COMPORTAMENTO: A tribo, o dominó e a praça

Gisele krama
giselekrama@gazetadejoinville.com.br
Onze mesas, quarenta e quatro bancos e 28 peças de dominós para cada equipe. Antes mesmo do movimento das lojas, tudo é montado para a sessão de jogos que pode começar às 6 horas. Aposentados, taxistas e até um engraxate, que distribui seu tempo entre o dominó e o trabalho, passam o dia na Praça Nereu Ramos em busca de diversão e boa conversa. O grupo recebe mais de 100 integrantes diariamente. Até um clube foi formado para organizar os torneios, que ocorrem durante o ano. Hoje, eles são personagens que fazem parte da história da praça.

Um dos nomes mais conhecidos do dominó é o seu Penha. João Antônio de Ávila, 74 anos, ganhou este apelido porque era amigo de um bêbado que vivia no Mercado Municipal, chamado Eliseu da Penha.

Penha aprendeu a jogar dominó em 1960, quando veio morar em Joinville. De lá para cá, não faltaram finais de semana em jogos nos bares. Os que saltam à memória do aposentado são o bar do Geraldo, na rua Santa Catarina, e o bar do Vigia. “Todo final de semana ia para lá, jogava e comia churrasco. Era um tempo bom aquele”, lembra.

HISTÓRIA DE UM TRABALHADOR
O crescimento de Joinville e o tão aclamado progresso marcaram a vida de Penha. Marcas estas que ele traz nas mãos. Enquanto trabalhava na construção do aeroporto como carpinteiro, ele cortou os dedos da mão esquerda, em 1971. Foram 73 dias de dor. Agora, deixa as peças de dominó na mesa, já que não há como segurar com uma das mãos porque teve vários dedos amputados.

Em 1978, Penha conseguiu a tão sonhada aposentadoria. Passou a curtir a casa e se dedicou ao dominó.

Atualmente ele chega às 5h30 da manhã à Praça Nereu Ramos e deixa o posto de jogador somente no cair da noite. Entre os colegas é conhecido por uma característica marcante: o hábito de fumar. Mas não é qualquer cigarro que ele fuma e sim um palheiro. “Palheirão espanta mosquito”, dizem os colegas.
Depois de quase 50 anos de jogo, ele dá dicas sobre o dominó. “Tem que ser esperto no jogo e trancar as duas pontas. Assim o adversário não tem como jogar”, explica. Penha, como todo jogador, brinca com os colegas e diz que a turma está meio fraca no jogo.

O engraxate jogador

Não é só de aposentados que o grupo de dominó se compõe. Há também a tribo dos taxistas que dividem espaço nas mesas. José Machado, 65 anos, diz que não joga, mas observa o grupo diariamente. Conta que já no começo da manhã, Penha, Régis e Aldo estão na mesa com os dominós nas mãos.

Aldo é engraxate, mas o número de partidas que joga diariamente é bem superior ao número de clientes atendidos. Coloca o acessório de engraxar sapatos no lado e nas mãos segura pedras de dominó. Às vezes até arruma alguns clientes no local.

“É diversão. Um passa tempo”, diz o engraxate. Ele fica nos jogos até 18 horas. Depois pega o ônibus e volta para a casa, que fica no bairro Boa Vista.

Estas histórias são algumas das muitas que pertencem a cada homem de cabelos brancos, meio careca, de camisa branca ou vermelha, que senta na praça para procurar diversão e os amigos em partidas de dominó.

A quantidade de jogadores é tanta que chegou a ser formado um clube. A Associação Amigos do Dominó é presidida pelo aposentado Nilton Machado. Ele ajuda a organizar os torneios e comemora a quantidade de duplas inscritas. “No ano passado eram 200 duplas na competição. Este ano já tem 250”, conta.

Só um evento é atualmente capaz de acabar provisoriamente com a alegria das centenas de velhinhos que frequentam a praça. A visita da chuva é o que atrapalha a diversão. Atualmente na praça há um palco coberto, mas parte da cobertura está quebrada, possibilitando a entrada da chuva. Em coro, só há um pedido que fazem para que tudo se torne perfeito: uma área coberta.

Com esse desejo atendido, acabam-se os dias em que os “velhinhos” se espremem, logo em frente, na cobertura do ponto do táxi.

Um comentário:

Anônimo disse...

sensacional a reportagem, pois precisou esses senhores de cabelos brancos procurar um espaço no centro por eles mesmos para ter o seu lazer diario, coisa que o municipio a muita deixa a desejar para esses simpaticos senhores. valeu a reportagem e gosto muito de ver esses senhores entretidos com seu robby e espero que a prefeitura olhe mais por eles.