TÂNIA EBERHARDT: Eu nunca fui PT. Mas eu tinha que escolher o menos pior.

A CPI das Contas do Município foi encerrada no dia 26 de agosto com forte embate entre democratas e peemedebistas. O relatório que Tânia Eberhardt (PMDB) fez durante cinco meses foi derrubado no dia 25 pelo tucano Lauro Kalfels, pelo democrata Alodir Cristo e por Juarez Pereira (PPS), que não se pronunciou até o final da votação.

Nomeado novo relator, Alodir Cristo escreveu outro parecer em 24 horas, destruindo a principal conclusão de Tânia, que culpava Marco Tebaldi pelo não fechamento das contas da prefeitura. Alodir disse que o sistema funcionava corretamente e que o problema estava com os servidores.
Depois de meses de apuração e investigações, a CPI termina sem saber qual é o erro e quem será punido pelo caos nas informações na prefeitura. Não satisfeita com o resultado, Tânia Eberhardt vai enviar todo o material colhido ao Ministério Público.

Em entrevista à Gazeta de Joinville, a peemedebista fala sobre os ganhos e perdas da CPI e sua situação como líder do PMDB em Joinville.

Entrevista • Tânia Eberhardt

A posição de Cristo
Como servidora pública que fui por 33 anos, fiquei muito indignada quando alguém acusa os servidores. Vou te dizer o porquê. Tem o bom e o mau servidor público. Se o servidor é ruim, o chefe dele é pior. Porque essa história de colocar a culpa no servidor e dizer que o servidor público a gente não mexe, isso é mentira. Tem o estatuto do servidor público e disciplina para o servidor. Se ele não cumprir com as suas obrigações e com suas responsabilidades, ele pode ser mandado embora sim. Agora é fácil acusar o servidor. Se o servidor boicotou é porque faltou chefe, faltou gerente. É fácil depois que tudo aconteceu jogar a culpa nos servidores. Quais servidores? Quem foi?

O resultado da votação
Era mais ou menos esperado que dois dos vereadores não iriam concordar em atacar o ex-prefeito. Mas um era neutro.

Relatório político
Doeu quando o relator (Alodir Cristo) leu que o relatório anterior (de Tânia) não condiz com as provas. Eu não fiz nada, eu não disse nada que não estivesse com provas. Depois é o meu relatório que é o político? Porque eu deveria ter obrigação com o Tebaldi, já que um dia eu tive um cargo comissionado no governo dele.

Acusada de ingratidão
Então alguns me atacam, dizendo que sou ingrata. A gratidão precisa existir. Mas por gratidão não se mata e não se rouba. Não é porque eu recebi um favor ontem ou hoje é que eu vou assinar embaixo das falcatruas que você venha a fazer. Mesmo sendo da base do Carlito, tem coisa que não concordo. Eu não teria exonerado o contador naquele momento. Eu esperaria. Eu teria deixado João Marcos terminar esse trabalho.

Cristo: Agressividade ou arrogância?
(Risos). Eu não sei. Para quem participou do processo da CPI, que poderia ter pedido mais provas, falado com mais gente, afirmar que o relatório não condiz. Deve ter algum problema. Fazer um relatório em 24 horas, também deve ser um problema. Acho que tem algumas coisas que o Cristo não escreveria ou não fizesse.

As contas da FCJ
Esse negócio está resolvido. Nós estamos falando dessas contas desde 1998 e 1999. Por que razão essas contas ficaram paradas na Câmara por uma legislação inteira e ninguém fez nada? Na gestão passada, a Comissão de Legislação teve quatro relatores e nenhum deles mexeu com isso.

Possível vingança tucana
Pode ser que sim. Se o intuito tivesse dado certo. Se tinha o objetivo de fazer a relatora da CPI (Tânia) mudar de ideia, foi estratégia não realizada. Foi uma estratégia equivocada.

Eleições 2010
(Rindo). Não sou candidata à deputada. Sou um ser político, figura política. Sofro muitas pressões, inclusive da família, para que eu deixe a vida política. Uma certeza tenho hoje, não sou candidata em 2010. O que vai acontecer depois disto, eu ainda não sei. Tenho um contrato com a comunidade joinvilense de cumprir o mandato. Fiz muitas coisas boas na minha vida pública. Errei também. Isso me coloca em algumas situações difíceis. Porque tenho certa independência.

Fidelidade partidária
Acho que você tem que ter fidelidade ao partido. Mas essa fidelidade tem que ter limites. Esse corporativismo, ter que concordar cegamente com o que o Luiz Henrique diz, não é bem assim. Nós temos o direito de criticar. Se não o corporativismo vira sacanagem, burrice.

PMDB nas eleições
Nós temos dois nomes para deputado federal, embora não tenha sido oficialmente divulgado, o deputado Mauro Mariani e Dalmo de Oliveira, que é médico. Temos alguns nomes estaduais como Simone Schramm, o vereador Jucélio Girardi, Romualdo França. A executiva do partido decidiu que só vai ter dois candidatos a estadual e dois candidatos a federal. Porque o PMDB não tem um deputado estadual e temos que recuperar um espaço que o PMDB perdeu por tentar ajudar os outros partidos. Temos sido chamados de ingratos. A Tânia é uma ingrata, teve cargos no governo Tebaldi, e agora fez isso com ele. Eu fui ingrata? O PMDB abriu mão da candidatura para apoiar o Tebaldi. Quem era o Tebaldi antes disto? Era um servidor. Ele foi prefeito porque o PMDB ajudou.

Mágoas do Governador
(Sem jeito. Mudou de assunto e fez uma brincadeira) Temos algumas alas.Temos algumas divergências, mas não temos brigas.

Relação LHS e Joinville
(Um suspiro e outro riso). Continua, continua. Houve aquele episódio depois das eleições. Deu um racha. Principalmente porque foi a Tânia que brigou com o Luiz Henrique. Mas aí é que tá. É uma questão de perfil. Eu nunca fui PT. Mas eu tinha que escolher o menos pior. Eu não apoiaria o outro de jeito nenhum, por toda a ajuda que o PMDB já tinha dado aquelas figuras lá.

Decisão ousada
Ele (Tebaldi) disse que nós é que tínhamos sido ingratos. E lá atrás LHS já tinha dito que era da Tríplice Aliança. Nós já sabíamos disto. Mas eu ousei. Eu tinha dois caminhos. A tríplice aliança ou o outro. Todo mundo diz que o Luiz Henrique manda em nós. Nesta última eleição ficou provado que não é bem assim.

O "Big Boss"
O Luiz Henrique tem essa fama que todo mundo obedece e que o LHS manda. Nos momentos em que isso aconteceu é porque o PMDB se sujeitou a isso. O PMDB se acomodou em alguns momentos pelo fato de que o Luiz Henrique era a grande liderança e era bom de voto. Ele vai lá, ganha, e nós ficamos contratados na prefeitura. Vi que esse não era o desejo dos peemedebistas (de manter a tríplice aliança). Tinham sofrido muito na gestão anterior. Nesta ingratidão aí. Talvez eu não tenha feito da melhor forma. LHS ainda vai manter o que agora chama de Poli Aliança, por gratidão. Mas eu não sei que caminhos o PMDB vai tomar.

Chapa pura
Eu tenho uma posição: sou por candidatura própria e sou contra as coligações. Quando começamos a coligar é que começamos a perder. Eu sou da opinião que o PMDB tem que ter candidato próprio de cabo a rabo. Eu coloquei meu nome a candidata a vice-prefeita para enfrentar candidatos fortes. Carlito era um candidato forte e que já vinha 20 anos tentando a prefeitura. Darci de Matos tinha a máquina pública nas mãos. E Kennedy também era forte. O Mauro Mariani era o mais fraco porque vinha de fora. Mesmo assim, eu defendia chapa pura. Porque talvez a chapa pura pudesse trazer o PMDB de volta. Mexer com o sangue do peemedebista.

O nome "Tânia"
Eu até tinha pretensões de ser candidata à prefeita nas últimas eleições, mas não tinha dinheiro para a campanha.