PARANAGUAMIRIM: Poeira em excesso faz morador preferir mais dias de chuva

Dinilson Vieira
dinilson@gazetadejoinville.com.br

Se no meio científico arqueologia significa evolução, conforme atesta o pesquisador Fernando Koenig dos Santos, do Museu Arqueológico de Sambaqui, em Joinville, o Paranaguamirim não tem a atenção que merece por parte do poder público. Endereço de nada menos que nove sítios arqueológicos pré-coloniais conhecidos como sambaquis, o bairro da região Sul de Joinville acaba deixando na obscuridade toda sua importância cultural, pois a realidade local está mais focada na precária infraestrutura urbana, principalmente quando o assunto é asfalto, saneamento básico e saúde.

No quesito pavimentação, o problema atormenta a ponto de moradores preferirem que não parasse de chover na região, a fim de não precisarem conviver com tanta poeira que invade as casas, obrigando a manter portas e janelas fechadas, mesmo em altas temperaturas.

Nesse contexto, pesa ainda a má notícia de que não está previsto mais nenhum metro de asfalto para o bairro neste ano. “Asfalto novo somente em 2010 e a prioridade serão as ruas que servem de itinerários de linhas de ônibus, que somam mais ou menos 13 quilômetros”, afirma o secretário regional do Paranaguamirim, Lioílson Mário Corrêa. “Agora, se perguntar quem quer asfalto no bairro, todo mundo responde que quer”.

Os números não mentem: do total de 77.618 metros de vias públicas do bairro, pouco mais de 13 mil têm pavimentação, restando 64.614 metros em saibro. Ao todo, são 139 ruas (entre as quais a principal, a Monsenhor Gercino) e uma avenida. Uma curiosidade é que há várias vias com nomes que homenageiam profissões como as do Serralheiros, Marceneiros e Mecânicos.

A Secretaria Regional tenta amenizar o problema, mantendo um caminhão-pipa terceirizado molhando as ruas de segunda a sexta-feira, mas o trabalho não vence, o que provoca reclamações por parte de moradores não atendidos pelo serviço.

“Fico feliz quando vejo o sol, mas então vem a poeira e estraga tudo”, afirma a dona de casa Isoleti Kuhnen, que chega a passar pano úmido em uma área externa de sua casa até cinco vezes por dia, a fim de tentar manter o local limpo. O marido dela, Pedro Paulo Medeiros, ajuda na tarefa em fins de semana. “O caminhão molha, mas a rua seca muito rápido e o problema recomeça”, explica Pedro. O problema se complica por a rua citada faz parte do itinerário de ônibus que liga o bairro ao terminal integrado do Itaum.

“Em 2008 a Prefeitura chegou a fazer um programa de adesão ao asfalto, mas a obra não saiu. Naquela época não aderi, mas agora eu assinaria sem qualquer dúvida”, disse Marcio Tobler, que há 15 anos reside numa casa da rua Frederico Germano Dunke, e é vizinho da residência do secretário Lioilson.

Esperança fica para 2010

O presidente da Associação de Moradores e Comerciantes do Paranaguamirim, Valdeci de Maia, confirma que o caminhão-pipa fica mais parado do que em operação. “O dono do veículo tem ficado em casa porque não recebe pagamentos da Prefeitura pelo serviço prestado. Mas não podemos jogar m... no ventilador porque a dívida não é de hoje. Votei no PT porque queria mudança e vou querer mudança para 2010”, disse Valdeci.

Esgoto vai parar no Rio Velho

Nos quesitos abastecimento de água e de eletricidade, o bairro oferece serviços satisfatório, mas desagrada no saneamento básico. Segundo a própria Secretaria Regional, não existe dados precisos sobre quantos domicílios despejam o esgoto em redes apropriadas, mas sabe-se que a sujeira cai praticamente in natura no Rio Velho, bastante castigado. Segundo Lioilson, a região poderá ser contemplada em 2010 com R$ 30 milhões do PAC federal para serem usados em saneamento. Na área de lazer, o bairro acaba de ganhar uma Academia da Melhor, localizada na rua dos Pedreiros, em frente à Associação de Moradores.

Posto de saúde só funciona dois dias e em meio período

Localizado fora do perímetro urbano, pertencente ao Paranaguamirim e considerada região permanente de conservação, o Morro do Amaral possui um posto de saúde que só funciona terça e quinta-feira e mesmo assim, em meio período. Além disso, só atende 12 pessoas por dia e apenas um paciente por família. “Se você precisa de socorro para dois filhos, apenas um vai passar pelo médico. O segundo tem que voltar em outro dia”, reclama a dona de casa Lindamira Aparecida da Silva, moradora da rua Kurt Minert.

As amigas Francisca Santos e Olga da Costa, que sobrevivem com a venda de mariscos, também consideram incompreensível a situação do posto de saúde. Se precisarem de socorro médico em razão de um possível acidente sofrido num mangue, já que vivem enterradas na lama até a cintura em busca dos moluscos, terão que correr em busca de ajuda no PA (Pronto Atendimento) Sul, no Itaum.

Além do Morro do Amaral, o Paranaguamirim conta com remanescentes de manguezais da região leste de Joinville, localizado junto às margens do rio Velho, ás margens do ribeirão Santinho e do rio Biguaçú, no entorno da Lagoa do Saguaçu, onde não se faz presente a ocupação humana.

Secretaria tem serviços alternativos

Nem tudo é notícia ruim no Paranaguamirim. Localizada na rua Ana Maria Roncalio de Souza, s/n, (telefone: 3463-5836), a Secretaria Regional local, unidade administrativa que também cuida dos bairros Jarivatuba e Ulysses Guimarães, oferece aos moradores da região serviços que outras secretarias espalhadas pela cidade ainda não prestam.

Logo na entrada da unidade funciona um balcão da companhia Águas de Joinville, onde é possível tirar dúvidas e solicitar ligação de água encanada com uma funcionária. O serviço ainda aceita reclamações sobre contas de abastecimento de água.

Para os próximos dias está prevista a inauguração do programa Via Cidadão, que vai ocupar uma sala que está sendo preparada na secretaria regional. Na teoria, o programa, da Prefeitura, procura gerar oportunidades de empregos para os moradores em empresas do próprio bairro onde residem. Equipamentos de informática já estão sendo providenciados para o novo serviço começar a funcionar.

Já para 2010, segundo o secretário regional Lioilson Mário Corrêa, a unidade deverá servir de endereço para mais uma extensão do Procon (serviço de atenção e defesa do consumidor), o que deverá facilitar a vida de quem tem algum problema de relação com o comércio. O objetivo do Programa Procon nos Bairros é descentralizar o serviço, cuja sede funciona na rua Dona Francisca, 1.283, Saguaçu, onde ocorrem cerca de 40 audiências e até 140 outros atendimentos diários. A primeira extensão do órgão funciona na Secretaria Regional do Nova Brasília. A secretaria fica na rua Ana Maria Roncalio de Souza, s/n. O telefone é 3463-5836

História se confunde com região vizinha

A história do bairro Paranaguamirim se confunde com a do Jarivatuba. Até os moradores se enganam sobre onde começa um e termina o outro. O bairro, que durante anos abrigou um número inexpressivo de moradores, hoje é considerado um dos maiores da cidade, em número de habitantes. No Paranaguamirim, foi criado o primeiro grupo escolar a atender os dois bairros: a Escola Municipal Professora Ada Sant’Anna da Silveira. Ela começou a ser construída na rua Monsenhor Gercino, em 1927.

Inicialmente a escola era denominada de Escola Isolada Bupeva, e depois passou a denominar-se Escola Isolada Paranaguamirim. Atualmente, é conhecida oficialmente pelo primeiro nome, como forma de reconhecimento a uma das primeiras professoras e moradoras do bairro.

O bairro contava ainda com a Escola Municipal João Costa. Os moradores frequentavam escolas situadas em outros bairros próximos tais como: Colégio Estadual Prefeito João Colin, no Itaum, Escola Municipal Professor João Bernardino da Silva Júnior, no Itaum e Escola Municipal João de Oliveira, no Fátima.

Os primeiros ônibus da região só passavam pelo Jarivatuba e os moradores do Paranaguamirim precisavam se deslocar uma boa extensão para tomar a condução. Até a década de 70, as residências não contavam com sistema de abastecimento de água e o abastecimento era possível através de poços. A instalação do encanamento foi realizada gradualmente. Por volta de 1985, algumas casas só recebiam água até às 10 horas.

O bairro é cortado pelo rio Velho, onde os moradores pescavam bagre, robalo, pescada, camarão e siri, o que representou fator preponderante no rápido desenvolvimento, uma vez que fazia a ligação com a Baía da Babitonga e com o centro da cidade. O trecho que inicia no Rio Velho forma a localidade de Paranaguá-mirim, que quer dizer boca de rio pequeno e enseada do mar.

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