Se Carlito diz que não consegue dormir, imagine os moradores do Juquiá

JACSON ALMEIDA
jacson@gazetadejoinville.com.br

Em artigo publicado na segunda-feira (14), no jornal Notícias do Dia, o prefeito Carlito Merss disse que não conseguiu dormir por causa do volume das chuvas, que o fez lembrar o drama das cheias em novembro do ano passado e janeiro e março deste ano. Ele destaca que neste ano a catástrofe não se repetiu devido ao trabalho da prefeitura. No entanto, o prefeito se esqueceu das famílias do Juquiá.

Além de viver em residências precárias, moradores da ocupação do Juquiá e do conjunto habitacional Ulysses Guimarães não têm condições nenhuma de trafegar pelas ruas do bairro. Crianças brincam na lama, que divide espaço com o esgoto a céu aberto.

A equipe de reportagem da Gazeta de Joinville esteve no bairro no mês de julho e nada mudou. Agora, é impossível identificar a rua Adilson Funaro em meio à lama e valas.

O bairro Ulysses Guimarães fica distante seis quilômetros do centro. De 15 quilômetros de vias, apenas 1,5 quilômetro é asfaltado. O resto é barro que, além de ruas, é espaço para crianças brincarem, ficando vulneráveis a diversas doenças causadas pela falta de saneamento.

Segundo dados do Ippuj (Fundação Instituto de Pesquisa e Planejamento para o Desenvolvimento Sustentável de Joinville), 23% da população desta região tem entre zero e nove anos. Outra grande parcela, 21%, tem de dez a 19 anos. Ou seja, quase metade da população tem que usar diariamente vias precárias para ter acesso à educação.

Na ocupação do Juquiá, que fica na rua Adilson Funaro, famílias vivem em barracos feitos de madeiras que não chegam a ser maiores do que três banheiros convencionais. Mais de 64% delas não possuem casas com até 20 metros quadrados. Se não bastasse, para irem trabalhar, moradores dprecisam sujar os pés e a roupas de lama.

Corpo de jovem é transportado em carrinho-de-mão

No último Dia dos Pais, o morador Francisco Boroviak não pode festejar a data. Seu filho, que sofria de síndrome de down, começou a passar mal. Como onde mora é de difícil acesso, os paramédicos não conseguiram chegar a tempo e o rapaz, de 26 anos, morreu no local.

Moradores contam que quando o filho de Francisco passava mal, tinha que ser carregado com um carrinho de mão até onde a ambulância parava. O rapaz pesava 110 quilos. O morador tem a casa regularizada, paga água e energia elétrica. Francisco lamenta o esquecimento do prefeito e dos vereadores.

Em junho, as famílias da ocupação do Juquiá tentaram fazer uma "vaquinha" para colocar saibro na rua, mas nem todos tiveram condição. Segundo o censo feito pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), aproximadamente, 18,42 % das famílias do Juquiá não possuem renda alguma, 26,3% ganham menos que um salário mínimo e 6,57% ganham R$ 465.

Claudinei Rodrigues de Lima, que também tem sua residência regularizada, diz que mora há cinco anos no local. O seu problema é na hora de ir para o trabalho. Ele conta que leva mais de 10 minutos para andar 100 metros na rua Adilson Funaro por causa da lama. É um verdadeiro obstáculo para a comunidade andar entre a lama e as valas.

No mês passado, agentes da Secretaria Regional do Paranaguamirim colocaram um caminhão de saibro na rua, que não mudou em nada o local. Seria preciso, no mínimo, seis caminhões de saibro para arrumar a via e dar condições de tráfego.

Além disso, segundo moradores, quando o caminhão trouxe o saibro, servidores mandaram as famílias espalharem o material porque não havia máquina na secretaria.

A mesma dificuldade continua com relação às crianças que estudam. Quando vão para a escola, as professoras criticam os pais porque os filhos chegam sujos na aula. Claudinei conta que não tem como seu filho não se sujar com a lama. O drama das famílias com relação às cheias ainda continua. Nas últimas semanas, os moradores passaram por dificuldades. Em alguns pontos chegou a encher.

Saibro A equipe da Gazeta entrou em contato com o secretário regional do Paranaguamirim, Lioílson Mário Corrêa, para falar sobre o problema dos moradores. Na terça-feira (15), servidores da secretaria distribuíram 20 metros de saibro e começaram a arrumar a rua.

O secretário explica que a cota de saibro para a regional é de 950 toneladas por mês, quantidade 100% maior que a gestão anterior.

Segundo Lioílson, como o dinheiro destinado ao saibro é pouco no orçamento, houve um aditivo de R$ 500 mil para aumentar o material de todas as secretarias.

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