JARDIM IRIRIÚ: Moradias sofrem com cheias

Dinilson Vieira
dinilson@gazetadejoinville.com.br
O maior desafio da Prefeitura de Joinville para melhorar a qualidade de vida no Jardim Iririú, que tem cerca de 22 mil habitantes, é apontar possíveis soluções para os cerca de mil domicílios, de um total de cinco mil do bairro, situados abaixo do nível de ruas e que sofrem em dias de chuva forte. Quando o céu começa a escurecer, sinalizando que vai cair água, moradores já começam a levantar móveis e eletrodomésticos para evitar maiores prejuízos, pois sabem que as enchentes são inevitáveis.

O problema aumenta se a chuva coincidir com a maré alta no mangue que faz ligação com a lagoa do Saguaçu e cerca boa parte do bairro. Com a maré subindo, a rede de água pluvial não tem a força de gravidade mínima para fazer o despejo no mangue. Com isso, a água retorna às casas pela própria tubulação. Uma das estratégias adotadas por algumas famílias foi criar barreiras nos portões e instalar bombas que transferem a água de quintais para a rua.

“É um problema difícil de ser resolvido e depende menos da Prefeitura e mais dos moradores, que precisam investir para levantar as casas acima do nível das ruas”, diz Celito Alves, secretário regional do Comasa, unidade administrativa municipal que cuida do Jardim Iririú. Em uma recente chuva forte, a casa 1.862 da rua Tabatinga, localizada a mais de 500 metros do mangue, teve a água subindo quase um metro nas paredes.

Alagamento demora para escoar

A dona do imóvel, atingido pela enchente na rua Tabatinga, que mantém no local um salão de beleza, perdeu um televisor, rádio e sofá. Mesmo com o fim da chuva, a água não escoou de imediato. A Secretaria Regional então mandou uma equipe cavar um buraco na frente da casa até encontrar a rede de água pluvial, que recebeu um furo para que o escoamento fosse possível.

Presidente por cinco vezes da Associação de Moradores Chico Mendes (uma das três entidades que representam a população no Jardim Iririú), Augusto Pires de Lima explica que o problema é mais grave ainda, porque o esgoto sanitário das casas cai direto na rede de água pluvial. “Quando tem enchente, a água que volta para as casas é misturada com esgoto”, afirma ele.

A dona de casa Fabilia Abate Fernandes que o diga. Moradora da rua Servidão Manuel João Machado, ela se assusta quando a previsão é de temporal. “Levantamos a casa, mas não foi o bastante, pois a quintal continua enchendo e a água ainda pode invadir a casa, conforme a vontade de São Pedro”, afirma ela. “Estou tentando convencer meu marido a vender aqui e comprar em outro lugar”.

O ambulante Antonio Fidêncio mora numa das partes mais vulneráveis do Jardim Iririú: na rua Professora Eliama Koppea, uma das vias que margeiam o mangue. Ele nem precisa esperar a chuva para enfrentar o mau cheiro do esgoto que retorna pela tubulação. “Basta a maré encher e ninguém consegue respirar direito”, afirma ele, completando que o problema só poderá ser resolvido quando o bairro estiver equipado com sistema de coleta de esgoto eficiente.

Já o servente de pedreiro Nelson Salazar, morador da esquina formada pelas ruas Tabatinga e Arnaldo Nunes de Oliveira, aponta outra provável causa das enchentes: “Muitas saídas de tubos para o mangue estão entupidas”.

Saneamento básico previsto somente para algumas ruas

O secretário Celito Alves explica que o Jardim Iririú deverá receber em 2010 uma verba federal do PAC Habitação, o que inclui R$ 2,3 milhões (sendo R$ 278 mil de contrapartida da Prefeitura) para serem investidos em saneamento básico. Segundo Celito, as obras prevêem a construção de rede apropriada de coleta de esgoto e tratamento dos dejetos.

Mas, de acordo com o secretário, as obras só deverão chegar a casas em ruas próximas à bacia formada pelos rios Guaxanduva e Iririú-Mirim – que também deverão receber duas pontes para melhorar a ligação com bairros vizinhos, a exemplo do Comasa. Significa que as casas cuja destinação do esgoto é o mangue vão continuar sem saneamento básico.

Por outro lado, o secretário anuncia outras obras para o Jardim Iririú para 2010, previstas no orçamento participativo aprovado em 2009. No estádio de futebol João Melquides Oligina, o Serrano da rua Damásio Alves Machado, esquina com rua Altamira, será construída uma pista de atletismo ao custo de R$ 30 mil.

“Também vamos ensaibrar 18 quilômetros de ruas e construir mais uma Academia da Melhor Idade no bairro, na área da Associação de Moradores Chico Mendes”, afirma o secretário. Para o segundo semestre, de acordo com Celito, está prevista a conclusão da pavimentação das ruas Reinoldo Schossland, José Antonio Sales e a ligação da rua das Cegonhas com Anita Maciel de Souza. “Essa ligação com asfalto vai melhorar o acesso ao bairro”, afirma o secretário.

O bairro é formado por 127 ruas, que somam 51,8 quilômetros, dos quais 22,7 são asfaltados, 446 metros são mantidos com outro tipo de pavimentação e 28,6 quilômetros são conservados em saibro. Não há informações precisas sobre rede oficial de esgoto.

Programas sociais fizeram bairro progredir

O Jardim Iririú foi desmembrado do bairro Iririú há cerca de 29 anos. Foi quando se tornou populoso demais para ser considerado apenas um loteamento, apesar da região ser constituída por mangue e mato. O bairro é constituído de outros dois conjuntos habitacionais tradicionais: Portinho e Dom Gregório Warmeling. Este último, criado há aproximadamente 13 anos, pela necessidade de abrigar famílias pertencentes a programas sociais.

Hoje, esse conjunto conta com mais de seis mil famílias. O Jardim Iririú tem fama de iniciativas assistenciais, motivo de orgulho entre moradores.
Além de cozinhas comunitárias, outras ações ajudam a inserir desempregados no mercado de trabalho. Um exemplo é a cooperativa montada em parceria com a Universidade da Região de Joinville (Univille) para geração de emprego e renda. Se há cerca de 25 anos a região não contava com energia elétrica, asfalto, escola ou posto de saúde, hoje a realidade é outra, mesmo com muito a ser feito ainda.

ÁGUA NÃO FALTA
Uma das vantagens do bairro é que nunca teve problemas com abastecimento de água. A eletricidade, no entanto, só foi instalada três anos depois da fundação do bairro. O asfalto das principais ruas como Cegonhas, Júlio de Mesquita e Areia Branca demorou ainda mais. As reivindicações foram atendidas graças à luta de moradores.

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