Quem é "João de Deus" ou "John of God"

O jornal Gazeta de Joinville já está na cidade goiana de Abadiânia para produzir uma reportagem especial sobre o fenômeno conhecido por "João de Deus" e as curas a ele atribuídas por meio de intervenção de cirurgia espiritual.

Os fatos observados sob um olhar crítico – porém despido de preconceito – mostrarão a realidade da pequena cidade goiana, que recebe uma horda de milhares de pessoas diariamente, das quais cerca de oitocentas são selecionadas por dia para serem operadas pelo médium.
Pela fama que já rompeu fronteiras e pelo espantoso número de 10 milhões de pessoas atendidas até hoje, o médium "João de Deus", já está sendo considerado por muitos o sucessor de Chico Xavier.

No exterior, "João de Deus" é conhecido há muito mais tempo do que no próprio país onde reside. Na Europa, sua popularidade aumentou ainda mais depois que um grupo de cineastas alemães produziu um documentário retratando as sessões de cura do médium brasileiro.
Na pequena cidade de Abadiânia, destacada pela mídia como uma ‘grande enfermaria a céu aberto’, é comum encontrar pessoas das mais diversas nacionalidades, famosos, anônimos, muitos cadeirantes, que vêm em busca de tratamento espiritual, gente de todas as idades e profissões, que buscam pelas mãos do médium a cura para algumas doenças que a "ciência" ainda não conseguiu encontrar.

Acompanhe, com exclusividade a reportagem completa na próxima edição impressa da Gazeta.


Folha de S. Paulo, Época, Galileu e muitas outras já falaram sobre João de Deus

Artigo publicado na semana passada na Folha de S. Paulo:

"Certas manifestações não se questionam, cabe apenas vivenciá-las"
por Barbara Gancia •

Até a semana passada, nunca tinha ouvido falar em João de Deus.

Mas no último domingo fui almoçar na casa de um amigo e acabei saindo de lá decidida a ir até Abadiânia (GO) para conhecer o trabalho do homem que é considerado o sucessor de Chico Xavier.

Luiz Pastore, o amigo que ofereceu o almoço, vem a ser a mesma pessoa que hospedou, no fim do ano, em Paraty (RJ), Christian Martin Wölffer, 70, o empresário alemão que morreu depois de ser atropelado por uma embarcação. Saiu em todos os jornais e telejornais, e até agora a polícia não identificou o responsável pelo acidente.

Quando veio recuperar o corpo do pai para levá-lo de volta aos EUA, a filha de Christian Wölffer passou uns dias na casa de Luiz. E deu a ele o DVD de um documentário realizado no Brasil, que ela ajudou a produzir, intitulado "John of God".

João de Deus é um médium espírita que realiza "cirurgias espirituais" na mesma linha de Zé Arigó, que nos anos 60 ficou famoso por "incorporar" o "doutor Fritz". E, como Luiz sofre de um sério problema no quadril que o faz padecer de dores constantes, resolvemos interpretar a sincronicidade dos fatos como uma espécie de chamamento.

Formamos um grupo de quatro pessoas com Luiz, um funcionário dele que está com câncer na medula, o cineasta Bruno Barreto, que foi de curioso, e eu, que entrei na história por conta de uma doença na família.

Chegamos à pequena Abadiânia, localizada a 115 km de Brasília, na tarde de terça-feira. Não imaginava que um povoado com cerca de 10 mil habitantes nos cafundós de Goiás pudesse ser um destino internacional tão requisitado.

A cidade, que mais parece uma grande enfermaria, gira em torno da Casa D. Inácio de Loyola, onde são realizadas as "cirurgias" em cerca de 800 pessoas ao dia. De cada cinco visitantes que andam pela rua, dois se locomovem de cadeira de rodas. E ao menos quatro são estrangeiros.

Para acomodar essa clientela, os cartazes do comércio de Abadiânia são escritos em inglês e há uma profusão de tradutores trabalhando na cidade, que é toda equipada por rampas de acesso para deficientes.

Na quarta-feira, antes de o sol raiar, nós já estávamos na casa, eu com a foto do meu familiar embaixo do braço e Bruno com sua câmera de filmagem rodando a mil. Depois de uma reza, o médium começou a operar diante de todos os presentes. Abro aqui um parêntese para esclarecer que não sou mais tonta do que a média.

Pois eu vi com meus olhos (que a terra há de comer e sofrer para digerir) médium João abrir um talho de 5 cm no seio de uma mulher sem que ela esboçasse a mínima reação. Ele então enfiou a ponta de uma tesoura cirúrgica dentro do corte e cutucou a incisão com vigor. Mas apenas umas poucas gotas de sangue escorreram sobre o peito da "paciente". Finalmente, ele retirou lá de dentro o que parecia ser um caco de cristal, bateu no ombro dela e disse: "Pode ir".

Depois da cerimônia, ainda meio grogue pela intensidade dos eventos presenciados, conheci um americano que alega ter sido curado de cegueira. Estive também com um engenheiro formado em Stanford que diz ter se livrado de convulsões. Não me pergunte se voltei de Abadiânia cética ou crédula. Certas manifestações não se questionam, cabe apenas vivenciá-las. O tempo dirá se Luiz, seu funcionário e meu familiar irão ou não se restabelecer.

Revista Galileu destaca curas feitas por João de Deus

A revista Galileu, publicada pela Editora Globo, trouxe na edição de dezembro uma reportagem com João Teixeira de Faria, o João de Deus, médium popular de Abadiânia (a 90km de Goiânia). O texto procurava desvendar o que existe por trás das ações do homem que atende cerca de 800 pessoas por dia e quais são, afinal, as comprovações de que ocorrem curas na Casa Dom Inácio.

A revista procurou narrar também o surgimento do médium, em Itapaci. "Certa vez, em visita com a mãe a um povoado vizinho, pediu a ela que regressassem assim que possível, pois uma tempestade logo cairia. Como nada indicasse chuva, ela não deu crédito, mas concordou em procurar abrigo na casa de um conhecido. Pouco depois, uma forte chuva derrubou ou danificou um quarto das construções do lugar", diz o repórter.

A Galileu explica que João de Deus passou por diversos Estados: Bahia, Tocantins e Maranhão. Na época, anos 1950 e 1960, ganhava a vida como pedreiro, alfaiate e garimpeiro.
Segundo a Galileu, João de Deus chegou a ser preso sob acusação de prática de charlatanismo. "Sofri violências na prisão. Mas continuei na minha missão", disse.

A fase de viajante de João de Deus, descreve a revista, terminou em 1976, quando chegou a Abadiânia. Galileu informa que hoje a cidade tem 26 pousadas com 1,5 mil leitos, a maioria destinados aos "pacientes" de João de Deus. "São cerca de 500 empregos gerados pela Casa de Dom Inácio. Isso significa que ela tem um peso econômico maior do que a prefeitura", afirma o repórter.

A reportagem afirma ainda que João de Deus quase abandonou o Estado. Após pressão da comunidade de médicos, ele deixou Anápolis e pensava em sair de Goiás, mas uma carta de Chico Xavier o alertava que a região era abençoada.

O autor da reportagem procura desvendar a popularidade de João de Deus no município. "Rodar por Abadiânia a bordo da sua minivan Zafira prata é como estar ao lado de um político popular. As pessoas mantêm uma distância respeitosa. Mas quando ele as chama para conversar, se aproximam sorridentes, apertam sua mão, abraçam", descreve a reportagem.

Outro aspecto ressaltado pela Galileu refere-se à bondade de João de Deus. Ele distribui diariamente cerca de mil pratos de sopa à população carente, além de pagar faculdades para 12 pessoas.

Mais conhecido fora do País

Em 2007, a revista Época enviou uma equipe de reportagem para Abadiânia. Sob o título: O Curandeiro Globalizado, a revista tenta resumir "A vida de João Teixeira de Faria, conhecido como João de Deus - ou John of God -, o cirurgião espiritual de Goiás que é mais famoso fora que dentro do Brasil".

A Época também relata que a maioria dos 800 "pacientes" atendidos diariamente são estrangeiros, que vem em busca das cirurgias espirituais, visíveis e invisíveis, efetuadas por João de Deus, – o mesmo epíteto que o papa João Paulo II recebeu em sua primeira visita ao Brasil, em 1980. Neste caso, o João que atrai multidões – diz já ter atendido 10 milhões de pessoas, o que exigiria receber mais de 500 por dia, todos os dias, durante 50 anos – se chama João Texeira de Faria, segundo a revista. A matéria destaca que João de Deus foi tema de uma reportagem da TV americana ABC, em 2005, e é o protagonista de um documentário do canal Discovery.

A narrativa do repórter Marcelo Zorzanelli:

João de Deus chega à Casa cedo, por volta das 7h30 da manhã, e senta-se num sofá do pequeno escritório anexo aos salões principais. Nas paredes, imagens de santos, retratos de gente atendida por ele, uma foto sua ao lado do médium mineiro Chico Xavier, diplomas de honra ao mérito emitidos por associações militares, entidades policiais e Câmaras de Vereadores. As paredes brancas com rodapé azul de 1 metro de altura, onipresentes na Casa, formam um corredor claustrofóbico que leva ao salão principal, onde cerca de 300 pessoas de todas as idades estão sentadas, de olhos fechados e em silêncio.


João não ergue a vista para quem o espera. Ele está descalço e navega em passos incertos até uma cadeira de espaldar alto. A seu redor, uma dúzia de buquês de flores frescas, estátuas de santos e uma pedra de quartzo que serve de gruta para uma Pietà. Ele chama dois de seus assistentes e dá uma mão a cada um. Estremece, revira os olhos, sacode os ombros e retesa os braços, que deixa cair, como se uma corrente elétrica passasse por seu corpo. Ele se recompõe. Até as 5 da tarde, estará em transe, atendendo as centenas de pessoas que formam uma fila em frente a sua cadeira. Seu ar normalmente contrito dá lugar a movimentos amplos dos braços e uma genuína hiperatividade. De acordo com ele, quem está ali agora é o "doutor José Valdivino", uma das 30 entidades que João afirma usar seu corpo como "aparelho" – designação da literatura espírita – para curar pessoas. Entre as supostas entidades estão figuras históricas como o sanitarista Oswaldo Cruz, Santo Inácio de Loyola e Santa Rita de Cássia.


Entre os que o procuram estão pacientes de câncer, esclerose, paralisia cerebral, bócio, nódulos mamários, cefaléia, vertigem, dor abdominal, lombalgia, problemas oculares, aids. João diz não prometer curas, que segundo ele dependem "da vontade de Deus". Na ante-sala onde se forma a fila, são exibidos vídeos com testemunhos de curas milagrosas. Uma equipe de auxiliares informa os que esperam atendimento quanto aos primeiros passos: vestir-se de branco para "facilitar o acesso à aura", que tipo de comida evitar. Em seguida, vão todos para a fila. Uma jovem americana, de olhos fechados, medita com uma foto do presidente George W. Bush nas mãos. "Concentrem-se nas suas doenças," diz uma auxiliar de João. "Os espíritos estão examinando vocês, e farão um relatório para facilitar o atendimento."

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