JOÃO COSTA: Luta interminável para revitalizar principal rua

Dinilson Vieira
dinilson@gazetadejoinville.com.br

Com um dos maiores índices de ruas sem asfalto de Joinville – somente 9,1 quilômetros das 140 vias têm pavimentação, sobrando 22,6 quilômetros em saibro – o João Costa, bairro da região Sul entre os mais carentes do município, tem muito a conquistar para melhorar a qualidade de vida de seus quase 11 mil moradores. O bairro não tem posto de saúde e nenhuma área de lazer, apesar da promessa de que em 2010 ganhará uma praça com academia da melhor idade.

No entanto, o desafio atual de lideranças comunitárias locais não é mais alguns metros de asfalto ou melhorar o atendimento médico, e sim pressionar o poder público municipal a iniciar obras de revitalização de sua principal via, a João Costa Júnior, onde boa parte do setor de serviços e comércio está concentrada, mas acumula trechos com armadilhas para quem dirige ou caminha por ela - inibindo investimentos na região.

A segunda via mais importante é a Monsenhor Gercino, que apresenta problemas principalmente de estrangulamento de tráfego em qualquer horário do dia, nos arredores do terminal de integração de transporte coletivo. O João Costa ocupa um território de 3,41 quilômetros quadrados e possui 640 pontos comerciais.

Na altura do número 1.536 da João Costa Júnior há riscos de acidentes para quem não conhece o local, principalmente à noite. Quem trafega no sentido bairro-centro dificilmente percebe quando a área lateral à direita, ao lado da ciclovia, se transforma em pirambeira. Despencar no local significa invadir alguma residência. Há outros pontos da via com o mesmo problema.

O pedestre também se arrisca, pois é obrigado a caminhar pelo asfalto quando a calçada desaparece.

O pedreiro Paulo Alves Borges costuma pedalar pela via diariamente e conhece o perigo. "As autoridades nunca deram atenção para essa situação que coloca muitas vidas em perigo. É uma guerra entre pedestres, bicicletas e carros. E quem não está nos carros sempre sai perdendo", diz Paulo.

Ao transitar no sentido centro/bairro, próximo ao PA (Pronto-Atendimento) Sul, existe uma situação antônima. Uma área em plano elevado ameaça desbarrancar em veículos ou na cabeça de algum pedestre, além do perigo da queda de árvores. Os ventos fortes que atingiram a cidade em setembro derrubaram galhos de árvores no local, prejudicando o trânsito. Os sinais são visíveis até hoje.

Risco de tragédia

"A revitalização da via é urgente porque há trechos sinuosos e com grotas que levam a situações perigosas. O Tufi (Michreff Neto, presidente da Companhia de Desenvolvimento e Urbanização – Conurb) visitou o bairro recentemente e disse que as obras de revitalização começam em poucos dias", afirmou Cláudio Aragão, presidente da Associação de Moradores do João Costa.

Tufi Michreff confirmou a visita. Afirmou que em poucos dias devem começar a reforma da sinalização viária, substituição de tachões da ciclovia e instalação de uma lombada para reduzir a velocidade em uma das curvas, sem especificar qual. Sobre as calçadas, Tufi explicou que o problema continuará até que seja feito um levantamento técnico da Seinfra (Secretaria de Infraestrutura). "Mas lembramos que os proprietários de imóveis são responsáveis pelas calçadas", afirmou ele. "É claro que a rua em ordem atrai mais investimentos", concluiu.

Culpa da chuva

José da Silva Inácio, secretário da Regional Fátima (unidade administrativa que cuida do João Costa), adiantou que a revitalização da rua João Costa Júnior poderá contemplar, num primeiro momento, o reforço da sinalização viária, como pintura de faixas de segurança. "Isso será feito rapidamente, basta a chuva dar uma trégua", afirmou José da Silva.

Rio Itaum-Mirim ‘engole’ quintais

A Secretaria Regional Fátima executou recentemente a limpeza do rio Itaum-Mirim, que corta boa parte do João Costa. Os trabalhos, que se concentraram na limpeza das margens e retirada da água de materiais como pneus velhos e garrafas pet, além de areia e saibro do leito, causadores de assoreamento, mereceu elogios dos moradores, principalmente porque ajudaram a combater enchentes.

Mas nem todos saíram ganhando com o trabalho. Localizada no final da rua Maria Pires Gomes dos Santos, a casa da doméstica Carla Alves ficou mais visível por causa da limpeza, dando ao local um aspecto de menos isolamento. Porém, a retirada da mata ciliar provocou desbarrancamentos com as últimas chuvas e parte do quintal do imóvel foi engolida pela margem.

Mãe de duas crianças, uma de 2 anos e outra de apenas dois meses, Carla reconhece o perigo, mas permanece no local porque não tem condições de se mudar. "Não solto mais o menino de 2 anos no quintal. Agora, ele só fica dentro de casa", afirmou ela.

No lado oposto está a casa de Patrícia Maiorca da Cunha, que sofre com o mesmo problema, porém de forma conformada. "É melhor do que o rio transbordar e a água invadir tudo", diz Patrícia. O secretário regional José da Silva Inácio informou que vai averiguar a situação e que uma das prioridades de sua gestão tem sido reconstruir pontes de madeira de travessia de pedestres sob o rio.

Trem deixará de cortar bairro

Antigamente, o João Costa era chamado de Itaum-Costa. O nome atual originou-se da rua principal (João Costa Júnior) que corta a região em direção norte-sul, sendo uma homenagem à família Costa, que doou boa parte das terras para a implantação de cemitério, igreja e escolas.

O desenvolvimento do bairro foi rápido, sendo necessário o asfaltamento das vias de acesso, possibilitando aos moradores opções de linhas de ônibus. É contornado à leste pelos trilhos da via férrea, que liga Joinville a São Francisco do Sul e que há algumas décadas desempenhou importância para o desenvolvimento econômico da região.

A novidade é que as obras do contorno ferroviário em Joinville já começaram e vão deixar a ligação a São Francisco do Sul 8,1 quilômetros mais curta. A grande curva que passa por dentro de Joinville vai virar uma quase reta. Ao invés dos 26 quilômetros atuais, serão 17,9. Os trilhos mal cortarão a área urbana joinvilense, inclusive deixando de passar no João Costa. Passarão apenas no bairro Itinga, quase no limite com Araquari.

DESEMPREGO: um fantasma que assusta moradores

Pelo menos duas vezes por semana, a desempregada Claudilene Girardi, 22 anos que tem um bebê para sustentar, sai de casa com sua bicicleta em busca de ocupação. Com a mãe, ela divide uma modesta casa de madeira situada na rua Maria Alves Espinha, e conta que no bairro é difícil encontrar uma família que não tenha pelo menos um de seus membros em busca de emprego e passando dificuldades.

Para se animar, Claudilene geralmente parte pela conquista do emprego com carteira assinada acompanhada de amigas como Elisandra Gomes, de 17 anos, e Rosângela Monteiro, 30, ambas também desempregadas. "Só não estou em situação pior porque faço bicos em fins de semana em eventos de festa", afirma Claudilene.

"Esse bairro tem muita gente desocupada. É só sair pelas ruas e ver jovens em adultos sem fazer nada e sem perspectivas", afirma Rosângela. O João Costa tem mais da metade de sua população com renda per capita que não ultrapassa três salários mínimos, um dos índices mais baixos de Joinville, segundo senso demográfico de 2000. Dessa metade dos moradores, pelo menos 14% tem renda de até um salário.

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