Construtoras em crise com queda nas bolsas

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Nos últimos 12 meses, construtoras listadas na Bolsa tiveram desvalorização de mais de 90%

O governo federal, atendendo à súplica das empresas do setor imobiliário anunciou na noite da ultima quarta-feira (29), uma ajuda ao setor de construção civil. Uma linha de crédito de R$ 3 bilhões e até 5% dos recursos das cadernetas de poupança serão liberados para empréstimos ao setor. Através de uma resolução, o Conselho Monetário Nacional (CMN) determinará as condições para os financiamentos. O objetivo da medida é fazer o mercado crescer e voltar à liquidez. No entanto, inevitavelmente o setor de construção civil sentirá uma alteração no panorama, em que a perspectiva, na melhor das hipóteses, será a de que no máximo até 2010 o setor sofra uma forte diminuição no número de empresas, podendo chegar à menos da metade. Já as 25 grandes companhias, presentes na Bolsa de Valores (Bovespa) deverão atingir no máximo o número de 12.

Uma mostra dessa passagem, que agora se apressa devido a crise, é que, nos últimos 12 meses, a Inpar, uma das empresas listadas na bolsa, obteve perdas de 93,7% em sua lucratividade. A Abyara amargou 92,7% e a Tenda, 88,6%. Com isso, a ajuda do governo para sanear o setor, incluído no programa que foi divulgado na última quarta-feira, poderá até custear a venda de imóveis e precipitar a ação de composições e compra das 25 empresas que compõe a Bolsa.

Em entrevista para o Diário do Comércio Indústria e Serviços (DCI), o presidente do Sindicato da Habitação (Secovi-SP), João Crestana, disse que a crise deve ser culpada pela aceleração das fusões e aquisições. “Em lugar algum do mundo existem 25 grandes incorporadoras, como temos na Bovespa. Independentemente da crise, elas devem somar seis ou oito grandes grupos. Sem o pano de fundo da crise, acredito que este processo levaria entre três e quatro anos. Agora, dois, devido ao baixo preço das ações e à falta de caixa de algumas empresas.”

Crestana recordou também que o processo já havia sido desencadeado. “Há pouco tempo, antes de a crise ser deflagrada, a Gafisa incorporou a Tenda, Company e Brascam. A Tricury e Incossul se fundiram e formaram a Trysul. Há o caso da Cyrela, que comprou investimentos da Agra, entre outros casos.”

Liberação de R$ 3 bilhões para o setor não é vista com bons olhos

Mesmo com a liberação de R$ 3 bilhões para o setor, a Câmara Brasileira da Construção Civil (CBIC) entregará no dia 9 de novembro, uma lista de sugestões ao governo relativo aos financiamentos. A CBIC não concorda com a possibilidade de a Caixa Econômica Federal adquirir frações de empresas, segundo presume o artigo 4 ºda Medida Provisória nº 443/ 08.

O analista da BRG Capital Caio Monteiro, tem opinião desfavorável a compra de ações das empresas do segmento pelo governo. Caio entende que o modelo privilegia companhias descapitalizadas e que foram inconseqüentes ou incapazes em suas aplicações financeiras. “As empresas que têm condição de se manter sem injeção de capital por venda de ações, dado que fizeram uma melhor gestão do caixa, não estarão dispostas a vender ações a preços de mercado, pois isso tenderia a gerar uma diluição grande aos atuais acionistas. Da mesma forma, as empresas que precisarem de capital a qualquer custo estarão dispostas a vender ações.”

Fábio Gallo, Professor de Finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV) e da Pontifícia Universidade Católica (PUC), faz coro as criticas de Monteiro. Ele critica a intenção da Caixa em comprar papeis. “As empresas querem crédito na praça. O governo tem de regular e financiar o mercado, ordenar como incentivar fusões e aquisições. Enfim, dar condições ao povo de comprar sua casa.”

Já o analista da Nova Finacial, Eduardo Barros, desenha o seguinte quadro. “Os players do segmento estão engessados, com pouco fôlego para girar a produção, pois investiram muito capital em constituição de banco de terras e agora necessitam de capital de giro para produzir”.

Caio Monteiro também alertou para uma possível desaceleração da demanda, em decorrência de situações de desemprego ou desconfiança do consumidor. “O financiamento da construção não possui o melhor do funding. Os bancos estão captando em poupança (que tem liquidez diária) e emprestando a longo prazo. Corre-se risco de descasamento.”

Diminuição no ritmo da construção civil é inevitável

De acordo com o documento criado durante o 80° Encontro Nacional da Indústria da Construção, ocorrido na última semana e divulgado pela CBIC na segunda-feira, dia 27, o setor reivindica o direcionamento exclusivo dos recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e da aplicação dos saldos da caderneta de poupança, para habitação, saneamento e infra-estrutura urbana. No documento também é solicitada também a redução em 5% do percentual do depósito compulsório de poupança. Com isso, se pretende direcionar o dinheiro para a viabilização de novas habitações.

Para o presidente da CBIC, Paulo Simão “Não haverá quebradeira, mas a redução do ritmo é inevitável. Os consumidores adiam as compras e os empresários, os investimentos”, disse. Porém, evitou citar as empresas que estão sujeitas a serem absorvidas. Em relação ao assunto de as empresas baixarem preços em conseqüência da falta de financiamento, ele acredita em custeio ou a queda “dependerá da lei da oferta e da procura”. Quanto ao crescimento, Paulo arrisca uma previsão para o setor que deve ficar entre 8,5% e 9% em 2008. “Não sei quanto menos vamos crescer em 2009. Estamos buscando medidas preventivas.”

Apesar do desempenho negativo, Helbor ainda acredita que sobreviverá

Com um aparente otimismo em relação ao seu negócio e tentando minimizar os incontestáveis reflexos da crise no setor, Henrique Borenstein, diretor presidente da empresa Helbor, que acumulava um prejuízo de 73,88% até o dia 28 de outubro, garantiu ao DCI que pelo menos sua empresa “tem recursos em caixa e linhas de crédito”, afirmou. Talvez, seja essa uma forma de Borenstein afastar a possibilidade de que não seria a Helbor, uma das dissipadas no mercado. A Abyara, mais cautelosa, se limitou a dizer que o cenário ainda é recente para opinar.

Para construtoras não listadas na bolsa, a situação é tranqüila

Entretanto, as empresas que não possuem ações na Bolsa não deverão sentir os ecos da crise. Elas estão em uma situação amplamente confortável devido a confiável saúde financeira que dispõem. É o caso da empresa joinvilense Convisa Construções e Incorporações. O diretor Ivandro Geraldo de Souza afirmou que o ritmo da empresa continuará sem alterações. “Nós vamos continuar investindo. Tivemos uma reunião no dia 28 sobre a crise e a decisão foi continuar trabalhando em ritmo normal. Enfim, nada muda, pois, continuamos a ter crédito aprovado nos bancos.”, explicou Ivandro.

O proprietário da Terraço Planejamento e Construções, Mauro Bartholi, explica que para as empresas que estão fora dessa captação nas bolsas não deverá haver maiores problemas. “A única expectativa que nós ficamos é em relação ao mercado internacional que deixa as pessoas apreensivas. Mas, eu acredito que no Brasil não viveremos a mesma situação que acontece nos EUA, é totalmente diferente. Aqui não há risco para o cliente e nem para os bancos já que nosso sistema bancário é totalmente diferente.” Bastante otimista Bartholi faz boas previsões. “Eu vejo com uma boa expectativa o mercado imobiliário. Esse ano já foi muito bom, e os próximos acenam com o mesmo prognóstico.”, finalizou.

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