ANITA GARIBALDI: Um bairro sem posto de saúde

Dinilson Vieira
especial para a Gazeta de Joinville

Inspirada na mesma determinação de luta de Anita Garibaldi, personalidade que ficou famosa na Revolução Farroupilha, a Associação de Moradores do bairro homônimo à guerrilheira trava uma batalha com o prefeito Carlito Merss. Sem data para terminar, o embate é para cobrar da Prefeitura antigas reivindicações dos moradores, que começam pela construção de um posto de saúde, pois o bairro não conta com nenhum; passam pela demolição de um prédio onde funcionava um supermercado e que se transformou em banheiro público e ponto de consumo de drogas; e termina com as obras de alargamento da rua Marquês de Olinda, cujo trecho em questão cruza com a rua Henrique Dias se transformou em armadilha para motoristas desavisados e os acidentes acabam sendo frequentes.

Seria injusto descrever uma radiografia sobre as vantagens e desvantagens de residir no bairro que serve de endereço da rodoviária do município e cuja distância média, do Centro é de apenas dois quilômetros, sem antes citar um encontro que o presidente da associação, Ozório Rosenstock, teve em 22 de abril passado com o prefeito e que contou com a participação da secretária regional Centro, Rocheli Grendene. Rocheli, que não retornou à reportagem, foi candidata à vereadora nas eleições passadas. Ela não foi eleita, mas recebeu de Carlito o comando da secretaria regional mais importante da cidade, porque cuida dos bairros América, Atiradores, Bucarein, Centro, além do próprio Anita Garibaldi. Localizada na rua Inácio Bastos, em frente ao estádio Arena, a sede da Regional fica na contramão de quem reside no Anita.

Na ocasião da reunião com o prefeito, Ozório apresentou ao prefeito uma lista de 10 obras que a entidade entende ser prioritárias para o bairro, pois a ausência das mesmas "afeta direta e indiretamente a vida de cada morador". Carlito recebeu a lista e, segundo Ozório, prometeu dar uma resposta em um prazo de 30 dias, o que nunca aconteceu. "A coisa é tão feia que nem uma desculpa nós ouvimos. Mas não vamos desistir de nossa luta", afirma.

Saúde: Atendimento só no São José

De acordo com estimativa da Prefeitura, a população do Anita Garibaldi em 2008 era de aproximadamente 8,4 mil habitantes, dos quais 16% (ou 1.280 pessoas) se encontravam na faixa de 60 anos ou mais – ou seja, um público propício a procurar mais o serviço público de saúde, principalmente em tempos de gripe suína. "Quando essas pessoas precisam de médico, são obrigadas a ir ao Hospital Municipal São José, que atende gente de todas as partes da cidade, ou a outra unidade de saúde na cidade. Um bairro tão importante como o Anita não tem posto de saúde até hoje", declara Ozório. A construção de um posto faz parte, inclusive, da lista de reivindicações que a associação tentou emplacar, sem sucesso, no Orçamento Participativo (OP) da Prefeitura. O objetivo do OP é discutir com os moradores onde serão investidos R$ 10 milhões do orçamento do ano que vem.

A aposentada Lutomira da Silva, 61 anos, moradora da rua Hermann Metz, sabe descrever as agruras de viver num bairro sem posto de saúde. Com constantes dores nas costas, ela se desloca até o Hospital São José quando necessita passar pelo ortopedista. "Se eu procurar ajuda no São Marcos é pior. No hospital eu espero horas, mas consigo atendimento", afirma ela. "Não entendo como o Anita, um bairro tão importante, não tenha seu próprio hospital".

SEGURANÇA: O tipo de crime praticado no Anita Garibaldi que mais preocupa autoridades policiais é o roubo, em que o criminoso faz uso de violência física ou psicológica para amedrontar sua vítima, geralmente com a utilização de arma de fogo. De acordo com o 8º Batalhão da Polícia Militar, unidade que cuida de 25 bairros da zona Norte de Joinville, em julho desse ano houve apenas dois roubos a estabelecimentos comerciais no Anita, número aparentemente baixo, mas que não significa que o crime está sob controle, já que a ação de bandidos está sempre migrando de uma região para outra. No mesmo Anita, a Polícia Militar não registrou nenhum assalto a residência em 2006, porém ocorreram quatro crimes em 2007 e três em 2008. O comandante, tenente coronel Edivar Antonio Bedin, explica que a sua unidade entrou recentemente num ciclo de dados mais confiáveis porque trabalha com o sistema pós-crime. Em resumo, uma equipe de policiais faz um levantamento minucioso para confirmar – ou não – a primeira informação que chega ao Centro de Operações da Polícia Militar. "Assalto é assalto e não tem nada a ver com furto qualificado", diz o comandante.

COMÉRCIO Na rua Rio Grande do Norte, no Anita Garibaldi, a maior preocupação de Odívio Aguiar não é vender mais telhas em sua loja. Apesar de não considerar o setor de comércio atuante do jeito que gostaria de ver no bairro, Odívio garante que consegue trabalhar o bastante para o sustento da família e pagar as dívidas. O que não dá para suportar, segundo o comerciante, é conviver com a situação em que se transformaram os escombros do prédio em que funcionava um supermercado, bem em frente à sua loja e também ao sobrado que serve de moradia para a família. "Isso é um terror. Virou ponto de drogados e banheiro público. Um mendigo já matou outro nesse lugar há cinco anos", afirma o comerciante. Além disso, o local virou ponto de despejo de entulho e outros tipos de materiais. Desanimado com o descaso no local, o próprio Odívio admite também jogar lixo no local. Para ele, a área seria ideal para se transformar em um centro comercial. O terreno em questão consta na lista de prioridades da Associação de Moradores. "O local causa uma péssima impressão ao bairro", diz o documento entregue ao prefeito Carlito Merss em abril passado. A entidade pede que a estrutura seja demolida.

TRÂNSITO: Um poste para proteger outro poste

A finalização do alargamento da rua Marquês de Olinda, no trecho situado entre as ruas Anita Garibaldi e Henrique Dias, é uma obra considerada prioritária por um simples leigo que passa alguns minutos observando o local. A extensão do trecho em questão é de aproximadamente 300 metros e a não realização da obra transforma o local em armadilha de acidentes para motoristas e pedestres. A situação é bizarra a ponto da Celesc (Centrais Elétricas de Santa Catarina) ter fixado na esquina um poste para proteger de batidas de carros outro poste de sustentação de fios.

O problema maior é para os motoristas que trafegam pela Marquês de Olinda em direção à rua Anita Garibaldi. No encontro com a rua Henrique Dias, a pista da Marquês sofre uma curva fechada para a esquerda e em seguida para a direita. Sem semáforo no local, de repente o motorista desavisado e avançando em velocidade se vê envolvido em acidente. Diariamente, centenas de alunos do campus da Sociesc e da Escola Estadual Martins Veras circulam pela área.
"Já acordamos bruscamente de madrugada por causa do barulho causado por acidentes na esquina", afirma a dona de casa Maria Lucas Dias, moradora da rua Henrique Dias. Ela diz que o Anita Garibaldi seria um bairro perfeito para se morar, não fosse o cruzamento perigoso. Ciente sobre o problema, a Conurb (Companhia de Desenvolvimento e Urbanização de Joivinlle) informou que enviaria uma equipe técnica ao local.

O prolongamento da rua Minas Gerais, desde o viaduto da BR-101, até a rua Copacabana, margeando a linha férrea, é outra reivindicação. De acordo com a Associação de Moradores Anita Garibaldi, o projeto já existe na Secretaria de Infraestrutura. A pista nova desafogaria o trânsito neste trecho. "Essa obra aliviaria o acesso para quem entra na cidade pela Anita Garibaldi", afirma Ozório Rosenstock, presidente da entidade.

Outra reivindicação é a revitalização da própria rua Anita Garibaldi, principal via do bairro e que possui vários trechos de calçada mal conservados. "O problema se agrava em dias de chuva, pois a água acumulada em poças obriga pedestres a utilizarem a rua como passagem", completa Ozório. A Prefeitura não se pronunciou a respeito das ruas Minas Gerais e Anita Garibaldi.

SANEAMENTO BÁSICO Escolhido como um dos dois delegados do Anita Garibaldi para atuar nas diretrizes do OP, o funcionário público do judiciário catarinense Juarez Vieira, braço direito de Ozório Rosenstock, lamenta a falta de perspectivas de obras para o bairro. Além da ausência da unidade de saúde, Juarez aponta como prioritário a construção de uma estação de tratamento de esgoto sanitário. De acordo com a própria Companhia Águas de Joinville, informações contidas no site oficial da Prefeitura, apenas 57,83% da área do bairro – compreendida por 3,05 quilômetros quadrados – é atendida por rede coletora de esgoto.

"Na lista de cinco itens encaminhados ao OP (dos quais nenhum será atendido), está a questão do esgoto. Ficamos preocupados com a notícia da construção de um condomínio de nove edifícios, num total de 400 apartamentos, no terreno que faz esquina com as ruas Anita Garibaldi e Copacabana. Não somos contra o desenvolvimento, mas o Anita precisa de atenção especial, para que sua infraestrutura comporte e suporte as grandes construções", afirma Juarez.

A Associação de Moradores informa ainda que já cansou de alertar a Prefeitura sobre o esgoto doméstico despejado no rio Jaguarão e seus afluentes. Também de acordo com a entidade, o OP privilegiou entre suas obras para 2010 a reforma de toda a calçada no entorno do 62º Batalhão de Infantaria do Exército, o que, segundo a entidade, não atende os anseios da maioria da população local.

Verde, muito verde

Se houvesse um concurso para definir o bairro que mais conserva áreas verdes em Joinville, o Anita Garibaldi com certeza seria um forte candidato ao título. Moradora do bairro há 64 anos, uma das famílias de sobrenome Pereira da cidade sabe muito bem o que é qualidade de vida quando o assunto é meio ambiente.

O clã Pereira reside no alto do Morro da Prefeitura, que leva esse nome porque o poder público municipal mantinha na área uma usina de asfalto, que atualmente serve como pátio de máquinas e caminhões. As trilhas do morro são frequentadas principalmente nos fins de semana e por poucos privilegiados conhecedores do local.

"Isso aqui é um sossego em todos os aspectos. Meus avós criaram os filhos aqui e agora sou eu quem cuida do lugar", afirma Fabiane Beatriz Chaves Bastos, moradora de uma das casas construídas no terreno de quase dois mil metros quadrados ocupada pelos Pereira. O acesso à residência é possível pela rua Joaquim Nabuco, via que começa na Marquês de Olinda.

É do Morro da Prefeitura que se tem idéia da dimensão de áreas verdes de diversos tamanhos no Anita Garibaldi. "Não podemos reclamar da falta de árvores no bairro. Temos a convivência com pássaros de várias espécies que alegram nossos dias", afirma Ozório Rosenstock, presidente da Associação de Moradores. As praças Praça Monte Castelo, da Rodoviária e da Empresa Hansen também são pontos de referência do bairro.

3 comentários:

Juarez Vieira disse...

Sou servidor do Ministério Público de Santa Catarina e não do Poder Judiciário como citado na matéria.
Juarez Vieira

Juarez Vieira disse...

Criamos uma página no ORKUT e um BLOG da Associação de Moradores Anita Garibaldi - AMIGA.
ORKUT: AMIGA Anita Garibaldi
BLOG: http://amigaanitagaribaldi.blogspot.com/
Contamos com a participação dos moradores do bairro.

Anônimo disse...

E o que falar da rodoviária, que fica entre o Anita Garibaldi e o Atiradores, que nem mais posto policial tem?
Que cidade é essa, meu deus?