Saneamento básico de Joinville está entre os piores do Brasil

Por Jacson Almeida

Além de ter uma das tarifas de água mais cara do País, Joinville possui um dos piores índices de tratamento de esgoto. As informações que revelam a precariedade no saneamento básico da maior cidade de Santa Catarina constam em pesquisa feita pelo Instituto Trata Brasil, uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) - que visa coordenar uma ampla mobilização nacional, para que o País possa atingir a universalização do acesso à coleta e ao tratamento de esgoto.

Segundo a Trata Brasil, apenas 49,4% da população brasileira têm acesso à rede de coleta de esgoto, diante de quase 100 milhões de pessoas que não contam com a mesma sorte. O tratamento do esgoto coletado chega a apenas 20% da população, um índice muito inferior a outros países sul-americanos, como o Chile, onde 97% dos domicílios possuem tratamento.

Em Joinville, a situação é ainda mais grave. Apenas 16% da população tem acesso a rede de coleta de esgotos. Uma ação do Ministério Público obriga a Cia. Águas de Joinville a instalar a rede em 52% do município até 2012.

O assessor de planejamento da Companhia Águas de Joinville, Naum Alves de Santana, admite que os números da pesquisa estejam corretos, mas promete investimentos para os próximos anos.

Responsabilidade é do prefeito

O economista Luis Nassif, em seu blog, afirma que as informações contidas na pesquisa da Trata Brasil permitem cruzamentos para impedir eventuais maquiagens por parte das empresas e, além disso, permite chegar a determinadas conclusões instrutivas:

1. As 10 melhores e as 10 piores cidades estão no Sudeste. O que demonstra que a qualidade dos serviços não está necessariamente ligada à renda do local.

2. A Sabesp opera na melhor cidade, Franca, e em uma das piores, Carapicuíba. Logo, não é o operador que faz a diferença.

3. A segunda do ranking é Uberlândia, que tem a menor tarifa do país. Joinville, que tem a maior tarifa, está na rabeira. Portanto, qualidade não está associada a custo da tarifa.

Para Nassif, a conclusão final é que a qualidade dos serviços em uma cidade depende fundamentalmente do prefeito, mesmo que a operadora seja estadual, municipal ou privada. Como saneamento é um trabalho de décadas, há a necessidade de continuidade na gestão municipal, de cobrança de qualidade das operadoras.

Casan não investiu em Joinville

O estudo analisou 79 cidades do país com mais de 300 mil habitantes. São dados de 2003 a 2007. As informações foram divulgadas pelas próprias operadoras de água e saneamento através do Sistema Nacional de Informação sobre Saneamento (SNIS), mantido pelo Governo Federal. Segundo a Trata Brasil, o estudo considerou a população total atendida com água tratada e rede de esgoto, o tratamento de esgoto por água consumida, o índice total de perda de água tratada e a tarifa média praticada nos serviços.

Em 2003, Joinville estava na 42ª posição num total de 79 municípios. Nos anos seguintes houve queda nos números e a cidade baixou os índices figurando na incomoda 63ª posição do ranking. Para a Companhia Águas de Joinville, essa queda ocorreu devido à falta de investimento da antiga empresa, a Casan. Em 2007, a cidade teve seu pior desempenho. Estava à frente de apenas 16 cidades.

Uberlândia: exemplo a ser seguido

Ao contrário da maior cidade de Santa Catarina, Uberlândia (MG) é um exemplo de eficiência. Entre as cidades com melhor saneamento e abastecimento de água, ela trata 100% dos 98% de esgoto que coleta, sendo toda a distribuição de água tratada.

Além disso, a cidade mineira tem uma das menores tarifas do país. Segundo a pesquisa, a tarifa média cobrada em 2007 era de R$ 0,70 por metro cúbico. Os joinvilenses pagam caro para ter água tratada. Conforme o estudo da ONG, a tarifa média cobrada em 2007 era de R$ 2,63 o metro cúbico.

De acordo com a pesquisa, em 2007, Joinville possuía um índice de 54% de perda de água tratada. Já Uberlândia, com mais de 608 mil habitantes, tinha apenas 20% de perda. Para a assessoria de imprensa da Águas de Joinville, com as obras de correção dos vazamentos, esse número caiu para aproximadamente 42%.

Sem Tratamento de Esgoto

No bairro Jardim Paraíso não há saneamento. A obra que começou a ser feita está parada. Segundo a assessoria de imprensa da Águas de Joinville, as obras foram interrompidas por causa de uma pendência judicial. A empresa que ganhou a licitação assumiu um valor, e depois pediu mais dinheiro. Gelasio Alves, morador do bairro, afirma que há vários esgotos a céu aberto. “É um atraso, comparado com outras cidades”, destaca.

Em frente ao terreno do morador há um esgoto sem nenhum tratamento. Segundo ele, já houve uma tentativa de colocar tubulação, mas a prefeitura diz que o trabalho não é com ela, e sim com a imobiliária.

Os acidentes por causa de valas na rua Calisto, no Jardim Paraíso, não são poucos. “Só neste ano quatro carros caíram dentro do esgoto a céu aberto”, explica Gelasio. Conforme ele, o vereador do bairro, Manoel Francisco Bento (PT), diz que há um projeto, mas até agora não houve muita modificação no saneamento.

Próximo ao esgoto a céu aberto, está situado o Grupo Assistencial Social Paraíso (Gasp). Por isso, tem um grande movimento de crianças. “É perigoso, pois na valeta há muitas cobras e ratos”, explica o morador.

Saneamento Básico

O assessor de planejamento da Águas de Joinville, Naum Alves, acredita que daqui a dois anos a cidade amplie sua cobertura de saneamento para 42%. Atualmente, Joinville possui apenas 16% de tratamento de esgoto. Segundo ele, estão previstas várias obras, inclusive a construção de redes coletoras de esgoto. Explica ainda que a companhia já possui dinheiro do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), da Caixa Econômica e do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).