de Santa Catarina, e Paulo Cézar Ramos de Oliveira, ex-secretario de Estado da Justiça e Cidadania, agora promotor público em Joinville.

Precipitação e irresponsabilidade

No mesmo dia em que Aluísio assistiu horrorizado sua foto ser divulgada em nível nacional na Rede Globo de Televisão, ele já havia sido descartado como suspeito por não ter sido reconhecido pelas vítimas. Mesmo assim, o delegado Dirceu Silveira Junior, comandando a Deic e uma dezena de policiais fortemente armados invadiram a modesta casa dos Plocharski. Entretanto, segundo a mãe de Aluísio, os policiais não possuíam mandado. Dirceu Silveira pediu a dona Marli que seu filho saísse da casa, solicitação que foi negada por Marli. Diante da negativa, o delegado adentrou à residência e se dirigiu ao quarto de Aluísio, sempre acompanhado pela mãe do rapaz, que foi retirada pelos policiais a pedido de Dirceu. O jardineiro, que estava sentado em sua cama, viu suas coisas serem reviradas e bombardeado de perguntas do tipo; “Onde está a arma que você utilizou?”. Foi nesse momento que o delegado teria atendido a uma estranha ligação em seu celular. Na seqüência, preferiu a singela justificativa de que havia cometido um engano.

Aluísio foi arrastado ilegalmente à delegacia

O fim da pacata vida da família Plocharski teve início em uma sexta-feira, dia 27 de outubro de 2000. Por volta das 4 horas da tarde, Marli Plocharski, mãe de Aluísio, então com 53 anos, recebeu a visita de dois homens em um veículo branco. Eles solicitavam a presença de Aluísio, pois teriam um trabalho para o jardineiro. Ao serem informados que o filho de Marli não estava, disseram que voltariam mais tarde. Ao retornarem, horas depois, levaram Aluísio sob o pretexto de mostrar ao rapaz o local onde seria o suposto serviço a ser executado. Na verdade, eram policiais civis e como em um seqüestro, os dois policiais arrastaram o desavisado jardineiro até uma delegacia no bairro Boa Vista. Antes de irem à delegacia, fizeram várias paradas em locais desertos com intuito de intimidar Aluísio para forçá-lo a confessar um crime que não havia cometido. Chegando à delegacia, o jardineiro passou por mais intimidações, sofrendo inclusive ameaças de tortura. Aluísio Plocharski somente não permaneceu preso porque algumas vítimas foram chamadas e não o reconheceram como sendo o estuprador. No entanto, isso era apenas o começo de sua humilhação e exposição pública.

No dia 5 de novembro de 2000, a família Plocharski é novamente surpreendida com a foto do filho no programa dominical “Fantástico”, da Rede Globo de Televisão. Aluísio afirma, que o retrato falado mostrado na televisão era idêntico a uma foto sua e que o identificava em uma carteirinha do Serviço Social da Indústria (Sesi). “Eles apenas acrescentaram um boné, o resto era tudo exatamente igual” comentou o jardineiro demonstrando nervosismo com o assunto.

Polícia não parou de errar

No dia 15 de novembro de 2000, Aluísio recebe outra visita indesejada. Era meia-noite, quando o diretor da Polícia Civil, Mauricio José Eskudlark, chega à casa do jardineiro acompanhado de uma policial. Sob o pretexto de conduzi-lo até a delegacia para uma nova acareação, Mauricio Eskudlark permaneceu na casa dos Plocharski até as 2 horas da madrugada. Desesperados, os pais de Aluísio se colocaram entre os policiais e o filho. “Eu disse que meu filho somente sairia de casa se nós fôssemos juntos”, conta Marli Plocharski.

Aluísio Plocharski, celebridade indesejada

Visivelmente transtornado, Aluísio Plocharski, o jardineiro que agora tem 37 anos, se sente extremamente desconfortável ao relembrar a humilhação a que foi submetido em decorrência do erro policial. O fato desestruturou tanto a família que o pai de Aluísio, o operário da construção civil, Ludovico Plocharski, tentou por duas vezes o suicídio e adquiriu o vício do álcool. Os erros da polícia no caso de Aluísio foram tão evidentes e incontestáveis que originaram duas dissertações de conclusão de curso. Uma no curso de bacharel em Comunicação Social com ênfase em Jornalismo da Associação Educacional Luterana Bom Jesus/Ielusc, produzida por Salvador Tomaz da Costa Neto. A outra foi realizada por Marília Crispi de Moraes Maciel, no curso de mestrado em ciências da linguagem, na Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul).

6 comentários:

Anônimo disse...

É...quem sabe o caso da menina da Igreja Adventista também não seja tema de monografias,dissertações e teses daqui alguns anos?
Pena que o psicológico da vítima nunca será a mesma e quem vai pagar a conta do erro(???) será mais uma vez o povo e não as "autoridades" que o cometeram ou alguém será demitido??

Anônimo disse...

São agentes de autoridade brasileira ditando ação.

Adriano Santanna disse...

Lendo esta reportagem que havia adormecido em minha mente, mas que voltou a tona novamente ao ler a mesma, fico surpreendido com o que aconteceu e eu não sabia disto.Não cabe a mim julgar o caso e para isto cabe ao Magistrado Dr. Roberge cumprir a lei e a fará com competência.
Pobre e infeliz homem, este que teve sua vida arruinada e destruida, exposta e ridicularizada pela mídia e por pessoas que deveriam procurar o verdadeiro ultrajante.
Eu fico tentando imaginar quanto sofrimento esta pessoa e sua família passaram, quanta vergonha e menosprezo, mas nunca poderei realmente o saber!
"É mais fácil separar a água do vinho que a hipocrisia da verdade no julgamento das ações humanas."

faça a diferença disse...

Duvido muito que a justiça brasileira vai se pronunciar a favor desta pessoa que foi acusado pelo crime de estupro. Sabem porque? Porque tem muita gente importante, como Rede Globo, RBS, Zero Hora,tanto é que a Rede Globo pediu transferencia do processo para o Rio de Janeiro, porque talvez por la as coisas são diferentes, talvez por lá é mais fácil molhar a mão de um Juiz, não que todos os Juizes sejam corruptos, mas por lá a grana anda solta, mas na época o juiz que estava cuidando do caso não permitiu, aí já dá pra perceber que esse processo vai levar milhoes de anos para chegar ao final e ter um mérito feliz para o acusado, até lá o pobre injustiçado certamente não vai mais estar vivo, infelizmente. Justiça no Brasil só funciona se o sujeito ter muita grana, eu digo muita grana mesmo. A justiça na verdade ela é feita para os afortunados, os que não tem poder e grana, obedecem e são sujeitos a esse vejatório, a essas encenações, a esses teatros a qual muitos acabaram se promovendo através da desgraça de um pobre e miseral coitado, pois somente os incompetentes é que são capazes de chegar a determinados cargos. Lamentavelmente não haverá justiça para esse pessoa, para esse ser humano que a POLICIA E OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO, ferraram, e acabaram com a vida dele. Mas Deus é maior do que tudo isso e que não vai passar em vão essas atrocidades, esse genocidio que fizerm com o pobre rapaz.

Um inconformado disse...

Meu caro Adriano, fatos dessa natureza não podem jamais adormecer em nossas mentes. Voce tem razão, cabe à Justiça decidir o cumprimento da lei, e não à nós.
Mas nos cabe sim, e sempre, exigir que os responsáveis respondam pelos seus erros. Os incompetentes policias à época fizeram o que bem entenderam, ao arrepio da lei e do bom senso. Pressionados, arranjaram um culpado de qualquer jeito. E, como é de praxe nesses casos, uma pessoa humilde, simples e sem recursos.
Jamais este homem será justiçado. Mesmo que o juiz o favoreça. A sua vida ficou marcada para sempre. E de sua familia tambem.
É de se pensar em outro caso, onde as mesmas "autoridades" estiveram envolvidas, coincidentemente sob a mesma pressão da imprensa, onde novamente um pedreiro humilde, pobre e tambem sem recursos foi apontado pelo estupro e morte de uma menina dentro de uma igreja.
Será mesmo coincidencia?
Num país onde houvesse ordem e respeito, o mínimo que se poderia esperar para esses policiais, seria um afastamento das atividades até o final de todo o processo.
Mas aqui em Santa Catarina, eles são promovidos. Um hoje é Chefe da Policia Civil do Estado, e o outro é o Delegado Chefe da Policia de Joinville.
Joinvilenses e Catarinenses: tomem cuidado! Amanhã poderá ser voce.

Daniela Lima disse...

imagine o sofrimento dele!!