Paulo Rocha, o COLECIONADOR

Jacson Almeida
jacson@gazetadejoinville.com.br

“Entrem, podem entrar. Muitas coisas aqui vocês não vão ver em outro lugar no mundo”. É com entusiasmo que Paulo Rocha, 44 anos, convida a todos para entrar em sua residência. O proprietário de uma loja de móveis usados, na Zona Sul de Joinville, ocupa boa parte de seu tempo com um hobbie que pode ser estranho para muitas pessoas, principalmente àquelas que gostam de comprar apenas coisas novas.

Seguindo o pai, Paulo virou colecionador desde os sete anos de idade. Após muita sorte, viagens, conversas e barganhas, o sujeito possui em sua casa um antiquário que reúne desde os primeiros notebooks e aparelhos de som à manivela, até uma cama de 300 anos, que hoje é usada pela filha de Paulo, Ane Judite, de 18 anos. O móvel foi uma raridade que ganhou num enterro, quando viajou pelo Brasil. “Falaram que iriam jogar fora porque era velha e ganhei”, destaca Paulo.

Uma curiosidade no antiquário é que tudo na residência funciona perfeitamente, desde um telefone à manivela, de 1902, até um relógio alemão de 1919. E para ouvir uma boa música, o colecionador usa seu gramofone - invenção alemã de 1930 - girando por alguns minutos a manivela. E para a boa música não faltam vinis. Somando são aproximadamente 9,7 mil nomes da música colocados nos quatro cantos da casa.

Colecionador há pelo menos 37 anos, para buscar todas as peças Paulo viajou por 378 cidades e seis países da América Latina, como Argentina, Chile, Peru e Uruguai, país com bastante peças antigas. Já no Brasil, o paulista andou por Minas Gerais, Goiás e Pará, um dos destinos favoritos para encontrar peças raras, como um oratório (espécie de armário) vindo de Belém, do século passado. O artefato pesa mais de 380 quilos.

Às vezes uma peça da coleção de Paulo é rara e vale uma boa quantia em dinheiro. No entanto, muitas pessoas não dão atenção. De acordo com o colecionador, em Santa Catarina muitos não têm a cultura de guardar coisas antigas e restaurar para o próprio uso. E o destino de muitas peças e histórias é o lixo. Por outro lado, Paulo ganha coisas porque os proprietários não vêem valor. “O catarinense não gosta de antiquário”, lamenta.

A casa virou atração turística
Enquanto muitos consumidores correm nas lojas para conseguir telefones e celulares de última geração, a família de Paulo possui mais de 20 aparelhos, todos eles com pelo menos mais de 30 anos. O colecionador faz rodízio de telefone para que nenhum pare de funcionar. Cada pessoa que chega para olhar o antiquário um aparelho é ligado para provar que a casa não é um museu onde as coisas estão paradas e sim um local onde há peças antigas que são usadas. “Fazem feira para vender, mas peças que não funcionam não me agradam”, diz.

Paulo tentou colecionar o mesmo que seu pai, carros antigos. Mas em Joinville não deu certo. Segundo ele, o último veículo que vendeu poderia custar mais de R$ 70 mil, mas recebeu apenas R$ 18 mil na cidade.

Nas cristaleiras de madeira pura estão os jogos para tomar café e as porcelanas. Há desde xícaras para café japonês de madeira brindada em ouro até a um conjunto que supostamente pertenceu a Dona Francisca. Mas a peça de maior importância para ele é uma Ânfora de Cristo da cidade de Nazaré, uma espécie de vaso antigo.

Perguntado quanto vale tudo o que possui na residência, Paulo não soube responder, mas explica que pouco dinheiro não foi. E para terminar toda visita no antiquário, o colecionador sempre leva os visitantes para conhecer sua loja de objetos usados na parte térrea da casa, onde vende algumas coisas e também compra. E na loja Paulo mostra como conseguiu muitas coisas e a habilidade de barganhar: “Para você eu faço pela metade do preço”, diz.

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