Documentos comprovam: prefeitura sabia que brinquedos estavam podres

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Gisele Krama
giselekrama@gazetadejoinville.com.br

A Gazeta de Joinville teve acesso a documentos que comprovam que a Secretaria Municipal de Educação sabia que o parque do Centro de Educação Infantil (CEI) Espinheiros, que causou a morte da menina Kelly Kruger, estava com a estrutura podre. A diretora da instituição, Elisete Zoboli enviou o ofício nº 29/2007 onde pedia a reforma do parque, no dia 23 de outubro daquele ano. “A estrutura está podre, com rachadura e oferecendo risco às crianças”, dizia o ofício. Até este ano, as solicitações de Elisete não tinham sido atendidas.

A falta de manutenção no parque causou a morte de Kelly, 5 anos. A viga de madeira que sustentava o balanço em que a menina estava quebrou, caindo sobre a estudante. Ela morreu no local.

A prefeitura de Joinville chegou a abrir sindicância para apurar o caso, mas concluiu que nenhum servidor público do CEI e da Secretaria da Educação era responsável pelo acidente. Em carta enviada aos pais, a prefeitura menciona que a possível causa é as chuvas que caíram em 2008.

Interdição do CEI também poderia ter sido evitada

Em 29 de abril, quase dois meses após a morte da menina no parquinho, pais enviaram carta e fotografias à Secretaria de Educação mostrando o estado da instituição.

O documento redigido pela Associação de Pais e Professores (APP) do CEI Espinheiros mencionava a interdição de três salas de berçário pela Vigilância Sanitária, em 12 de março, por causa de infiltrações. “Questionamos a demora da liberação das salas já que algumas crianças estão em salas provisórias, provocando transtornos para elas, famílias e funcionários. A comunidade está insatisfeita”, consta no documento.

A Vigilância Sanitária, que interditou o CEI depois da morte de Kelly, solicitou reforma dos muros da instituição por causa das rachaduras. O material de construção foi enviado, mas a empresa não tinha começado a obra até aquele momento.

Outro fator que oferecia risco às crianças do CEI Espinheiros - além do parquinho, das infiltrações e do muro rachado – era as instalações elétricas. Mesmo revisado pela empresa Lugano, havia caixas de energia com ferrugem e precisando ser trocadas.

Mas o que chama a atenção no final da carta direcionada ao atual secretário da Educação, Marcos Aurélio Fernandes, é de que os pais afirmam que as madeiras do parque apresentavam problemas.

Diz o último parágrafo do documento: “O senhor já foi informado pela direção que todos os brinquedos do parque foram retirados, pois, mesmo os que passaram pela segunda vistoria da Secretaria da Educação, apresentaram problemas na madeira quando foram desmontados pela APP e Secretaria Regional”. Ou seja, a vistoria feita por técnicos da empresa Companhia da Criança – contratada pelo governo Carlito – no CEI Espinheiros, depois da morte de Kelly, não apontou a precariedade da madeira. Já os pais puderam constatar as más condições do brinquedo.

Pensando nisto, os pais pediam uma área de lazer segura para seus filhos e que a equipe de engenheiros da Secretaria da Educação se responsabilizasse pela estrutura, já que, não confiavam nas revisões feitas pela empresa terceirizada.

A carta é encerrada com uma menção que culpa a Secretaria pela insegurança do CEI. “Todos estes transtornos poderiam ter sido evitados se a Secretaria de Educação houvesse atendido às solicitações do CEI”. O documento foi assinado por José Valdecir dos Anjos, Osni Sérgio Dias, Natália Rodrigues e Edinéia Batista de Oliveira.

Erros envolvendo a Cia. da Criança

A empresa Companhia da Criança e a diretora do CEI Espinheiros, Elisete Zoboli, estão sendo processados pelos pais de Kelly. A prefeitura também está envolvida nesta briga judicial.

A empresa responsável pelo fornecimento de brinquedos para parques e revisões de estrutura tinha feito uma vistoria em 2008 no CEI Espinheiros e constatou que não havia problemas. Tanto que a ordem para o balanço era “lixar e pintar” a madeira. Meses depois, o tronco quebra e cai em duas meninas que brincavam no balanço. Uma estudante se fere e a outra morre.

Para fazer um levantamento da situação dos outros parquinhos de CEIs, a Secretaria de Educação, agora no governo Carlito, contrata novamente a Cia. da Criança. As duas vezes que a empresa prestou serviço para a prefeitura foi sem licitação.

Conforme relação de editais feitos pelo governo municipal, não havia nenhum edital para revisão de parques no ano passado. Em 7 de outubro de 2008, havia somente um pregão: para compra de parques infantis, com número 531/2008.

Versão da diretora

A diretora do CEI Espinheiros, Elisete Zoboli, diz que não sabia que o balanço não estava com problemas. Ela menciona ainda que aquele ofício enviado em 2007 tratava-se de outro brinquedo, e não do balanço.

Ela não deu mais informações e não quer falar com a imprensa sobre o acidente de Kelly até ser considerada inocente.

6 comentários:

Anônimo disse...

Isso é a banalização de denúncias. Conheçem aquela história do garoto que gostava de enganar os amigos que estava se afogando? Pois é, um dia ele realmente estava se afogando e ninguém deu a minima.

Professora Ana Maria disse...

Isto é muito grave. MUITO.
A diretora, orientada pelo seu advogado, tenta negar para não ser condenada por homicídio culposo.

Afinal não basta avisar que "está podre e as crianças correm risco" ela tinha que interditar .

Esperou 15 meses com a bomba relógio armada para explodir na hora que a menina vai brincar.

Kelly morreu esmagada.

Anônimo disse...

Não quero aqui apontar culpados, mas se a diretora é contrata para gerenciar uma escola e ela mesma viu que havia problema no balanço do parque, ela teria toda autoridade de não autorizar o uso do mesmo.

Sejamos sensatos senhores.

Que sirva de lição para outros gestores, não espere que alguém venha, faça você.

Perci WIticoski disse...

Sempre a Gazeta.
Eu sempre me pergunto, porque os outros jornais não tocam em temas difíceis?
A resposta ainda não sei.
Espero que a Gazeta nunca mude de lado. Para famílias, como a desta menina, possam ter respostas.

Anônimo disse...

Quem é professora, e tem contato com a secretaria de educação sabe que as coisas são bem complicadas nessa relação, secretaria X professora (diretora). Vc não tem essa outonomia que todos pensam existir em uma escola municipal. Se a diretora ou professora diz que um aluno é Hiperativo ou tem Transtorno do Déficit de Atenção ou algo assim, a primeira coisa que vai ouvir na secretaria é " vc é psicologa? Se não é então não opine sobre o que vc não conhece..." isso acontece com outras coisas também, e com certeza o que foi dito a direção do Cei Espinheiros na época que se falou em reformar o parquinho "podre" foi... "Vc é engenheira? Vc entende de madeira? Então não fale bobagem, deixe tudo como está"

Olho Vivo disse...

Sra Professora Ana Maria...

Não tenho porque defender a diretora do Cei espinheiro, mas na minha opinião, Leia a reportagem com ATENÇÃO, e depois sim, comente. A diretora diz na reportagem que o ofício enviado na data citada não era referente ao Balanço... Não seja venenosa. E vc que se diz professora sabe que não é tão simples assim interditar um brinquedo, principalmente se esse tipo de brinquedo é o único em uma escola com mais de 200 crianças, sabe que se fizer isso, os pais vão direto para a secretária de educação reclamar da postura "autoritária " da direção, e a secretaria por sua vez vai passar um sabão na direção e dizer que ela não tem conhecimento para saber se o brinquedo trás risco ou não... Se vc é realmente professora e leciona em uma escola do município sabe do que estou falando...