COMASA: Onze meses de nova administração e bairro fica ‘a ver navios’

Dinilson Vieira
dinilson@gazetadejoinville.com.br

Faz apenas 11 meses que a administração Carlito Merss (PT) assumiu o poder em Joinville, mas tempo suficiente para deixar mágoas em quem mora no Comasa, bairro que ajudou a impulsionar o setor industrial na cidade, principalmente por servir de endereço a milhares de trabalhadores que muitas vezes eram buscados em outras regiões de Santa Catarina e em outros estados para completar os quadros de empresas como a Fundição Tupy e a Cipla.

“Sabemos que todo começo é devagar, difícil, mas já faz quase um ano de Carlito e praticamente nada foi feito. A maioria das ruas não-asfaltadas fica cheia de buracos em dias de chuva e poeira em períodos ensolarados. A desculpa que recebemos é que não há material para as obras, porém é preciso lembrar que muita gente do bairro votou neste prefeito à espera de mudanças. Para 2009 não esperamos mais nada, mas em 2010 queremos as melhorias”, afirma Manuel da Rosa, o Nequinho, presidente da Associação de Moradores do Comasa.

Frente a outros bairros de Joinville, o Comasa nem é tão grande. Ocupa território de 3,04 quilômetros quadrados – o vizinho Boa Vista, por exemplo, a quem o Comasa já pertenceu, tem 5,82 quilômetros quadrados. Suas 77 ruas somam 42.375 metros, dos quais 19.312 têm asfalto, outros 2.205 são calçadas com outro tipo de pavimento, restando 20.859 metros em saibro. “Pelo que sei, neste ano não tivemos nem um metro de asfalto novo”, diz Nequinho, cuja rua em que mora, a Apucarana, é asfaltada.

Desafio para pedestres e motoristas

Uma das principais veias de tráfego do Comasa, obrigatória para quem deseja alcançar o Jardim Iririú, a rua Ponte Serrada possui pontos de estrangulamento que colocam motoristas e pedestres em riscos de acidentes. Segundo Celito, há estudos na Conurb (Companhia de Desenvolvimento Urbano) para a via ganhar um radar eletrônico de velocidade próximo a uma igreja católica.

Praça abandonada

Além do asfalto, a comunidade local espera ansiosa pela reforma da Praça de Esportes e Lazer David da Graça, inaugurada em outubro de 1980. Localizado ao lado do sambaqui (sítio arqueológico pré-colonial) Casqueiro, o espaço precisa de melhorias no campo de futebol e na quadra poliesportiva, que está interditada por falta de equipamentos, como é o caso das tabelas para a prática de basquete. As grades de proteção estão enferrujadas e podem provocar acidentes.

Mesmo tendo como vizinhos a Base Comunitária da Polícia Militar e a própria sede da Associação de Moradores, onde há sempre um morador atento ao movimento, a praça é alvo constante de depredação e de despejo de lixo, como garrafas vazias e sacos plásticos. Quem costuma frequentar o local com os dois filhos gêmeos recém-nascidos é a dona de casa Carina Cristina Luçolli, que reclama das condições de conservação. “Venho aqui porque não tem outro lugar”, diz ela. O Comasa possui ainda a praça de lazer da Vila Novos Horizontes, também em estado precário.

De acordo com o secretário regional do Comasa, Celito Alves, a Praça David da Graça será contemplada em 2010 com uma Academia da Melhor Idade. O equipamento terá uma novidade em relação a outras da cidade. “Será o primeiro espaço coberto desse tipo. Quando chover, ninguém poderá dar desculpa de que não pode fazer exercício”, declarou Celito. Segundo ele, a obra vai custar R$ 84 mil.

Celito negou que o bairro não tenha recebido um metro de asfalto novo em 2009. “As ruas São Judas Tadeu, Imbuia, Ibicaré, Camem Miranda, Rio Negro e Silvio Bertolotto tiveram trechos pavimentados”, disse o secretário, acrescentando que as vias Liderança e Novos Horizontes estão recebendo redes de drenagem e esgoto, obras que as preparam para receber o asfalto. Para 2010, segundo Celito, estão programados para o bairro mais três quilômetros de pavimentação nova.

Ponte de arame ganha reforma

Depois de vários pedidos e alertas de que acidentes poderiam acontecer, a Secretaria Regional do Comasa reformou a ponte de arame que faz a ligação de pedestres entre a rua Noel Rosa e a Vila Pananaense, no Comasa. O equipamento cruza o rio Comprido e é bastante utilizado por ser a única opção de travessia num raio de um quilômetro. Agora, moradores gostariam que a ponte ganhasse iluminação.

O equipamento ganhou novo piso, cabos de aço e cabeceiras de concreto. “Melhorou, pois do jeito que estava, alguém poderia mergulhar no rio”, conta Tatiane Pereira, que usa a travessia diariamente para levar os filhos à escola. “Ficou ótima, mas o ideal seria instalar iluminação porque à noite o local é uma escuridão”, afirma o motorista Luiz Carlos Medeiros, que trabalha na Vila Paranaense.

O local também é utilizado por ciclistas, que na maioria das vezes desmontam para fazer a travessia com segurança, já que a ponte costuma balançar. O problema é que a travessia também é feita por motociclistas, que não se dão ao trabalho de desmontar. Quando alguma moto se aproxima, a preferência vira do motociclista, nem um pouco preocupado se está cometendo uma infração.

Joinville acaba de conquistar recursos de R$ 10 milhões, provenientes do PAC Habitação, que serão utilizados para regularizar áreas e terrenos em regiões cortadas pelos rios Guaxanduva e Iririu-Mirim, nos bairros Comasa, Aventureiro e Jardim Iririú. Contemplará ainda a construção de duas pontes na região, a primeira ligando o bairro Comasa ao Jardim Iririú, nas ruas Victor Konder e Canoas. A segunda, entre as ruas Ernesto Bachtold e Guaratinguetá, ligando os bairros Jardim Iririú e Aventureiro.

O guadião dos esportes

Aposentado por invalidez desde 1972, quando perdeu três dedos da mão direita e a mão esquerda inteira em um acidente de trabalho numa máquina injetora de plástico, Raul Setti Moresco, 67 anos, busca o que pode ser chamado de uma espécie de redenção prestando serviço voluntário na Associação dos Moradores do Comasa. Faz três anos que ele abre e fecha o local, que fica na praça David da Graça, onde recebe as reivindicações de moradores e, por continuação, atua como vigilante do espaço.

“Aqui, se a gente não toma conta, a destruição seria muito maior”, afirma Raul, que também controla o material esportivo usado pelos jovens no campo de futebol da praça. Faz 36 anos que ele mora com a esposa na mesma casa da rua Carmem Miranda. Sua história se confunde com a de centenas de outros operários que na década de 1970 começaram a habitar o Comasa, vindos de outras regiões de Santa Catarina e de outros estados, para se empregar em indústrias de Joinville.

Recém-chegado de Brusque (SC) em 1970, Raul se empregou primeiro na Cônsul para se transferir dois anos depois para a Cipla, onde acabou se acidentando. Em 1975, ele mudou-se para o Comasa, onde diz ter orgulho de ser habitante. “Esse bairro é muito bom, as pessoas são amigas, mas precisamos de um pouco mais de atenção por parte do poder público”.

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