Saguaçu: Insegurança em calçadas ofusca área nobre

Dinilson Vieira
dinilson@gazetadejoinville.com.br

Quem resolve dar uma simples caminhada pelo Saguaçu, em uma tarde ensolarada de sábado ou domingo, logo imagina ter encontrado o lugar ideal para morar com a família ou, se tiver dinheiro, investir na compra local de um imóvel. Não é para menos: quase todas as ruas do bairro têm asfalto, além de ser arborizadas e bem varridas; a unidade de saúde na rua Iririú parece um mini-hospital, funcionando também como posto de coleta para o Laboratório Municipal; e a Polícia Militar é vista fazendo blitze regulares nas principais vias do bairro (a rua Dona Francisca, por exemplo), o que dá a impressão de que os moradores desfrutam de razoável segurança.

No entanto, a realidade não é bem essa, pois há visíveis problemas de urbanização, como calçadas bloqueadas pelos próprios moradores por entulho ou construídas em desnível, o que provoca acidentes e dificulta a acessibilidade; e engarrafamentos de trânsito em horários de rush. A presença constante da PM também não é garantia de total tranqüilidade, pois é preciso tomar cuidado para não ser surpreendido por um assaltante ao entrar ou sair de casa no período noturno. Morador do Saguaçu, o secretário regional do Jardim Paraíso, Josival Silva de Oliveira, diz que o bairro registra um ou outro assalto. “É preciso ter cuidado”, afirma Josival.

Região nobre e valorizada

Vamos primeiro às coisas boas. Comparado a outros bairros de Joinville, como os vizinhos Iririú e Bom Retiro – ambos necessitando de um choque de pavimentação nas ruas –, o Saguaçu indiscutivelmente leva a melhor. Situado a menos de dois quilômetros do centro, distância que pode ser facilmente vencida a pé, o bairro é endereço do Parque Municipal Zoobotânico, cuja fauna e flora enchem os olhos do visitante.

Por essas e outras, o Saguaçu é considerado uma região nobre e valorizada. “Não venderia minha casa hoje por menos de R$ 750 mil”, afirma a dona de casa Luciene Araújo Sgrott, moradora de um sobrado da rua Mondaí, localizada na região ao Saguaçu a partir do início da década de 1990. “Agora sou moradora do Saguaçu e não Iririú”, ela ri.

A respeito da situação das ruas, o Saguaçu só perde para o Centro. Dos 46,3 quilômetros que totalizam três avenidas e 143 ruas, 28,9 quilômetros são asfaltados e 10,3 em paralelepípedos. Sobram apenas sete quilômetros em saibro, segundo informações contidas no site oficial da Prefeitura.

Já a Secretaria Regional do Iririú, unidade administrativa que cuida do Saguaçu, garante que restam apenas 1.241 metros de ruas ainda não pavimentadas. E a mais nova novidade, segundo o secretário regional Arildo César dos Santos, é que o acesso ao Mirante do Boa Vista, de três quilômetros de extensão, será pavimentado com lajotas ecológicas. A água encanada e eletricidade chegam em 100% das residências. Como em toda cidade, a coleta de esgoto no bairro é deficiente, mas o bairro faz parte do pacote de obras sanitárias que Joinville colocará em prática, contempladas pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal.

Trânsito exige paciência

A Associação de Moradores do Saguaçu aponta três pontos considerados críticos para motoristas e pedestres: o encontro das ruas Dona Francisca e Saguaçu, onde uma curva fechada piora a situação; o encontro das ruas Dona Francisca, José do Patrocínio e Itaiópolis, que se transforma em caos em horários de pico; e a rotatória no encontro das ruas Dona Francisca, Iririú e Padre Antonio Vieira. “São locais perigosos, de difícil circulação em horários de movimento. Ninguém sabe de quem é a preferência”, afirma Teresinha Grettea.

O subtenente do 8º Batalhão da Polícia Militar conhecido por Dadan (nome de guerra), que costuma fazer blitze na rua Dona Francisca, disse que a corporação reconhece o problema nos locais apontados acima, mas que cabe a Conurb (Companhia de Urbanização) organizar o trânsito na cidade. “Se pensarmos bem, Joinville inteira tem problema de trânsito”, afirmou o policial.

O secretário regional do Iririú, Arildo César, disse que existe um novo projeto viários em discussão no Ippuj (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Joinvile) para ser aplicado na região sob sua jurisdição, porém o mesmo não deverá contemplar os mesmos locais apontados pela associação. “Vou levar o assunto ao conhecimento do IPPUJ para saber se é possível fazer algo”, prometeu ele.

Acidente que virou morte

Quando o assunto é falar sobre desvantagens do Saguaçu, a questão vira desconfiança. “Mas vocês só querem falar sobre as coisas ruins?”, questiona à reportagem Teresinha Grettea, que desde 2001 se mantém no cargo de presidente da Associação de Moradores do Saguaçu. Informada que a reportagem seria equilibrada, ela abre o jogo. “Aqui, cada um cuida da calçada do seu jeito. Há desníveis de piso, isso quando o piso existe. Faz um ano que uma moradora faleceu vítima de uma queda. O acidente aconteceu há cinco anos, mas ela nunca ficou boa e acabou morrendo”, afirma Teresinha.

Sentindo na pele

O acidente a que Teresinha se refere ocorreu no encontro da rua Platina com a Ágata e o nome da vítima é mantido incógnito. Há poucos dias, outra vítima de calçadas foi a dona de casa Eva da Silva Dias, que escorregou na altura do número 165 da rua Mondai e machucou braço e perna direitos. “Não tinha noção sobre o problema até senti-lo na pele”, afirmou Eva.

Para a moradora Rosemary Tavares, da rua Três Barras, 367, o problema das calçadas (ou falta delas) poderia começar a ser solucionado através de uma campanha da Prefeitura. “Cada morador tem sua responsabilidade, mas não adianta multar. O certo é educar”, afirma Rosemary, que reside no bairro há 40 anos.

“São entulhos, restos de material de construção (areia, cimento, barro, ferro, tábuas e sarrafos com pregos). É o que podemos encontrar em nossas calçadas.
Além de colocar em risco a vida das pessoas, que são obrigadas a desviar e andar na rua, é uma das principais causas do assoreamento dos bueiros que acarretam os alagamentos. É dever de cada um de nós contribuir para manter a cidade limpa. Se cada um fizesse a sua parte muitos problemas poderiam ser evitados”, desabafa Terezinha.

O secretário Arildo César explicou que sua equipe de trabalho realiza uma campanha de conscientização sobre como construir e manter as calçadas em ordem. “Temos duas turmas de calceteiros para regularizar os meios fios, que muitas vezes se apresentam mais altos que o regular”. Ele disse que sua secretaria orienta os moradores a construírem calçadas ecológicas, que reservam uma faixa para o plantio de grama de flores.

‘Tio do catavento’ diverte crianças

Morador do Saguaçu há 35 anos, sempre na mesma casa bem cuidada da rua da Saudade, 308, o aposentado Walmor Knihs, 72 de idade, arrumou um jeito interessante de passar o tempo, já que não aprecia televisão, “muito menos novela”. Com todo tipo de material reciclável que junta em caminhadas, que vai de calotas de automóvel, calhas de telhado até antenas de televisão, ele se diverte construindo cataventos – dispositivo que aproveita a energia dos ventos (energia eólica) para produzir trabalho ou simplesmente funcionam como indicadores de direção do vento.

Coloridas, bem trabalhadas nos mínimos detalhes e de diversos tamanhos e formas as engenhocas de Walmor decoram o quintal da frente e chamam a atenção de quem passa pela a rua, de adultos a crianças. “Estou construindo dois maiores. É o meu passatempo, pois gosto de observar o comportamento do clima”, diz Walmor, que poderia ganhar o carinhoso apelido de “tio do catavento”.

Não faz muito tempo e uma turma de alunos da escola de educação infantil Machado de Assis, situada na mesma rua da Saudade, tiveram uma aula sobre energia eólica em frente aos cataventos. “Eles adoraram, ficaram simplesmente maravilhados. E faço tudo isso com material que vai para o lixo”. O aposentado garante que os instrumentos agüentaram a forte ventania que atingiu Joinville em setembro último.

2 comentários:

Anônimo disse...

O Parque Morro do Finder fica no Iririú

Anônimo disse...

Faltou dizer também sobre, certos vizinhos, que plantam arbustos com a copa larga no meio da calçada, impedindo a circulação dos pedestres.