PEDOFILIA: O perigo está mais perto do que se imagina

Jacson Almeida
jacson@gazetadejoinville.com.br


Enquanto a maioria dos meninos e meninas brinca e recebe bonecas ou carrinhos no Dia das Crianças, outras são exploradas ou vítimas de abusos e violência sexual em seu próprio lar. A internet virou inimiga dos pais e mães quando se trata de pedofilia.

O aumento dos casos de compartilhamento de imagens na internet de crianças nuas, muitas vezes em posição erótica e fazendo sexo com adultos, preocupa. Outro perigo são os "chats", onde se escondem muitos "fantasmas" desse crime.

Não é difícil encontrar alguém online que deseja conversar, de uma maneira maliciosa, com uma criança. Em salas de bate papo não há regras, entra quem quer. Já vídeos e imagens de pequenos, que ao invés de brincarem, estão nus, muitas vezes com os próprios pais, não são difíceis de encontrar principalmente em programas de troca de arquivo, como o conhecido Kazaa. Basta uma palavra para abrir centenas de vídeos e fotos, onde os menores perdem a inocência sem saber.

O assustador é que os números de casos aumentam rapidamente. Segundo a SaferNet, entidade que mantém uma Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos, em parceria com o Ministério Público Federal, em 2005 eram registradas, em média, 286 denúncias por mês de crimes em sites de relacionamento. Já neste ano, o número é de 350 denúncias por dia, sendo que 220 estão relacionadas à pedofilia.

Já a Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) tem dados alarmantes. Conforme o órgão, mil sites com conteúdo de pedofilia são criados mensalmente no Brasil e 76% dos pedófilos do mundo estão no país. Outra pesquisa, do site nacional Censura, divulgado na ISTOÉ, em 2006, mostrou que o Brasil ocupa o primeiro lugar no ranking mundial de pedofilia pela internet.

Conforme a Polícia Federal, há o crime de pedofilia e o de divulgação de imagens de cunho pornográfico infantil. Atualmente, posse de vídeos ou imagens de exploração sexual com crianças leva à prisão em flagrante.

A denúncia desse crime pode ser feita por telefone, discando o número 100.

Na internet

Há pouco tempo não havia uma maneira dos órgãos de combate à pedofilia acharem os fantasmas que andavam soltos pela internet. O mundo virtual que trazia ensino, aprendizado, entre outras coisas, passou a ser um caminho livre para criminosos conseguirem suas vítimas, colocando em prática suas táticas. A empresa americana Google, por exemplo, proprietária do site de relacionamento Orkut, achava que a internet era um território livre e não passava a identidade de alguns suspeitos.

Depois de ser criada a CPI da Pedofilia no Brasil, houve uma pressão para que a empresa quebrasse o sigilo dos internautas responsáveis por veicularem sites e comunidades de pedofilia. Agora, segundo a Polícia Federal, o Google compartilha a identidade, ou seja, o IP dos suspeitos.

Já nos programas de compartilhamento é mais fácil achar conteúdo de abuso contra criança. São vídeos variados, onde bebês de dois anos são molestados. Até mães aparecem tendo relações sexuais com os próprios filhos. Como em alguns países não é crime, o pedófilo brasileiro pode baixar o conteúdo de um computador de outro país. No entanto, a PF já tem softwares que chegam aos servidores que hospedam esse tipo de arquivo. Conforme a Polícia Federal, em Joinville já teve apreensões de computadores suspeitos.

A cidade catarinense com mais casos de pedofilia é Jaraguá do Sul. Quando há operações nacionais da PF sempre há alvos (pedófilos) na cidade.

Atualmente, possuir vídeo ou imagem de conteúdo pedófilo no computador é crime, não importa se apenas baixou-as. A pessoa pode ser presa em flagrante com pena de 1 a 4 anos de reclusão em regime fechado. Já se disponibilizar esse tipo de conteúdo a pena pode ser de 3 a 6 anos de reclusão em regime fechado.

Quanto mais se difunde a internet mais aumenta os casos de trocas de imagens ligadas a pedofilia.

O perigo pode estar ao lado

"Tem que observar quem está perto de nossos filhos". Assim alerta o psicólogo do Centro de Direitos Humanos de Joinville (CDH), Nasser Haidar Barbosa. Para ele, as pessoas que cometem esse crime quase sempre estão muito perto da família da criança, como padrasto, pai e tio. Mesmo assim, não há um perfil exato de um pedófilo.

Já na internet existem dados que mostram que muitos são garotos mais novos entre 17 a 24 anos, adolescentes e homens que se excitam com imagens de crianças nuas acabam incentivando a pedofilia. Embora seja grande parte masculino, também existem mulheres que praticam o crime.

Antigamente muitos casos que vieram à tona foram de pessoas casadas, de classe baixa, pais separados e família desestruturada. No entanto, hoje a pedofilia está em todo o lugar e em toda classe social.

Nasser conta que a pedofilia é um crime muito comum. Ele atende mulheres adultas que foram abusadas quando eram crianças e hoje tem algum tipo de transtorno.

O psicólogo destaca que muitas vezes a criança não tem noção do perigo e sente-se culpada quando é vítima de abuso. "Nem todo mundo que sofre o abuso será um abusador, mas aqueles que abusam, quase todos foram abusados", completa.

Nasser, que já trabalhou no Presídio Regional de Joinville, conta que presos por esse crime eram pais de família, padrasto e adulto que mora com a mãe.

Ele pede para que os pais tenham cuidado com seus filhos na internet. Para o psicólogo, muitos não controlam o acesso da criança e não estão presentes realmente no dia a dia delas.
A pior situação hoje é que muitas famílias "encobrem" o crime dentro de casa, ou seja, não denunciam quando, por exemplo, um pai ou um padrasto pratica o crime.

Você sabe com quem seu filho conversa no chat?

A tecnologia traz seus males. Hoje as pessoas têm acesso fácil à internet e isso, se não for moderado, faz com que crianças de até sete anos entrem em salas de bate papo ou em programas como o MSN. O perigo nesses lugares é constante e a equipe de reportagem da Gazeta de Joinville entrou com o nome "jaqueline11", dizendo ser uma menina de onze anos.

Logo no início, várias pessoas vieram conversar, com a idade entre 22 a 45 anos. Pensando ser uma criança de 11 anos, adultos não tiveram censura e faziam todo o tipo de pergunta obscena. Outros questionaram se os pais não estavam em casa. Muitas crianças chegam a passar o endereço de casa e de onde estuda para pedófilos. Depois de algumas horas, duas pessoas pediram o MSN de "jaqueline11" e a conversa continuou no programa.

Com o nome de "Fábio", dizendo ser médico, a pessoa do outro lado disse "vc teria coragem de tirar uma foto nua ou só de calcinha?". "Jaqueline11" respondeu que sentia muita vergonha. Logo após foi questionado se ele gostava de meninas magras, pequenas e novinhas. Novamente uma resposta assustadora: "adoro meninas novinhas, sem muito corpo. Sempre gostei, eu até namorei uma menina assim, de 11 anos". Depois, "Fábio" começou a perguntar sobre as partes íntimas de "jaqueline11". Foi dito para o internauta que era uma investigação jornalística e o mesmo fechou a conversa.

A outra pessoa que conversou com "jaqueline11" mostrou ser "educado" e "prestativo", dizendo ser amigo. Com o nome de Everaldo, 40 anos, diz que mora em Joinville e é formado em administração. Faz perguntas sobre tudo e afirma que vai ensinar muitas coisas. Até um encontro foi marcado para ir ao cinema.

Depois de muito tempo de bate papo a pessoa do outro lado diz que pode se apaixonar pela "jaquelinee11": "sabe, pra ficar apaixonado é preciso ter química, quem sabe podemos ter uma química que nos atrai. Mas agora eu gosto de ti, te acho muito bonita e inteligente. Quero muito ser teu amigo". Logo depois o "amigo" começa a mudar e escreve: "sabe Jaqui (nome fictício) eu gosto muito de beijar... eu tenho bastante experiência, eu gosto de beijar a mulher por completa desde o cabelo até os pés... é uma sensação bem gostosa".

Ao ser questionado porque beijaria "jaqui", de 11 anos, ele enfatiza: "porque queria te ensinar, mostrar pra você como é gostoso". Everaldo continuou sempre enfatizando que era educado e queria ser amigo, pois ensinaria tudo.

Onde denunciar

Com o avanço desse tipo de crime é mais fácil achar órgãos para denunciar. No site da ONG SaferNet, qualquer cidadão pode fazer a denúncia, que é encaminhada para o Ministério Público e juiz. Se houver mandado de apreensão, a Polícia Federal vai na casa do acusado verificar seu computador. Se não constar nada no momento, a máquina é apreendida para um perito analisar vestígios de imagens de pedofilia. Outros órgãos que combatem esse tipo de crime são a Interpol, a Unicef, a Unesco, o site Censura, a Polícia Federal, o Conselho Tutelar e o Ministério Público Federal.

Alguns sites indicados para crianças

www.ziraldo.com.br
www.canalkids.com.br
www.divertudo.com.br

Sites sobre pedofilia

www.abranet.com.br
www.cecria.org.br
www.censura.com.br
www.denuncie.org.br
www.safernet.org.br

Dicas para os pais

Sempre verificar histórico de navegação
Supervisionar, acompanhar e conversar sobre a internet
Limitar o tempo de uma criança na internet
Peça para seu filho ler o que escreve e o que coloca no blog e em salas de bate papo, orkut e MSN.
Obter programas que filtram e bloqueiam determinados sites.
Ensinar para a criança que não se deve passar dados pessoais.
Verificar amigos virtuais

Onde denunciar

Denunciar por telefone: Disque 100 - Disque Denúncia Nacional de Abuso e Exploração Sexual contra Crianças e Adolescentes. Discagem gratuita em todo o território nacional.

Polícia: Em caso de flagrante, a polícia deve ser acionada imediatamente.

Conselhos Tutelares

Varas da Infância e Juventude

Delegacias de Proteção à Criança e ao Adolescente.

Delegacias da Mulher.

Pela Internet
www.censura.com.br

Centro de Defesa da Criança e do Adolescente (www.cedeca.org.br)

Departamento da Polícia Federal (aceita denúncia clicando em "fale conosco" ou pelo e-mail dcs.dpf.gov.br)

Rede Nacional de Direitos Humanos (www.rndh.gov.br)

Kids denúncia (www.portalkids.org.br)

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