Quanto mais melhor

Gisele Krama
giselekrama@gazetadejoinville.com.br
- CQ...CQ...CQ...PP5JY chamando geral.

- PP5JY aqui é PP5AX, atendendo ao seu chamado. Sou Carlos, da cidade de Joinville.

Os códigos estranhos que aparecem neste diálogo fazem parte da comunicação básica de um radioamador. Operando um aparelho de transmissor e um de recepção, milhares de pessoas do Brasil e ao redor do mundo se comunicam usando a fala ou até código Morse, aquele usado pelos telégrafos.

Por hobby ou em situações de emergência, os radioamadores podem se comunicar com todo o Brasil e ultrapassar as fronteiras, mantendo contato com países distantes, como Japão e Austrália. Para isto, usam como língua padrão o inglês e, claro, diversos códigos e siglas.

Antes dos celulares, os radioamadores dominavam o setor de comunicação. Mas agora, como utilitário, perdeu campo e é dominado pelas pessoas que encaram o radioamadorismo com paixão.

O discípulo que virou mestre

O engenheiro eletricista Carlos Cintra tornou-se um aficionado pelo radioamadorismo aos 11 anos. Na época, seu pai lhe deu um rádio cidadão, atualmente usado pelos caminhoneiros para se comunicar. Quase 30 anos depois, ele mostra no alto de sua casa as quatro antenas instaladas para o equipamento.

Se no começo, amigos da família tinham o rádio e davam dicas ao garoto, atualmente Carlos inicia os novos curiosos na arte de navegar pelas frequências radiofônicas.

Ele é um dos 50 participantes do Clube de Radioamadores de Joinville (CRAJE), criado em 1969 por figuras conhecidas na cidade como Albano Schultz, Dario Geraldo Salles e Luiz Gomes, que já foi prefeito.

Quase 41 anos depois, na sede, que fica no morro do Boa Vista, os participantes do Clube se reúnem às quartas-feiras para bater-papo e trocar informações sobre o radioamadorismo. “Normalmente o assunto é sobre técnicas”, fala Carlos, se referindo ao conteúdo das conversas entre os usuários do radioamador.

Cintra também é um apaixonado pela telegrafia e consegue decifrar os significados daqueles “di di di da da da” que recebe no seu rádio, somente ouvindo os sons. Ele tentou dividir esse hobby com o filho, de 8 anos, que chega a fazer transmissões, mas não demonstra muito interesse pelo assunto.
Mas o mundo dos radioamadores também toma forma no papel. Uma tradição entre eles é enviar um cartão para cada novo contato que conseguem fazer. Segundo Cintra, quanto mais longe melhor. Esses cartões também ganham um código na gíria dos radioamadores, pois são chamados de QSL.

“Isso é um vírus. A pessoa nunca deixa de gostar”, assim Carlos resume o seu hobby e dos colegas de clube. Ele ainda diz mais: “a atividade abrange um mundo técnico e social”.

Mulheres ficam de fora

No Brasil há aproximadamente 32 mil radioamadores, contra 360 mil do Japão. É um dos países que menos têm participantes. Quem domina este setor normalmente é os Estados Unidos, que também monopoliza o quadro de competições.

O atual presidente do CRAJE, Joaquim Rangel Codeço, engenheiro eletricista e professor universitário, começou a gostar de eletricidade aos 14 anos e isso culminou no radioamadorismo. Ele ganhou uma coleção chamada “Os cientistas”, com vários experimentos. Com esses objetos conseguiu montar, mesmo adolescente, um telégrafo.

Com contato dos amigos do pai, conheceu o radioamador em 1974. A partir de então nunca mais largou a atividade. Ele chega a dividir relatos com os alunos, mas superficialmente. Mas Joaquim pretende montar uma estação na universidade.

“O hobby mexe muito com os alunos, mas eles também têm outras obrigações”, diz.

Uma das coisas intrigantes nesta atividade é a pouca participação das mulheres. “É característica não ter muita mulher e, quando tem, elas se congregam separadamente e em número menor”, explica.

As esposas dos participantes também não gostam muito do radioamadorismo. “Elas chegam a acompanhar, mas não gostam”, diz Joaquim.
Ele conta, com risos, que os cartões de QSL tinham caricaturas de um homem operando o rádio enquanto a mulher está do lado, brigando com um rolo de macarrão.

Com saudade, Joaquim diz: “Havia algo de glamuroso em ser radioamador antigamente”.

Um comentário:

Anônimo disse...

Maceió,06/03/2010

Para não ser dominado,optei por
não me casar.Sou ouvinte das Ondas Curtas desde menino.Aprendi a ler aos cinco(05)anos.Tenho assinaturas de
jornais e revistas.Sou criticado pelas mulheres,por isto.Não vou dei-
xar disto para agradar a elas.Jamais.