Brasil não é mais o mesmo depois da Satiagraha, diz Protógenes

Sergio Sestrem
Especial para a Gazeta de Joinville

Logo que chegou ao anfiteatro do Ielusc para uma coletiva de imprensa, por volta das 17 horas da última segunda-feira (25), o delegado da Polícia Federal Protógenes Queiroz foi presenteado com uma medalha de São Francisco dada por um integrante de uma ONG ambiental de Barra Velha.

“Carrega no bolso, se te derem um tiro, pelo menos protege”, disse o homem. Tranqüilo, o delegado afirmou ao seu admirador que sua mãe era devota do santo. “Ela era filha de escravos, contou. Sou neto de escravos”, ratificou Protógenes.

Segundo o homem que ofertou o adereço ao delegado, em certa ocasião, ao fotografar um incêndio em uma casa, avistou um metal brilhando, estava lá a medalha intacta.

“Faz um release pra mim. Quero publicar em meu blog”, pediu Protógenes.

Afastado da Polícia Federal, “por decisão unilateral”, nos últimos dias a rotina do delegado tem sido proferir palestras cujo tema principal recai sobre o tema corrupção e imprensa.

O motivo? Suas investigações abalaram os alicerces do poder. Foi Protógenes quem efetuou a prisão de Paulo Maluf, do contrabandista Law Kin Chong, de Naji Nahas e do ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta.

Ele também coordenou, em parceria com a Promotoria de São Paulo, as investigações do caso Corinthians/MSI , por evasão de divisas e lavagem de dinheiro. Sua última megaoperação foi a Satiagraha, cujo desfecho foi a prisão do banqueiro Daniel Dantas.

Esta última operação, segundo Protógenes, revelou conexões suspeitas entre megaempresários e poderosos grupos de comunicação que levaram até a um embate entre membros do próprio Poder Judiciário.

À vontade e sem papas na língua, Protógenes disse, em Joinville, que o reultado das investigações “feitas para tentar desqualificá-lo” estão tendo efeito contrário. “Por onde eu tenho passado, sou recepcionado com essas manifestações carinhosas e ao mesmo tempo encorajadoras”, afirmou.

Ele comentou sobre o andamento da Operação Satiagraha, a criação da CPI da Petrobras e o papel da imprensa. Acompanhe trechos da entrevista.

Operação Satiagraha
Existe um Brasil antes e depois da Operação Satiagraha. Houve mudança de comportamento das pessoas, da própria sociedade, todos os segmentos do país, desde imprensa até movimentos sociais, em especial de instituições. Formou-se um grande debate público do que está acontecendo no Brasil, a respeito da contaminação do Estado Brasileiro, uma grande teia de corrupção que se alastrou e compromete todas as instituições.

Bilhões bloqueados
Essa operação veio a demonstrar as fragilidades dessas instituições. Isso atingiu até mesmo o alto escalão da República. De início, parece ser mais uma operação policial, mas não é. É um trabalho que resultou de forma benéfica para a sociedade brasileira e ao país, onde se descobriu grandes esquemas, um volume de recursos bloqueados de bilhões, jamais visto na história do país e até mesmo em alguns países do mundo não tem valores desta ordem bloqueados, valores estes que vão retornar ao país aos seus devidos lugares: educação, saúde, segurança pública.

A segunda fase
Isso aí é o saldo que tem na Operação Satiagraha. Os trabalhos seguem. Com relação a tudo aquilo que foi levantado na primeira fase, inclusive com o indiciamento já ocorridos, que eu indiciei o banqueiro Daniel Dantas por lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta e formação de quadrilha. Isso é o resultado da busca e apreensão que eu organizei no dia 8 de junho e veio o resultado da conclusão dessa segunda fase.

Perseguição
Tudo isso resultou numa perseguição interna implacável, jamais vista na história policial brasileira, onde se instaurou mais um procedimento administrativo tentando desqualificar um trabalho até a presente data irrefutável. Ou seja, os investigadores passaram a ser investigados de uma hora para outra e resistimos a esse poder avassalador e por decisão também unilateral, logo próxima a CPI, um dia depois de eu prestar depoimento. Foi o primeiro instrumento do Estado a tentar pressionar o trabalho da Satiagraha.

O afastamento da PF
A própria CPI, que era para tentar me desqualificar, prender e humilhar, não conseguiu, e aí prosseguiram na escalada com o meu afastamento unilateral por instauração de um procedimento administrativo com fatos (pronunciamento em campanha eleitoral) supostamente ocorridos em setembro do ano passado. Eles instauraram um procedimento em abril próximo ao desenvolvimento da CPI, um dia depois do meu depoimento. Pelo comportamento, podemos identificar as pessoas responsáveis por esse ato.

Sobre as denúncias do MPF
Eu tomei conhecimento da denúncia do Ministério Público pela imprensa. Já são duas investigações: Uma era apurar possíveis irregularidades na Operação Satiagraha e ela ocorreu de uma forma célere jamais vista na Polícia Federal e sofri até busca e apreensão, eu e meus familiares, por conta dessa investigação, que era pra buscar até o tal grampo clandestino do Gilmar Mendes. E não acharam grampo clandestino nenhum e o que acharam serviu para fazer o que eles fizeram. Foi um indiciamento abusivo e com base em um aparelho telefônico que não me pertence e é usado por mais de 300 policiais. A outra violação seria por conta de um suposto favorecimento a jornalistas, o que de fato nunca houve.

CPI da Petrobras
Eu fui o primeiro a descobrir um caso de espionagem na Petrobras, isso em 2008. Um mafioso russo entra no país de forma obscura, acobertado por altas autoridades da República, ministros inclusive, faz contratos, tenta se apoderar do maior clube em torcida (Corinthians), faz os contatos na saída eu o detenho no aeroporto internacional de Guarulhos. Quando eu abro a mala dele, encontro cheia de segredos da Petrobras, inclusive cartão de ministros. E ele ainda me disse que veio aqui pra ser dono da Petrobras. Tinha até deputado acompanhando. Eu falei: “Você não é deputado, você é um traidor da Pátria.”

Não levou nada
Essa é a situação que chegou o país. Aí se instala uma CPI da Petrobras para investigar corrupção. Que corrupção? Tem algo maior nessa historia. Eu peguei um criminoso, mafioso dizendo que ia ser dono do petróleo brasileiro. “Não vai levar não, rapaz, daqui você não vai sair não”. E não levou, o sujeito ficou preso mesmo e os documentos da Petrobras ficaram no país. A que ponto o Brasil chegou.

Filiação partidária
São notícias plantadas, isso vai ocorrer até 2010, mas o Protógenes vai navegar nessas águas turvas e sendo alvo de fofoca, de criação de escândalo fabricado. Recentemente, houve um boato que eu tinha me filiado ao PDT. Então me exibam a ficha de filiação. São notícias para confundir a opinião publica e antecipar um processo que é proibido por lei inclusive.

A grande mídia
Ela tem que criar notícias para vender e confundir a opinião publica para alguns interesses escusos, ela vive os últimos dias de Pompéia, porque agora nós universalizamos a informação. Com o acesso à internet, então, ninguém se engana mais. O segundo ponto é que a grande mídia está na mão de pessoas poderosas e isso é grave.

Papel da Imprensa
Depois da Satiagraha, com tudo que houve, que lado que nós vamos? Que imprensa nós queremos? Que tipo de informação nós vamos produzir para população para não perdermos a credibilidade? Então esse é um papel difícil, porque nós temos que discutir uma lei. Será que essa lei vai ser produzida por jornalistas ou por grandes grupos? Já vi até editorial sendo vendido, matéria paga, então, nem se fala.

Saiba mais
A origem do termo Satiagraha Em sânscrito, Satya significa “verdade”. Já agraha quer dizer “firmeza”. Desta forma, Satyagraha é a “firmeza na verdade”, ou “firmeza da verdade”.

2 comentários:

Anônimo disse...

Não é mesmo.

Anônimo disse...

Grande delegado Protogenes. Esses grandes grupos de comunicação aos quais o delegado se refere, não precisamos fazer muito esforço pra saber quem são: Folha de São Paulo, revista veja, rede globro de televisão... e mais alguns. E dizer que tem gente que compra esse lixo. putzzzz