Prorrogados a redução de IPI e o martírio das revendas de usados

Jacson Almeida
jacson@gazetadejoinville.com.br

A prorrogação da medida do Governo Federal para reduzir o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) dos automóveis causou efeitos negativos nas revendedoras de Joinville. Com a baixa dos preços de veículos novos, os clientes preferem não comprar os usados. Segundo o proprietário da Avenida Veículos, Alexandre Zattar, a queda chega a 50% das vendas. “Por causa da redução do IPI, um veículo novo que custava R$ 30 mil, hoje custa R$ 24 mil”, explica.

Já o proprietário da Disk Veículos, Elias Hauagge, diz que a queda nas vendas chegou a 60%. Segundo ele, antes a revendedora tinha uma fatia do mercado que era a classe média. “Hoje, esta fatia foi conquistada pelos carros novos”, comenta. O incentivo do governo com os bancos e a redução do IPI atingiu muito as revendedoras. “Não há mais diferença no preço entre o carro usado e o novo”, afirma Elias.

“Os bancos são os grandes vilões, eles são culpados”, reclama Alexandre. Segundo o proprietário da Avenida, os bancos financiavam totalmente a compra, antes da crise, e agora somente 70%. Aumentou ainda a burocracia para os financiamentos, sendo que 90% das vendas eram parceladas. Elias Hauagge destaca que haverá uma crise a longo prazo, pois o tempo de financiamento dos carros novos aumentou para 80 meses. “O cliente vai ficar por muito tempo fora do mercado”, afirma.

A queda fez com que a revendedora Avenida, que comercializava quatro carros por dia, conseguisse vender, em média, somente um veículo. Segundo Alexandre, há lojas que só vendem um carro a cada cinco dias. “Com a redução do IPI, ficou bom para as concessionárias e não para as revendedoras”, alega.

O proprietário da Automóveis Avenida afirma que não compra mais carros. “Se quiser vender, mando embora”, diz. Para ter lucro, Alexandre admite que se fosse comprar seria por 30% abaixo do que pagava antes.

Falta união dos revendedores

“Não há um sindicato para a classe em Joinville”, afirma o dono da Disk Veículos, Elias Hauagge. Explica ainda que essa desunião é causada pelo excesso de concorrência. Para defender a classe, há somente uma entidade a nível estadual.
O presidente da Associação dos Revendedores de Veículos Automotores no Estado de Santa Catarina (Assovesc), Alessandro Anacleto da Silva, diz que o problema das lojas é devido à prorrogação da redução do IPI. “A venda dos carros novos aumentou”, explica. Com a crise, a associação pediu ao governo para que baixasse os juros.
Ainda no começo do ano, o presidente da Assovesc foi a Brasília buscar uma linha de crédito que beneficiasse os lojistas. Agora, quer ir novamente para pedir mais recursos às revendedoras.

Revendedoras fecham as portas

As revendedoras Evidence Veículos e Almeida’s Automóveis deixaram de vender carros de um dia para o outro, dando margem para um novo tipo de golpe. O funcionário da Almeida’s, Gilmar dos Santos, já sabia que a empresa iria fechar, pois tinha muita divida com o banco. Quando chegou na loja para trabalhar já não havia mais nada. A maioria dos carros, segundo ele, eram consignados, ou seja, os veículos eram deixados por terceiros para a revenda.

Para o ex-funcionário, os clientes tiveram sorte, pois todos os carros consignados foram entregues e alguns foram deixados no estabelecimento. Quando soube que a revendedora iria fechar, Gilmar questionou o proprietário. “A loja vendia bem e não tinha porque fechar”, comenta. Para Alexandre Zattar, a falência das revendedoras é por causa das dívidas e pelo fato do cliente ficar com medo de deixar o carro na loja para a revenda.

O vendedor Ciro Aurélio, que trabalhou ano passado na Almeida’s Automóveis, lembra que o dono reclamava por não conseguir pagar as dívidas. “O proprietário não sabia quanto tempo iria durar”, afirma. Ciro confirma o desaparecimento do dono. “Consegui falar com ele até semana passada, depois não o vi mais”, explica.

A reportagem da Gazeta chegou a falar com a mãe do proprietário da Almeida’s Automóveis, mas ela alega que não vê o filho há dois meses. “Não tenho nada a dizer”, encerrou.

Segundo o Departamento de Polícia da Região Sul, foi instalado um inquérito, pois houve denúncia de duas vítimas. Os donos podem responder por crime de estelionato.

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