PETRÓPOLIS: Moradores prometem fechar ruas para forçar duplicação

Dinilson Vieira
dinilson@gazetadejoinville.com.br

Moradores do Petrópolis, bairro da região Sul de Joinville com pouco mais de 13 mil habitantes, não estão muito preocupados se nos próximos meses vão ganhar mais alguns metros de asfalto ou obras para dar destinação adequada ao esgoto sanitário – a exemplo do que acontece nas lutas em regiões vizinhas como o João Costa e Floresta. No Petrópolis, o assunto do momento é organizar um abaixo-assinado para forçar a prefeitura a duplicar a rua dos Aimorés, que para muitos é conhecida como rua Francisco Alves.

Com a lista de assinaturas em mãos, líderes comunitários locais prometem entregar o documento ao prefeito Carlito Merss, para em seguida sair às ruas para exigir a obra, sem aceitar mais desculpas pelo atraso. “Se for preciso, vamos fechar as entradas e saídas do bairro. Não vamos aceitar mais este descaso com nossos habitantes e comerciantes”, diz o cabeleireiro Moisés Rodrigues Vicente, presidente da Associação de Moradores Monsenhor Sebastião Scarzella uma das duas entidades que cuidam dos interesses do Petrópolis.

Projeto engavetado

Principal eixo comercial do bairro, a Aimorés tem seu projeto de revitalização engavetado na prefeitura há cerca de 30 anos. Se saur do papel, a duplicação deverá acontecer numa extensão aproximada de 1,5 mil metros, entre as ruas Petrópolis e Colombo. Na verdade, uma ponte sobre o rio Itaum-Mirim começou a ser construída no fim do ano passado, quando o prefeito era Marco Antônio Tebaldi. A obra faz parte do conjunto de mudanças que a duplicação deverá exigir, mas está abandonada, provocando indignação.

O que alguns moradores não param de questionar é por que a ponte não está sendo concluída, se ela estava prevista no orçamento aprovado no ano passado e, portanto, o dinheiro deveria estar garantido para 2009. “Isso é um elefante branco, que leva o nada a lugar nenhum. É uma vergonha ver tudo isso parado, o dinheiro desperdiçado”, afirma Martinho Albin, morador da rua Servidão Dyná Moreira, que margeia o rio. Segundo Martinho, a obra começou no fim de 2008 e faz pelo menos dois meses que nenhum operário é visto no local.

No outro lado do rio, quem também manifestou indignação foi Celso Luiz Brenzink, morador da rua Alfenas: “Não sabemos se a ponte parou por causa de problemas no projeto ou se o dinheiro para a obra não existe mais”, declara Celso. A reportagem esteve no local em duas ocasiões e constatou a ausência de operários. As placas oficiais informando detalhes e custo da ponte também desapareceram do local. A Gerência da Unidade de Obras da Seinfra informou recentemente à imprensa que falta verba do governo federal para terminar a ponte.

Recuos preparados

Superado o impasse da ponte, a Secretaria de Infraestrutura Urbana (Seinfra) não teria maiores problemas em executar a duplicação, já que a maior parte dos imóveis localizados ao longo dos 1,5 quilômetro de um dos lados da rua dos Aimorés já está posicionada com os devidos recuos que a obra vai exigir. Proprietária de uma loja de produtos veterinários, Rubia Santos diz ser a favor da obra: “Agora dizer que a duplicação vai sair é outra coisa. Acho que morro e não vejo isso pronto”, afirmou a comerciante. A loja de Rubia está situada no lado da rua que não precisará ser mexida.

Já o dono de uma bicicletaria localizada no lado que da rua que exigirá mudanças, José da Luz, diz ser contra a duplicação porque vai perder uma área de sua oficina. Por isso sou contra. Quem não está preocupado com o assunto é o vendedor de bilhete de loteria José Maisote: “Tanto faz, porque não estou caminhando muito hoje em dia”.

“Prefiro empurrar com a barriga”

Apesar da importância da obra que, caso saia do papel, vai mudar o dia a dia da rua dos Aimorés, o comerciante João Francisco de Souza diz esperar “sentado e empurrando com a barriga” a visita de técnicos da prefeitura para decidir sobre o destino de seu restaurante situado há 20 anos no lado da via que deverá sofrer as principais mudanças urbanas. O restaurante é um dos poucos que ainda não teve sua a estrutura recuada para receber a obra.

“Estou aqui há muito tempo e já vi vizinhos recuarem seus imóveis e até serem indenizados. Mas até agora ninguém me visitou. Não estou preocupado porque pago todos os impostos em dia e tenho os alvarás de licença. Não sou contra o progresso, mas tenho que receber um preço justo pelas mudanças. Moro nos fundos do restaurante com minha família”, afirma o comerciante.

Espelho ajuda motoristas a evitar colisões

Não fosse um espelho fixado pela Conurb (Companhia de Desenvolvimento e Urbanização de Joinville) no encontro da rua Piçarras com a rua Alfredo Vagner, o número de acidentes nos arredores seria bem maior do que o registrado “dia sim, dia não” por moradores locais. O equipamento serve para visualizar o movimento de veículos que trafegam pela Alfredo Vagner no sentido da rua Petrópolis. Sem ele, quem deseja acessar a via através da Piçarras seria uma espécie de roleta russa no trânsito.

Israel Oliveira Santos, dono de uma loja de confecções na esquina, conta que já perdeu a conta do número de vezes que precisou chamar o Corpo de Bombeiros para atender vítimas de acidentes na Alfredo Vagner. “É uma rua que se transformou em avenida de mão dupla, cheia de curvas e muito perigosa. Já acordei diversas vezes de madrugada por causa de colisões”, afirma Israel. “Também ajudei vários motoqueiros que não conseguem fazer as curvas”, diz Amarildo Cidrão, morador local.

Uma antiga reivindicação do Petrópolis é transformar a rua Alfredo Vagner em mão única para quem quer alcançar a rua São Paulo e converter a rua São José do Cerrito em sentido obrigatório para alcançar a rua Paulo Shroeder. Dessa forma, o bairro ganharia seu sistema binário.

Secretário se cala diante de problemas

Diante das reivindicações de moradores do Petrópolis, o secretário regional do Itaum, unidade administrativa municipal que cuida da região, prefere se calar diante da imprensa. Procurado pela Gazeta de Joinville, Manoel Medeiros Machado explicou que preferia não falar com o jornal sobre o assunto, por orientação da Secretaria de Comunicação da Prefeitura. Na quinta-feira (19), a reportagem procurou o secretário na sede da unidade. Manoel não foi encontrado e sua secretária recebeu o pedido para entrevista-lo. Por outro lado, a reportagem flagrou cerca de dez funcionários da secretaria de braços cruzados em plena manhã– situação estranha, já que há tantas melhorias a serem feitas somente no Petrópolis.

E tudo começou no Itaum...

Esta região por muito tempo pertenceu ao Bairro Itaum. Há 50 anos, como não poderia deixar de ser, o principal meio de transporte era a carroça. Moradores mais antigos lembram que a tranqüilidade predominava, com crianças brincando nas ruas sem muita preocupação dos pais com a violência. Casas permaneciam abertas o dia inteiro.

Anos mais tarde surgiram os primeiros automóveis para poucos privilegiados. A maioria, no entanto, tinha que caminhar uma média de um quilômetro para conseguir embarcar num ônibus. O bairro começou a ganhar força depois que Paulo Schroeder, um dos primeiros moradores e proprietário de fazenda, vendeu suas terras para o Governo de Santa Catarina, que construiu uma Cohab na região.

Uma das primeiras unidades de ensino foi a Escola Municipal Vila Maria, construída onde funciona atualmente a Escola Municipal Oswaldo Cabral. Isso foi há cerca de 30 anos. As ruas eram de chão batido e os moradores, para não sujar os sapatos a caminho do trabalho, partiam descalços. Perto do destino, lavavam os pés numa bica, se calçavam e iam cumprir suas tarefas. A eletricidade só chegou em meados de 1966, quando a luz de querosene começou a ser substituída. Uma das diversões era se reunir em casas onde já havia televisão.

Em 1987, a região ganhou novo impulso, com a implantação do Conjunto Habitacional Popular Monsenhor Scarzello. Já em novembro de 1995 foi criado oficialmente como bairro, recebendo o nome de sua principal via de acesso ao centro, a rua Petrópolis, sendo essa denominação uma homenagem à cidade Fluminense e cujo significado é cidade de Pedro.

Um comentário:

Claudio disse...

Duplicar a Rua dos Aimorés???? Parece piada... e de mal gosto... Aquele "beco" não justifica uma duplicação... Conheço muito bem a rua e isso parece coisa de quem quer agitar... Aparece cada um nessa cidade!!!!