Dinilson Vieira
especial para a Gazeta de Joinville
A falta de rede de saneamento básico, que na prática funciona há décadas pelo arcaico modelo de valas correndo a céu aberto por dezenas de quilômetros, tira o sono de moradores do Morro do Meio e deixa no ar a sensação de que a Prefeitura abandonou o bairro. Como forma de apontar soluções para problemas crônicos como esse, a Associação de Moradores do Morro do Meio criou uma jornada de reuniões individuais com vereadores de Joinville. Toda segunda-feira, após intervalo de três semanas, um vereador convidado previamente se dirige à sede da entidade para ouvir a lista de reivindicações de um bairro que, apesar da distância de apenas seis quilômetros do Centro, estacionou no tempo quando o assunto é urbanização. O município tem 19 vereadores e a agenda de reuniões está lotada até o fim do ano.
Para o presidente da entidade, Lucio Dias da Silva, a atual administração municipal despreza o Morro do Meio, como se o bairro, cuja denominação tem origem por estar situado numa região alta e plana em relação ao nível dos rios Lagoinha e Piraí, não fizesse parte de Joinville. "Por causa dos problemas, oferecemos um café com bolo a cada vereador. Foi o jeito que encontramos para a população ser pelo menos ouvida", afirma Dias.
Apenas três das cerca de 60 ruas do bairro são pavimentadas, somando seis quilômetros de asfalto: as principais Minas Gerais e Pitaguaras, que faz a ligação com a estrada Barbante, e parte da Antonio Alves. As três vias contam com redes de águas pluviais, mas o sistema, segundo Lucio, mostra entupimentos em vários pontos e não suporta chuvas intensas. "Se cair água três dias seguidos, o bairro ganha várias piscinas", diz.
As demais ruas, que equivalem a aproximadamente 23 quilômetros de extensão, costumam receber saibro a cada seis meses, isso se a moto-niveladora a serviço da Secretaria Regional Nova Brasília, que cuida do Morro do Meio, não estiver parada com algum defeito. "Cuidamos da região mais crítica da cidade. O saneamento é precário e as valas abertas predominam", admite o secretário regional Alido Lange.
Estacionado no tempo
Originalmente de vocação agrícola, com predominância para a cultura de arroz, o Morro do Meio assistiu sua população praticamente triplicar de 3.326 habitantes em 1991 para 9.608 em 2008. O que se verifica, no entanto, é que a urbanização não acompanhou o boom populacional. Uma realidade cruel desse cenário são as valas de esgoto a céu aberto que correm nas laterais de ruas em saibro.
Endereço da família da dona de casa Marlene Oliveira da Silva, a Rua da Chácara é um bom exemplo do descaso. Ladeada de valas, onde é despejada boa parte do esgoto doméstico das moradias, que contam apenas com fossas em quintais, a rua é motivo de atenção de Marlene em relação aos netos pequenos. "Tenho que cuidar das crianças o tempo inteiro para que elas não brinquem na água. Nas enchentes do ano passado, as valas transbordaram e um filho meu ficou doente com suspeita da doença dos ratos (leptospirose)", afirma Marlene. "Também tenho medo que numa dessas enchentes, alguma criança se afogue na vala". A própria prefeitura informa em seu site oficial que a Companhia Águas de Joinville não possui informações a respeito do esgoto domiciliar do Morro do Meio. Em compensação, garante que a água e a luz elétrica chegam em 99% dos lares.
Membro de uma família tradicional da região, Vanilda Benevenutti não quer asfalto na rua de sua casa, mas espera que a Prefeitura pelo menos molhe a via em dias de sol. "É muita poeira. O serviço de espalhar água já existiu, mas parou", afirma ela.
Saúde
Comunidade sofre com os mesmos problemas de outros bairros
O atendimento público de saúde no Morro do Meio é oferecido por um posto municipal que leva o nome do bairro e de outro denominado Lagoinha, além do Módulo Odontológico que funciona na escola municipal Dr. Ruben Roberto Schmidlin. Uma rápida visita ao posto homônimo ao bairro revela usuários satisfeitos em alguns aspectos e descontentes em outros.
Faz seis meses que o morador Edson de Oliveira sofreu um acidente de moto perto de casa e desde então se trata na unidade, que fica na Rua do Campo, via que também serve de endereço ao Centro de Referência em Assistência Social (CRAS) e do único Centro de Educação Infantil (CEI) do bairro. De cadeira de rodas, Oliveira diz que "o posto é ótimo" porque nunca ficou sem medicamentos, mas que "já faltou médico".
A dona de casa Maria Roma Santana diz sofrer de vários problemas de saúde e que o posto representa seu único meio de tratamento. Ela diz que sempre foi bem tratada pelos funcionários, mas reclamou da demora para se submeter a exames clínicos. "Chega a três meses".
A Associação de Moradores luta para que a Prefeitura pelo menos amplie o horário de funcionamento das três unidades de saúde do bairro, que funcionam de segunda a sexta-feira em horário comercial. Hoje, se algum morador precisar de atendimento médico após as 18h, precisa se deslocar a uma unidade distante do bairro. A Secretaria de Saúde foi procurada, mas não deu retorno à reportagem.
Segurança
Entre as ocorrências mais atendidas no Morro do Meio pela Polícia Militar, ganha destaque as de perturbação de sossego público. No primeiro semestre de 2008 foram atendidos 22 casos, contra 35 no mesmo período desse ano. Já os homicídios, crimes que mais preocupam as autoridades policiais, sofreram uma redução de sete para três durante o mesmo período.
Aconteceu o mesmo com os portes ilegais de armas de fogo e assalto em residências (um contra zero para cada tipo) e com os furtos de veículos (três a um). Já os furtos em residências aumentaram de nove para 14; os de roubo à pessoa de dois para quatro; e de assalto a estabelecimento comercial (zero a um). A PM não registrou casos de tráfico de drogas nos dois períodos.
Projeto social
Cozinha comunitária serve mais de 100 crianças
Mais de 100 crianças e 20 mães carentes estão cadastradas na Cozinha Comunitária do Morro do Meio, que oferece a elas, de segunda a sexta-feira, almoço de graça a partir do meio-dia. O programa funciona há oito anos como braço social da Fundação Pauli-Madi, que faz o repasse de carnes, arroz, feijão e o gás usado no cozimento dos alimentos. Frutas e legumes descartados para vendas são doados por pequenos comerciantes do Morro do Meio e Nova Brasília.
A voluntária Neusa Maria Zendron, que coordena a cozinha, diz que boa parte das crianças atendidas tem no almoço servido na sede da Associação de Moradores como única refeição do dia. "Tem criança que chega de manhã, junto com as cozinheiras, e ficam à espera de algum pão e um gole de café com leite. Essas crianças não têm o que comer em casa, principalmente após o meio de cada mês, quando o salário dos pais acaba", declara Neusa, que conta com a ajuda de outras 25 voluntárias que se revezam diariamente.
Ao meio-dia em ponto Neusa faz soar o apito que leva pendurado no pescoço. É o som preferido das crianças, pois as chama para comer. "É o aviso que a comida está pronta. Isso aqui é a salvação da minha família", diz Carmem Lucia Carneiro da Silva, que aproveita o benefício com quatro filhos entre 1 e 13 anos de idade. Após lavar as mãos com água e sabão e rezarem o Pai Nosso e Ave Maria rapidamente, mães e filhos aproveitam o cardápio, que numa recente terça-feira era o seguinte: arroz, feijão preto, polenta, batata e frango fritos, farofa e salada de cenoura, rabanete, brócolis e pepino. "É uma delícia", diz Juliano Ribeiro, 12 anos.
Valas a céu aberto
As ruas também não contam com ciclovias e nem calçadas, obrigando ciclistas e pedestres a disputarem espaço com veículos. Também há trechos sem iluminação pública. O secretário Lange diz que de cada dez reclamações que chegam à sua regional, oito se referem a pedidos de limpeza de valas e para manter transitáveis as vias, pelo menos as que por onde circulam as duas linhas de ônibus que fazem a ligação com o terminal em Nova Brasília. O secretário afirma que a situação deverá melhorar se verbas federais oriundas do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) forem liberadas para projetos de saneamento em Joinville, conforme está previsto.
Enquanto isso, benfeitorias acontecem lentamente. Para se ter uma idéia, somente nos próximos dias é que o Morro do Meio deverá ganhar seu primeiro posto de combustíveis. O bairro não conta com agência de correio, banco e nem qualquer praça pública equipada com brinquedos ou aparelhos de ginástica. "Áreas de lazer também são uma velha reivindicação", acrescenta Lucio Dias, presidente da associação que representa os moradores.
Confirmação
A situação precária do Morro do Meio vai ao encontro do levantamento inédito realizado pela Fundação Getulio Vargas e pela organização não-governamental (ONG) Trata Brasil, que aponta que o esgotamento sanitário é o serviço público de pior qualidade oferecido no país. O levantamento, com o ano/referência de 2007, revela que Joinville, num ranking das 79 cidades brasileiras com mais de 300 mil habitantes, ocupa a 53ª posição na qualidade de serviços prestados. Segundo a ong, o Brasil melhorou o alcance da prestação dos serviços de coleta e de tratamento de esgoto com a retomada dos investimentos no setor em 2003, mas não avançará sem o engajamento das prefeituras.
Greve dos servidores da Prefeitura 2011
Há 13 anos
10 comentários:
Sou joinvillense com "orgulho" e morei no bairro Morro do Meio por 29 anos e acompanho as noticias deste jornal via internet quase que diariamente, pois é um das minhas opções de leitura, pois já não moro mais no Morro do Meio, nem em Joinville e nem no Brazil.
Cresci em uma época em que no bairro não havia nem iluminação pública, nem água encanada e muito menos transporte público( que horror isso), mas as pessoas são adaptaveis e isso é um problema, nós não deveriamos ser assim!
Vi o fim da década de 80 e com ela insignificantes modanças acontecerem, veio os anos 90 e as mesmas coisas continuarem, apesar que no finalzinho algumas coisas relevantes aconteceram, finalmente o ano 2000, modernidade, século 21, muitas tecnologias e o Morro do Meio ainda no século 20!!! Que irônia isso!!!
Sinceramente, um dia eu CANSEI disso tudo e resolvi mudar, mudar de cidade, de país. Eu e minha esposa um dia acordamos e decidimos que para sermos a diferença, precisaríamos mudar, radicalizar e saimos em busca de coisas novas e aprendizados importantes tanto para nossas vidas como para os dos outros também. E viemos parar em New Zealand, na cidade de Auckland, moramos aqui á dois anos e somos muito FELIZES, como desejamos que um dia nossa cidade seja assim como aqui é, como sonhamos que nosso antigo bairro Morro do Meio um dia seja pelo menos um ponto de referência de bairro modelo...
Uma coisa eu decidi, se um dia eu voltar, EU QUERO SER PREFEITO DE JOINVILLE!!!!!adriano s. santanna
Moro a 12 anos no bairro e até hoje é essa tristeza. Não consigo entender o que o governo de Joinville faz pela cidade. "NADA", morei um muitos outros estados, e em cidades pobres com pouquíssima arrecadação, só que o cenário era muito diferente. Uma das coisas mais absurdas é que temos que pagar adiantado o asfaltamento das ruas, e depois o poder público arrota aos quatro ventos, como se fosse um grande feito de administração...quem pagou???
É lamentável morar nesse bairro.. como investi tempo e dinheiro, e se não quiser dilapidar meu patrimônio, sou obrigado a ficar, pois os imóveis aqui estão muito abaixo do valor de mercado.
Temos o problema com as enchentes que bloqueiam o acesso ao bairro, até hoje sem solução...o atual prefeito inclusive prometeu uma solução, e até agora nada...já vão 8 meses de mandato, que diga-se de passagem, deveria já estar no final....vai ser um saco ter que esperar mais 3 anos e quatro meses.
É só andar pela cidade...nada mudou pra melhor...só piorou...aumentaram os buracos...e a falta de vergonha na cara...isso nem se falando do aumento das passagens dos ônibus. Somos umas das cidades mais caras do país, só otário que não vê que tem muita maracutaia...Hoje andar de carro fica mais em conta que de ônibus..pode isso???
Cadê o prefeito defensor das causas sociais???
Creio que meu desabafo deve ser o de muitos cidadãos, não vou me calar, enquanto houver esse descaso continuarei criticando e apontando o que acho de errado.
Moro a 11 anos neste pobre bairro que é so lembrado em tempo de eleições,ai vem promessas de todos os tipos.até candidato dentro da água causada por cheias.Prometeu dar uma solução e até agora nada.Mas pensando no outro lado subiu a passagem de onibus.Bem que deixei de usar onibus,pois sai mais barato ir de carro trabalhar.Sem contar a super lotação que é.
O iptu todo começo de ano, vem.ai se não pagar.protesto come solto,vai para spc e ai por diante.
As nossas ruas são todas de barros só tres que são asfaltada.Aqui no morro do meio nós sofremos quando tem sol e com chuva,com sol muita poeira e com chuva muita lama e buracos.
Eu espero que o prefeito que esta ai acorde e comece agir.(votei nele)
Eu fico triste quando uns politicos vem no tempo de eleições.e dizem que fizeram isso e aquilo e esqueceram do povo que paga até o salario deles,um exemplo o asfalto,o povo uma grande parte e esses cara de pau e dizem que foram eles que fizeram.onde que o povo paga sozinho,uma parte dos impostos, e outra do bolso dos moradores das ruas asfaltadas.
Eu vou continaur criticando sempre que for preciso.
Duas informações a corrigir: A Cozinha Comunitária fechou e não existe mais o posto odontológico na escola Ruben Roberto Schmiclin desde 2007. E por falar em escola, esta mesma tem 1100 alunos. Há uns dez anos já poderiam ter construído uma nova escola municipal ou estadual, mas o que se ouve é que a verba foi desviada várias vezes. Não se pode pensar em qualidade na educaçao com superpopulação...
Moro há 15 anos neste bairro e realmente é um bairro esquecido pelo poder público, que só se lembram que existe Morro do Meio em época de eleição, e parece que nesta gestão não esta sendo diferente.
Quando surge a chance do povo mudar e fazer valer os eu voto, o que acontece? eles se deixam levar por mais e mais promessas e acabam reelegendo os mesmos vereadores que não fazem outra coisa senão, enrolar o povo, durante a campanha promete de tudo para o povão e depois de eleito trabalham em favor dos ricos e poderosos dessa cidade, vamos nos unir e dar um basta nisso, alguns desses vereadores vão ai no Morro do meio pedir voto nas eleições de 2010, tá na hora dos Joinvilenses acoirdarem e parar de trocar voto por promessas, o Carlito deu um bom exemplo disso, deu ou não deu?
Convido o prefeito e os vereadores a ficarem apenas uma hora parados num ponto de ônibus no final da linha do morro do meio...é tanto pó, mas tanto pó que já é caso de saúde pública. Será que nós moradores teremos que tomar medidas extremas pra fazer o executivo dessa cidade tomar medidas??? É inconcebível nos dias atuais, na maior e mais rica cidade do estado ter tanta rua sem asfalto, ainda mais sendo rua onde circulam os ônibus. Prefeito e vereadores...vocês não tem vergonha na cara quando dizem que fazem parte do governo de Joinville??? Eu me esconderia!!!! Tá na hora de haver mudanças...O povo é bobo, mas uma hora pode acordar!!!
Lembrem-se disso!!!
Os moradores do Morro do Meio pedem ajuda..olhem pelo nosso bairro com mais carinho..pagamos impostos como todos os restantes.
bairro pobree abandonado
POBRE MORRO DO MEIO O BAIRRO MAIS ABANDONADO DA CIDADE SO PORQUE NAO TEM RENDA COMO OS OUTROS BAIRROS DA CIDADE O MORRO DO MEIO TAMBEM É JOINVILLE E PAGA IMPOSTOS E VOTA
Moro no Morro do Meio há 11 anos e durante 10 anos, não vi nada de bom,a começar pela Associação, quando era da diretoria da Luzia, eu sempre sabia quando tinha reunião, e quando ela queria reinvindicar alguma coisa, hoje em dia nunca sabemos quando vai haver uma reunião. Falta de tudo neste bairro, e falta também alguém que brigue por ele sem interesses próprios, pois até agora é o que vejo, e o Prefeito atual, nunca vai ver este bairo como um todo, porque os munícipes que nele vivem, não estão sintonizados com aqueles que se consideram líderes do bairro. Por isso, não vai mudar nunca...
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