Uma espera de oito anos

Gisele Krama
giselekrama@gazetadejoinville.com.br

Cabelos brancos e rugas que marcam todo o rosto demonstram os 68 anos de Lídia de Moraes, moradora de uma das ocupações do Jardim Paraíso. Ela sobrevive com os R$ 465 que recebe de pensão e ainda sustenta os dois netos que moram na mesma casa, uma menina de 12 anos e um menino de 8.

A residência é cercada por lama, esgoto e lixo. Lugar onde as crianças brincam, moram e convivem com o abandono do Poder Público e as contínuas enchentes que assolam o local.
Nas cheias de novembro do ano passado, dona Lídia teve que abandonar o "barraco", junto com diversas outras famílias, e se abrigar na escola próxima até que a água voltasse a descer.
"Toda vez que chove, a vala enche e quase transborda", diz a moradora. Nas chuvas da semana passada essa situação voltou a se repetir.

Ela é obrigada a conviver com esse drama até que a Secretaria de Habitação de Joinville decida dar um novo lar para todos os moradores da ocupação. "Eu estou na lista de espera por uma casa há oito anos", diz.

Ademar de Souza, 26 anos, genro de Lídia, está desempregado e com seis filhos para sustentar. Ele também mora na ocupação do Jardim Paraíso, no final da Avenida Urano. Ademar espera há dois anos na fila por uma casa da Secretaria de Habitação. "A rua está cheia de lama e se não for nós arrumarmos, ninguém faz. Não dá para depender do governo", explica.

Mas Lídia de Moraes e Ademar de Souza tem mais coisas em comum do que simplesmente morar em uma ocupação. Eles são indigentes, ou seja, ganham menos do que um quarto de salário mínimo por pessoa da família, aproximadamente R$ 116.

Nesta situação estão outras 20 mil pessoas em Joinville. A cidade tem intensidade da indigência em 66,5%, acima de média nacional que é de 53,87%, conforme dados divulgados no Diagnóstico Habitacional feito pela Prefeitura de Jonville, em julho deste ano. Essa informação mostra a diferença entre a renda per capta e a renda de um indigente.

Esse diagnóstico também apontou que o índice de pobreza chega a 11,07%, ou seja, quase 54 mil pessoas que ganham até meio salário mínimo. Ao todo, são 74 mil, ou quase um sexto do povo que não ganha nem um salário mínimo. Para estes cálculos, a população de Joinville foi estimada em 487.003, assim como está no relatório.

Ainda nesta pesquisa, 97% da população total vivem na cidade. Com isso, foi feito um levantamento das deficiências de moradias. Considerando assim: casas sem condições de habitação em função da precariedade, necessidade de aumento na quantidade de residência e por causa da coabitação familiar.

Conforme dados da prefeitura, 14.411 famílias moram em imóveis alugados. Outros 5.747 em casas cedidas. E mais 2.613 famílias dividem o espaço com outras pessoas, ou seja, coabitação.
Em 2006, o déficit de moradias em Joinville era de 9.654 casas. No mesmo relatório da prefeitura, o número de famílias que moram em ocupações era de 3,6 mil. Já os domicílios particulares que estão vagos na área urbana em 2000 chegavam a 9,2 mil. Sendo assim, há casas para todos morarem, mas falta condições para adquiri-las.

O PSol divulgou dados informais da Secretaria da Habitação de que haveria 19 mil famílias sem residência. Mesmo com o Programa Minha Casa Minha Vida, que faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), Joinville será beneficiada com somente quatro mil casas.

Em resposta ao pedido de informação do vereador Juarez Pereira (PPS), a Secretaria da Habitação divulgou que existem 7.528 pessoas esperando por um terreno, e destes, 892 são idosos e 103 deficientes físicos.

Já na fila por uma casa há 3.095 pessoas, em que 228 são idosos e 258 são deficientes físicos. Ao todo, na Secretaria de Habitação, 10.623 pessoas esperam por alguma ajuda e por um lugar para morar.

Enquanto isso, Lídia e Ademar são vistos como mais um número entre as milhares de famílias que não têm lar e que hoje vivem em uma casa cercada de pedaços velhos de madeira.

Um comentário:

Anônimo disse...

Enquanto isso políticos recebem salários muito acima da média para nos envergonharem todo santo dia.
Mas tem uma coisa que me envergonha muito mais, é o número de gente sem noção que reelege esses que se mostram pilantras.
Não entendo como pode uma cidade como a nossa ter tanta gente desse nível.
Eleição após eleição vemos o povo mentindo para si mesmo e votando sem pensar.
Ou será que pensam e ainda assim fazem M...?
Isso é muito preocupante.