Dinilson Vieira
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Com apenas 2,09 quilômetros quadrados de território, 16,8 mil habitantes e um número pífio de estabelecimentos comerciais e indústrias, ainda assim sobram problemas de urbanização no Jarivatuba, bairro na região sudeste de Joinville. E se engana quem pensa que quanto mais associações de moradores um bairro tiver, maior a chance de encontrar soluções sem atravessar grandes burocracias. O Jarivatuba contabiliza nada menos do que oito entidades, que não conseguem se entender, pois cada uma procura defender interesses individuais. Quem sai perdendo é a própria comunidade, que fica em desvantagem quando o assunto é reivindicar melhorias.
Um exemplo recente de que o comportamento unilateral e egoísta das entidades é uma fórmula que não dá certo está no movimentado cruzamento formado pelas ruas Monsenhor Gercino, Padre Roma e João Elias de Oliveira. Após 752 acidentes com 13 óbitos ocorridos no cruzamento nos últimos cinco anos, somente agora o encontro das ruas está ganhando um conjunto de semáforos e sinalização de solo e placas para tentar organizar o trânsito de veículos e oferecer segurança na travessia de pedestres.
“Realmente falta integração entre as associações. Já tentamos nos organizar melhor, mas não deu certo. Estou jogando a toalha”, afirma Nelson Antonio Souza, que acaba de entregar a presidência da Associação de Moradores Padre Roma. Com a ajuda de um filho, Nelson fez o levantamento sobre acidentes no cruzamento da Monsenhor Gercino para convencer a Conurb (Companhia de Desenvolvimento e Urbanização) a instalar os equipamentos. “É incrível como só após tantos acidentes é que conseguimos os semáforos. Se tivéssemos unido forças, acho que não demoraria tanto”, afirma Nelson.
‘Uma tenta engolir a outra’
Assim como a maioria dos bairros de Joinville, no Jarivatuba a falta de asfalto causa indignação. O bairro possui 159 ruas, que somam 33.579 metros de extensão. Desse total, apenas 6.130 metros têm asfalto, 7.737 são conservados com outro tipo de calçamento e 19.712 são mantidos em saibro. O bairro também é desprovido de saneamento básico, o esgoto das casas é despejado em córregos que cortam a região, onde está localizada a única estação de tratamento de esgoto (ETE) em operação, mas que opera com apenas um terço da capacidade.
Recentemente, o PAC (Programa de Aceleração do Crecimento) do saneamento liberou R$ 68 milhões para Joinville para ser investidos em obras. Desse montante, R$ 12 milhões devem ser investidos na modernização da ETE, que tem entre os problemas o mau cheiro que espalha na região.
Residente da rua Erivelto Martins, via não asfaltada, Volnir Fuchter, presidente da Associação de Moradores Amigos do Rosa, é outro que lamenta a falta de unidade entre as entidades. “No Jarivatuba é assim: um bairro cheio de problemas em que uma associação tenta engolir a outra e nada se resolve”, afirma ele, acrescentando que a desorganização acaba desmoralizando as lideranças comunitárias perante o poder público. “Não temos moral para pedir melhorias na Secretaria Regional do Fátima (unidade administrativa que cuida do Jarivatuba)”.
João Maria Barbosa, presidente da Associação Wermer Max Heizelmann, também está desanimado. “Gasto gasolina com meu carro em busca de melhorias e não consigo nada. Sequer sou recebido na Secretaria (Regional do Fátima). Está ruim por dois motivos: as autoridades não nos dão apoio e nós mesmos não somos organizados”, diz Barbosa. Ele reclama que sequer tem força para conseguir melhorar as condições da rua São Francisco do Sul, endereço da única CEI (Centro de Educação Infantil) do bairro. “Quando chove, as crianças têm dificuldade para chegar à escola”. Importante lembrar que 22% dos quase 17 mil habitantes do bairro tem entre 0 e 9 anos.
Moradores da rua Aquino Morbs, via situada numa parte elevada da região, não têm motivos para se orgulhar por ter como vizinho a sede da Associação de Moradores do Jarivatuba 2. Construída em madeira, o local está em situação de abandono, dando chances, segundo reclamações, de jovens se reunirem para consumir drogas. “Enquanto isso, ficamos sem voz para pedir que consertem nossa rua e muito menos exigir asfalto”, afirma o morador Rubens Morbs. A coincidência de sobrenomes de rua a morador não é à toa. “Minha família foi pioneira no bairro”.
Entidades ficaram mal acostumadas, diz gerente da Secretaria Regional
A gerente da Secretaria Regional do Fátima, Mariângela Dias Franco Mira, disse que a unidade reconhece as deficiências do Jarivatuba. Para agilizar os trabalhos, segundo a gerente, uma nova filosofia operacional está sendo implantada na regional, o que nem todas as associações de moradores conseguem compreender num primeiro momento.
“Temos as necessidades do bairro mapeadas e também somos limitados, mas há associações que insistem em pedir à regional, por exemplo, um caminhão para fazer a mudança de alguma família ou mão-de-obra para pintar sua sede. Isso não é papel da Prefeitura e o prefeito Carlito (Merss) já deixou isso claro em reunião com as próprias associações”, explicou Mariângela. De acordo com a gerente, as entidades representativas de moradores ficaram mal acostumadas em administrações passadas, sem contar as organizações que estão em situação irregular e exigem melhorias.
Nesse período de altas temperaturas e tempestades, a regional recebe diversos pedidos diários de roçadas em terrenos. “Só temos dois roçadores para cuidar de uma região enorme e, sinceramente, não vamos atender pedidos para limpar terrenos para as entidades fazerem suas festas”.
Sobre pavimentação, Mariângela não deu maiores esperanças para 2010. Afirmou que a prioridade é terminar de asfaltar as ruas São Bento do Sul e São Domingos Sávio, preparar as ruas Frederico Lottar, Reinoldo Priester Sobrinho e José Orlando Maçaneiro para receber as obras e, quem sabe, estender as benfeitorias para a rua Ana Martins de Souza. A gerente acrescentou que o Orçamento Participativo paro o ano que vem vai contemplar o bairro com uma área de lazer, que pode ser uma pista de caminhada com direito a mirante, nos arredores da igreja Santa Isabel. O custo das obras será de cerca de R$ 70 mil.
A difícil tarefa de chegar à escola
Moradora da rua Jarivatuba, via homônima ao bairro com asfalto em razoável estado de conservação, a dona de casa Marluci Pereira não mede esforços para levar diariamente os dois filhos ao CEI Iraci Schmidlin, que fica no final da rua São Francisco do Sul, numa parte alta do Jarivatuba. Não bastasse o caminho íngreme, ela tem de enfrentar buracos e lama em dias de chuva e poeira em períodos ensolarados. “Também não há calçadas e os carros passam raspando na gente”, diz Marluci. De acordo com a gerente da Secretaria Regional do Fátima, Mariângela Franco, está nos planos da administração asfaltar a São Bento do Sul, que dá acesso ao CEI, mas a São Francisco do Sul ainda deve esperar mais pelas melhorias.
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