Mambla Gakran, 45 anos, é graduado em sociologia e obteve o mestrado em lingüística pela Universidade de Campinas (Unicamp), e a julgar por suas vestes, seria difícil imaginar que ele nasceu e cresceu na aldeia Laklãnõ, da etnia Xokleng, em Ibirama, cidade onde ainda vive e leciona. O mestre, apesar do título, demonstra certa mágoa pela educação “civilizada” que recebeu na infância, a qual literalmente “apagava” os traços da cultura natal em troca da nova educação do imigrante. Os Xoklengs só foram "descobertos" em1914, e antes disso viviam livres no sul do Estado.
“Aos doze anos aprendi a Língua Portuguesa quando entrei na escola dos brancos. Nesse período sofri com o preconceito e rejeição de colegas e comunidade”, conta. Mas teve que se virar, e o ambiente hostil funcionou como incentivo a continuar estudando e lutar para entender cada vez mais este novo mundo em que ele e sua tribo já não faziam parte.
Ele atualmente realiza um trabalho voluntário de resgate cultural e conta em suas palestras em escolas, como é a vida dos índios na aldeia de hoje e ressalta os erros e acertos na questão da relação entre sistema de educação e os povos indígenas.
A inserção de indígenas nos cursos universitários e a criação, em 1994 de uma gramática própria para o ensino da língua Xokleng nas aldeias para ele é um sinal de que existe experança para a preservação da cultura destes brasileiros por destino.
Imaginário
A imagem que as crianças tem sobre o índio brasileiro ganham mais cores e conteúdo com as histórias de Gakran, que se considera um contador de causos e sempre será, "mesmo se viver até os cem anos, sempre levarei nossa cultura adiante.”
Durante sua palestra no Colégio Estadual Conselheiro Mafra, na última segunda feira (22), ele contou como é a vida em sua tribo, falou sobre a história do Brasil, cultura, condições atuais e dificuldades dos povos indígenas. E sob uma visão antropológica respondeu aos alunos sobre a vida Xokleng, vida na tribo e seus rituais.
Para o acesso à essa cultura, utensílios como o arco e flecha, cocar e colares feitos pelos nativos puderam ser manipulados pelos alunos.
“Como sociólogo, quero que saibam que no Brasil existem cerca de 200 povos indígenas diferentes, e que a cultura é nossa única diferença, pois independente de povo, somos pessoas e merecemos o mesmo respeito.”
Demarcações
Mambla Gakran, não esta a par da situação de Araquari, onde uma comissão local formada por deputados e empresários tenta barrar a criação de reservas indígenas na região, porém afia o discurso quando o assunto é demarcação de terras. “Os políticos e empresários tem que saber que o Brasil historicamente sempre pertenceu aos índios, e estes senhores que agem com interesses próprios, têm que entender que eles, é que foram os invasores que chegaram aqui para dominar", conclui.
Convite
Estudantes com média de idade de 12 anos, apesar da agitação, mantiveram a atenção presa à figura enigmatica do índio, que no fim de sua fala convidou todos à uma visita na aldeia para provar a sopa da cobra gibóia. A turma aplaudiu com vontade.
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