"Você abraça e sente um homem, não um menino", explica Paula*, 16. "Ele já passou por tudo que eu tô passando", diz Luiza Cirne de Toledo, 17. "Eu me sinto segura. Preciso estar com alguém que tenha um plano", afirma Marina Raffani Santos, 18. As três fazem parte do mesmo grupo: o das adolescentes que se apaixonam e namoram homens mais velhos.
O grupo em questão deixou de ser assunto apenas nas rodas de porta de colégio na semana passada, quando a cantora Mallu Magalhães assumiu o romance com Marcelo Camelo, ex-Los Hermanos. Ele tem 30 anos; ela, 16.
Saiu da boca de Mallu uma sentença que já entrou para a antologia do "amor não tem idade": "Aquilo era amor transbordando do meu corpo. Era sentimento puro que havia entre nós naquele momento, e eu resolvi que não iria segurar, que tinha que deixar fluir. Estou loucamente apaixonada", disse.
Bia*, 17, estagiária, que namora há 12 meses o programador Eduardo *, 29, diz que 12 anos de diferença "não atrapalham". "Eu me dou bem com os amigos dele. Não é porque sou mais nova que estou por baixo", afirma ela, para quem "a idade só aparece nas brigas".
Os dois se conheceram no trabalho. Eduardo diz que algumas pessoas estranham seu namoro. "Para os meus pais, mentimos a idade dela, falamos que ela tem 18. Isso evita comentários toscos, como "toma cuidado, ela é menor de idade'", diz ele, que com os pais dela garante se dar "superbem".
Para Luiza Cirne de Toledo, 17, a idade não é problema, e sim fascínio. "Quando eu tinha 14 anos, namorei um cara de 18. Com 15, namorei outro de 22. Os homens mais velhos são atraentes. Eles têm muito mais coisa pra te mostrar", diz. "Meu namorado está no 4º ano de direito, trabalha, já passou por crise de ficar longe dos pais para fazer faculdade", ela lista.
Os pais de Luiza não gostavam de seus namorados mais velhos. "Eles achavam que eu ia pensar em sexo quando as minhas amigas pensariam em beijar na boca. Você acaba fazendo o que o seu namorado faz, mas ele nunca me influenciou em coisas como cigarro e bebida."
Para o psicólogo Miguel Perosa, professor de psicologia da adolescência da PUC-SP, o que define a qualidade de um namoro é a expectativa de cada parceiro. "O que uma menina de 16 anos busca num homem de 30? A segurança de um pai? A admiração a um ídolo? A experiência diante da insegurança da adolescência?", reflete.
Dependendo disso, continua, a relação se estabelecerá baseada em respeito ou submissão, liberdade ou posse, consideração às individualidades ou afirmação de um sobre o outro. "Um relacionamento saudável incentiva a realização dos sonhos pessoais de cada um."
"Não namore criança"
Depois de ficar quatro anos com um cara de 30 e terminar "porque ele não cresceu e não acompanhou", Marina Raffani Santos, 18, passou a namorar um aluno de direito de 26.
"Ele trabalha, sabe onde quer chegar. Idade faz diferença, nunca gostei de meninos da minha idade. Eles são inseguros, não sabem o que querem da vida, as mães controlam... Eu falo para as minhas amigas: "Não namore criança'", ela diz.
"Eles não acompanham, não dá para agüentar", concorda Marcela Casarini, 15, que namora o chef Henrique Maldonado, 21. "No começo, pensei que não daria certo", ele conta. "Meus amigos acham estranho, mas eu não ligo."
Apesar de lembrar que cada caso é um caso, Helio Deliberador, coordenador do curso de psicologia da PUC-SP, ressalta: "Há risco de a relação amorosa ficar calcada em uma segurança fictícia, que não existe. Além disso, cada etapa da vida significa determinada experiência consigo mesmo, com o outro, com seu corpo... Numa diferença acentuada, a convivência pode trazer instabilidade."
Thiago Koschtschak, 23, cuja namorada tem 18, confirma: "Eu tenho mais medo do momento, das fases que a gente está vivendo, que são diferentes". Embora ache que "idade não quer dizer muito, depende da cabeça", ele frisa que estipulou uma "idade limite". "Não namoro meninas com menos de 18. A gente começou quando ela tinha 17, mas já era quase 18..."
Vergonha
Para Helena*, 17, a experiência de namorar um cara mais velho não deixou saudade. "Eu tinha 16 e ele 23. As cabeças eram muito diferentes", diz. "Às vezes, ele ia me buscar na escola de terno, direto do trabalho, e eu tinha vergonha. Parecia um pai indo buscar a filha."
Ela não tem dúvidas de que a diferença de idade foi a causa do fim do caso, de três meses. "Namorar alguém da mesma idade é bem mais fácil: tem mais assunto, os dois estão na mesma página da vida, um ajuda o outro nos estudos", afirma. "Com ele, eu ficava meio sem ter o que fazer. Ele gostava de boates, mas eu não podia ir, acabávamos sempre indo para minha casa, já que minha mãe não me deixava ir à dele".
Ela terminou o namoro em junho. "Ele começou a ficar muito melosinho e sempre queria alguma coisa a mais... Eu não estava a fim. Hoje, prefiro alguém da minha idade", diz.
Programas são um problema, conta Daniela*, 16, cujo namorado, de 24, vai se formar em medicina neste ano. "A gente não vai muito pra balada. Quando vamos, eu entro com RG falso. Preferimos bares, que não pedem identidade."
Homens mais velhos exercem fascínio sobre as adolescentes? E as mulheres da idade deles? "O problema maior são as garotas da faculdade dele. Elas são mais velhas, mais maduras...", suspira Daniela.
* Nomes trocados, a pedido das entrevistadas
FOLHA DE S. PAULO
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