Dinilson Vieira
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Quando examinado no papel, o projeto Parque Portal do Mar, que deverá ser construído no bairro Espinheiros, provoca expectativa por sua exuberância e ousadia. Com aproximadamente 4,5 quilômetros de extensão percorrendo a orla da lagoa Saguaçu, as obras prevêem um monumento em forma de arco, que simbolizará “a entrada para as águas salgadas” e ainda servirá de mirante.
O espaço também terá deque, quiosque, restaurante e um trapiche flutuante para dar chance a pescadores amadores de tentar a sorte com seus anzóis.
O projeto executivo do parque, orçado em R$ 1,2 milhão em valor de janeiro de 2008, nesse mesmo ano foi remetido ao Banco Fonplata (Fondo para El Desarollo de Cuenca Del Plata, de Santa Cruz de La Sierra, Bolívia). Segundo informação da Secretaria Regional do Boa Vista, unidade administrativa municipal que cuida do Espinheiros, o dinheiro foi liberado e continua à disposição da Prefeitura para ser usado na obra. No entanto, a desculpa é que há empecilhos ambientais e políticos que impedem que o projeto saia da prancheta dos engenheiros.
Para o presidente da Associação de Moradores do Espinheiros, Irineu Sgrott, há esperança de pelo menos o trapiche flutuante começar a ser construído em 2010. “Conversei com o prefeito (Carlito Merss, PT) em agosto último e ele me garantiu que assinou convênio com o governo federal para as obras começarem”, afirmou Irineu.
Secretário regional do Boa Vista, Michel Ubirajara Becker explicou os motivos que fazem a obra depender de Brasília. Segundo ele, o parque poderá começar pelo trapiche, mas não há datas definidas. “Está faltando autorização da SPU (Secretaria de Patrimônio da União), responsável pela área na orla da lagoa. Além disso, é necessário fazer um levantamento arqueológico, porque existem sambaquis na região”. No meio da confusão burocrática, quem paga são os moradores, que aguardam pelo parque, já que o mesmo é a esperança de valorizar imóveis do bairro e de dar fôlego ao comércio local através do turismo.
“O comércio sairia fortalecido, pois o bairro atrairia mais visitantes, principalmente em estações quentes. Todos sairiam ganhando”, afirmou Paulo Muller, dono de um restaurante na rua Baltazar Bucheler, a principal via local. Mesmo com o atraso da obra, o comerciante não reclama do movimento. Emprega 10 pessoas e dois garçons extras aos sábado e domingos. “Imagina com o parque”, completa ele.
Asfalto, uma velha reivindicação
Apesar do Parque Portal do Mar ser a maior aspiração no bairro, há outras necessidades locais, como resolver pelo menos em parte a questão do déficit de asfalto. Dos 26 quilômetros que totalizam 52 ruas do Espinheiro, apenas 11,3 quilômetros são asfaltados, 1,1 quilômetro tem outro tipo de calçamento e 13,3 quilômetros são mantidos em saibro.
A associação de moradores lamenta o que chama de descaso com o bairro nos últimos 10 anos. “Apenas duas ruas ganharam pavimentação nesse período, a Antonio Augusto Livramento e João Henrique Ferreira. Isso porque circulam por elas ônibus”.
O secretário Michel deu sua versão sobre o assunto: “Antes de asfalto é preciso dar solução ao esgoto sanitário e tratar os dejetos”. Em compensação, segundo ele, para 2010 está previsto no orçamento participativo de 2009 o gasto suplementar de R$ 200 mil para ensaibramento de ruas sob cuidados de sua regional.
Vila Paranaense, sempre abandonada
Endereço de operários que na década de 1970 se instalaram em Joinville para preencher os quadros de indústrias locais, a Vila Paranaense vive esquecida no tempo. Apesar de oficialmente pertencer ao Comasa, a vila está sob os cuidados da Secretaria Regional do Boa Vista, a mesma unidade que cuida do Espinheiros. “Nem uma nem outra cuida da gente. Minha rua é um exemplo do abandono”, afirma Valdemar Galm, morador da rua Vicente Celestino, conservada em saibro e cheia de buracos. “Minha parte eu já fiz, que foi construir a calçada”.
A falta de áreas de lazer na vila é visível numa simples caminhada pela região. Os estudantes Maicon Salvador, 13 anos, Carlos Vítor de Souza, 12, e Diogo Roberto, 12, costumam passar o dia pescando na margem do rio Comprido. O problema é que a água é poluída e todo peixe pescado volta para o rio. “Se comer, morre, mas é nossa diversão”, diz Maicon.
CEI inacabada deixa crianças em casa
Obra iniciada há cerca de 12 meses e inacabada até o fechamento desta edição, deixando em casa dezenas de crianças a partir de 2 anos de idade, impedindo que mães possam trabalhar fora, o CEI (Centro de Educação Infantil) do Moinho dos Ventos 2 (loteamento do Espinheiros) ainda não tem data de inauguração.
“Tenho três netos que já poderiam estar matriculados nesta escola, mas acredito que não faltam muitos dias para a obra terminar”, afirmou Manuel Souza, que, por coincidência, trabalha na respectiva obra, de responsabilidade da Construtora Itajubá. O atraso, segundo Manuel, é que os operários da obra são transferidos para outros locais de trabalho, interrompendo as tarefas no Moinho dos Ventos 2.
Localizado na rua Bento José Flores, o prédio está em fase de acabamento, faltando materiais como luminárias, torneiras e mobília. O fogão que vai preparar a merenda das crianças já está na cozinha. Michel Ubirajara Becker, secretário regional do Boa Vista, argumenta que o CEI ainda não começou a funcionar por problemas da empreiteira com a administração anterior. “Houve atraso nos pagamentos, mas estamos resolvendo o assunto”, explicou Michel.
Unidas no remo e no marisco
Remanescentes de famílias que ainda vivem da pesca no Espinheiros, as donas de casa Dorci da Conceição Alves, Maria Budal, Tereza Bento Budal e Orlanda Rosa de Souza não medem esforços para atravessarem juntas a lagoa do Saguaçu em busca de siris, caranguejos e mariscos. Na mesma canoa de madeira, elas se dividem no esforço do remo para alcançar os mangues onde buscam os frutos do mar que vendem de casa em casa e para bares.
Recentemente, as quatro se uniram para regularizar a situação da licença de pesca na Colônia dos Pescadores, no Morro do Amaral, situado no lado oposto da lagoa ao Espinheiros. Obviamente, não gastaram dinheiro de ônibus: foram e voltaram na força dos braços, cruzando as águas da lagoa. As quatro voltaram com as carteirinhas de licença. “Já enfrentamos ondas, vento, chuva. Não temos medo”, afirmou Orlanda.
Sobre o projeto Portal do Mar, o grupo gostaria que as obras começassem, principalmente o do trapiche, que vai oferecer lazer para moradores locais e turistas. A respeito das condições gerais do bairro, o grupo reclamou da ruas em saibro e solicitou mais policiamento. “Minha rua (a Sophia Noack Pereira) não tem asfalto e sobram poeira e lama”, disse Maria Budal
Nome se originou de mato com muito espinho
O bairro se restringia a uma ilha, na Baía de São Francisco. O nome Espinheiros deriva de um mato com muito espinho. Também em função da planta tarjuva, que é grossa e com muitos espinhos e que se proliferava facilmente na região. O acesso ao Boa Vista era feito só por canoas, aliás, o meio de transporte da época mais comum na região.
Na década de 60, existiam dois iates-clubes em Joinville: o Almirante Barroso e o Iate Clube Joinville, localizados na rua Aubé. O crescimento da cidade e a perspectiva futura da implantação de uma avenida ao longo da margem do rio Cachoeira estimularam a especulação imobiliária e os aficionados a adquirirem terreno na localidade de Espinheiros com o objetivo de sediar o terceiro clube, o Joinville Iate Clube.
Em 25 de julho de 1981, o clube registrava a inauguração de suas instalações sociais, constituídas de bar, restaurante, secretaria, vestiários e boxes para suas embarcações. A década de 1970 é marcada pela instalação de energia elétrica e água encanada, mudando o modo de vida das pessoas.
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