Straight Edge: anarquistas e libertários

Gisele krama
giselekrama@gazetadejoinville.com.br

A oposição ao punk e o vínculo ao estilo de música hardcore é como os straight edge são conhecidos no mundo. O movimento tímido, porém conhecido internacionalmente, desembarcou em Joinville perto de 1998. Sete amigos do círculo de Nalvan Pereira, 22 anos, fazem parte dessa identidade que é associada ao anarquismo, ao vegetarianismo, ao socialismo e o movimento ecológico. O rapaz, sentado em uma das poltronas da clínica de tatuagem do qual é sócio, explica que faz parte de um movimento ideológico.

Um straight edge não bebe, não fuma, não usa drogas ilícitas e é contra discriminação como racismo e homofobia. Esses jovens, longe de toda a autodestruição do movimento punk, foram na contramão da moda e escolheram um estilo de vida diferente.

Com cabelos curtos, Nalvan e o amigo Luiz Felipe Ribas, 21 anos, conversam sobre o que consideram suas filosofias de vida. Além disto, os dois também são veganos, outra característica de um straight edge. Para quem não sabe, veganismo é o mesmo que vegetarianismo, ou seja, o não consumo de derivados de animais, como carne, leite, ovos e mel.

A força dos straight está no senso político. Bandas como Confronto, do Rio de Janeiro, têm suas letras pautadas pelos temas sociais como MST, anti-racismo e a questão indígena. Em Joinville não há bandas de hardcore e nem que falem sobre o movimento straight edge, mas se houvessem, cantariam, segundo Nalvan, sobre o problema do transporte coletivo. “A ideia é resgatar os problemas que assolam o povo”, explica.

O encontro com uma identidade cultural

Atrás de Nalvan, retratos de figuras como Martin Luther King demonstram o engajamento político dos amigos. Ele teve contato com o movimento quando começou a ir a shows de hardcore, em 2004. Lá conheceu pessoas mais velhas que eram adeptas ao estilo. “Simpatizei com o movimento”, diz o rapaz.

Um dos motivos que levou o jovem a deixar de lado o comportamento convencional dos amigos de sua idade é o fato de Joinville ter um histórico grande de alcoolismo. Quando parou de beber, de fumar e até de comer carne, sentiu uma sensação de pertencimento a certa ideologia. “Eu tinha uma identidade cultural”, diz.

O vegetarianismo foi brusco para Nalvan. De uma hora para outra parou de comer carne e derivados de animais e a família não gostou muito dos novos hábitos alimentares. Mas com relação às drogas, a atitude de não consumir foi bem aceita pelos parentes. “Qualquer família gostaria que os filhos não se envolvessem com drogas”, diz.

Nalvan conta que já ouviu brincadeiras como: “Se não bebe e não fuma, como se diverte?”. O fato dos jovens não beberem é o que mais gera estranhamento na população. O mais complicado para ele é quando questionam sobre sua sexualidade só porque não consome drogas. Foram mudanças drásticas, principalmente para um garoto que na época tinha 16 anos.

“Sempre bati na tecla da igualdade”

Ribas, com alargadores nas orelhas, tatuagem e cabeça raspada – semelhante ao colega – demorou um pouco para se identificar com o movimento. Ele já era envolvido com o hardcore e com o punk. Mas sempre teve uma postura de negação dos padrões. “Fui conhecendo bandas que tinham como tema o straight edge”, conta.

Depois é que o processo de identificação foi acontecendo. Primeiro ele se tornou vegetariano e então parou de usar drogas. Assim, assumiu a ideologia. “As pessoas não entendem porque é um aspecto cultural nosso”, diz Ribas. Conforme ele, essas atitudes os levam a remar com a maré.

A postura política também foi um ponto importante para que Ribas buscasse identificação com os straight edges. “Sou anarquista e libertário. Sempre bati na tecla da igualdade”, conta.

Sobre as drogas, Ribas explica que foi fácil, pois considera o consumo um escapismo. O amigo Nalvan também concorda com isso. “Drogas fazem fugir da realidade. E queremos encarar as coisas de frente”, destaca.

A MARCA DA ABSTINÊNCIAUma curiosidade sobre o movimento é que os integrantes costumam marcar com um X as mãos. Esse símbolo veio dos Estados Unidos, onde os menores de idade, que não podiam beber, eram marcados com o X para não consumirem álcool nos shows. Assim, os adeptos do straight edge também marcaram as mãos para não precisar usar drogas. Em Joinville isso não acontece, mas em bares de Curitiba a marca é comum.

No quesito musical, um dos maiores equívocos é achar que bandas famosas como NX Zero e Fresno pertencem ao movimento. Na verdade, os músicos do straight edge giram somente no círculo alternativo e são mais politizados.

Em Joinville já foi criado até o Coletivo Contraparte para organizar os shows. Foi trazida uma banda do Chile, mas não houve muita adesão do público. “Infelizmente, a juventudade liga a diversão com bebida”, explica Nalvan. Além disso, como as letras das bandas tanto do movimento quanto do hardcore são mais politizadas, não despertam o interesse do povo. “A juventude não está interessada em política”, lamenta.

Esses jovens são uma das muitas tribos que juntam ideologia, identidade e diversão. A música embala o modo como eles vêem o mundo. E são um dos muitos grupos que compõem a diversidade urbana de Joinville.

Saiba mais

Straight edge pode ser definido como uma contracultura, modo de vida, ou como uma forma de resistência, abstendo-se de substâncias psicoativas, lícitas ou ilícitas.

A idéia surgiu com o início da cultura punk, no meio de jovens de culturas distintas que simplesmente não queriam fazer uso de drogas ou de bebidas alcólicas para se divertir.

Quem adota esta postura procura uma forma de resistir, através da contracultura, à pressão social que incentiva o consumo de álcool, cigarro e drogas ilícitas.

Grande parte escolhe por ser vegetariano ou vegano.

Os Straight Edges sentem profunda aversão ao preconceito de maneira geral, seja racial, nacional, sexual, etc.

2 comentários:

Eduardo V disse...

Parabens pela matéria. Não encontramos matérias desse tipo diariamente... Poderias fazer uma sobre o "freeganismo",pessoas que buscam no lixo sua comida para protestar contra o desperdício. Ou a tribo de doadores de sangue.

Abs

Anônimo disse...

Apesar do lado positivo que é realmente a oposição ao consumo em sua forma mais essencial (ingerir produtos como a cerveja), ainda sim fico triste ao pensar em que mesmo em sua rebeldia, esta tribo se torna uma VITIMA DA MODA.

Pois como o entrevistado citou “Eu tinha uma identidade cultural”, realmente não se dá conta da variedade e riqueza cultural deste território nação. A referencia "americanóide" e o "consumo" de idéias fáceis e mastigada dos Estados unidos, talvez em uma ingenuidade absurda dos integrantes, imaginam estar pregando a igualdade. Porém agem da maneira exclusiva,(pois naturalmente excluem pessoas sem o mínimo conhecimento de inglês, ou mesmo as outras consumidoras de cerveja), por exemplo.

Algo me lembra os fanaticos, sejam evangelicos, fundamentalistas, alguns políticos e outros direitistas

Bem, aí vai o conselho, guitarra é legal, tenis grinco é legal, tatuagem é legal, mas copiar o modelo é ______________. Decidam os internautas.

Fica de sugestão as strei eges e aos jornalistas para fazer materias com culturas como a da capoeira, samba, bandoneon, (adaptadas mais suavemente atraves dos tempos).


utilizando o visual carregado como forma de "identidade cultural"

Joao do valle