EDITORIAL: Não foi um acidente

Um pouco antes de se eleger prefeito de Joinville o então deputado federal Carlito Merss falou com a reportagem da Gazeta numa longa entrevista em que analisou os seis anos da gestão Tebaldi.

Carlito parecia indignado com a condução da Cia Águas de Joinville em relação ao valor das tarifas. Disse que a tarifa social deveria ser menos que cinco reais e que o valor cobrado de nove reais e cinquenta e cinco centavos não tinha “nada de social”. Criticou duramente os aumentos dados por Tebaldi para a água, IPTU e ônibus. Chegou a dizer que os aumentos estavam sufocando a capacidade produtiva da cidade e que iria rever os aumentos e baixar a passagem de ônibus. Tudo isso está gravado e foi publicado no final de 2007 com destaque de capa desta Gazeta.

O que mudou então?

O que aconteceu com o Carlito, que textualmente falou em reduzir a tarifa social da água para menos de cinco reais?

O que aconteceu com o político que falou que iria baixar a tarifa do ônibus?

Era tudo mentira para ludibriar os leitores deste jornal?

O “indignado” Carlito desabafou: “Não vamos enfeitar o pavão. Chega de gastar com propaganda....”

No entanto, assim que assumiu a cadeira de prefeito, enviou para a Câmara de Vereadores um pedido para dobrar a verba de publicidade e, ele mesmo continuar enfeitando o pavão.

Agora, Carlito aumenta de novo a tarifa da água e, a ficha está caindo para aqueles que ainda achavam que 2009 tinha sido apenas um acidente de percurso na administração petista.

Agora está obvio: 2009 não foi um acidente.

Obras isolam moradores do Paraíso

Dinilson Vieira
dinilson@gazetadejoinville.com.br

As obras de drenagem e saneamento que estão sendo realizadas no bairro Jardim Paraíso, região norte de Joinville, isolaram dezenas de famílias da rua Pollux. “Se uma ambulância precisar entrar aqui, o paciente pode até morrer porque o carro vai atolar”, afirmou o estudante Emanuel Querino Maria, morador do trecho da rua em que a concentração de lama impede a passagem de veículos e obriga trabalhadores a proteger os pés com sacolas plásticas se não quiserem chegar ao emprego em condições inapropriadas de higiene. As crianças preferem levar os sapatos nas mãos e só calçá-los após vencer o barro.

O ponto nevrálgico do problema está no encontro da Pollux com a rua Delphinus, onde foram construídas caixas de visita da rede de esgoto. A empreiteira responsável pelas obras descarregou barro no local, que, misturado com a água das últimas chuvas, deixou a via intransitável. “Sabemos que as obras são necessárias, mas também temos o direito de sair de casa”, disse a moradora Marisa Cardel Capístrano. Segundo ela, a Secretaria Regional do Paraíso pede paciência à população.

Nesta segunda-feira (29), a dona de casa Edna Vaz Lourenço enfrentou lama para levar o filho de nove meses até o posto de saúde do bairro. Na volta para casa, por pouco não escorregou com a criança no colo. “Não tenho visto trabalhadores aqui, a coisa está meio abandonada”, afirmou ela. O mecânico Júnior Pereira está tendo prejuízos com o problema, já que seus fregueses não conseguem se aproximar de carro de sua oficina, na rua Pollux. “Essa situação é absurda”, disse ele.

O secretário regional Josival da Silva responsabilizou a empreiteira Infrasul pelos contratempos vividos pelos moradores. Ele explicou que tem cobrado providências da empresa, que realiza obras por todo o bairro, e que não pode jogar saibro em cima do barro por impedimentos técnicos. Claudio Castilho, que falou em nome da Infrasul, declarou que iria fazer “o impossível” para melhorar a situação na rua Pollux. Além desta via, outras adjacentes como a Corvus e Via Láctea também apresentam pontos intransitáveis. Nas obras do Paraíso serão necessários mais de cinco mil metros de tubos de concreto. Após a construção das rede de água e esgoto, as ruas receberão asfalto.

Enxurrada abre buracos em asfalto e invade casas

Dinilson Vieira
dinilson@gazetadejoinville.com.br

Quando começa a chover, moradores da rua Humaitá, no bairro Bom Retiro, ficam atentos aos possíveis estragos que a enxurrada que desce pelo asfalto poderá causar em algumas casas. “A água deveria descer pela tubulação sob o asfalto, mas parece que está tudo entupido”, diz a dona de casa Marli Rosseti, moradora da casa 632. Ela diz que acionou a Defesa Civil porque o muro da frente da moradia ganhou rachaduras em razão do que ela chama de infiltração. “Estamos preocupados com a possibilidade do muro desabar”.

A rua Humaitá começa na rua Tenente Antonio João, a principal via do bairro, e sobe até o encontro com o morro do Iririú. Se chove forte, a tubulação que deveria conduzir a água até o plano mais baixo apresenta vários pontos de entupimento, segundo moradores. O resultado é um grande volume de água descendo pela superfície, formando crateras no pavimento e invadindo casas construídas abaixo do leito da via. “A situação não me prejudica, mas meus vizinhos sofrem bastante”, diz o morador Eloir da Silva, morador do número 593.

A reportagem entrou em contato com a Secretaria Regional do Iririú, unidade administrativa que cuida do Bom Retiro, e obteve a informação de que técnicos já tem conhecimento dos problemas na rua Humaitá e providências deverão ser tomadas nos próximos dias.

Traficantes enrolavam drogas em papel higiênico

Dinilson Vieira
dinilson@gazetadejoinville.com.br

Uma equipe do serviço reservado do P2 do 17º Batalhão da Polícia Militar de Joinville realizou uma campana, filmando o movimento no sobrado de número 1.280 da rua Kesser Zattar, no Parque Guarani, e descobriu um esquema de venda de drogas bastante curioso. Ficou confirmado pelas imagens que os usuários jogavam o dinheiro na varanda do imóvel e um casal e outro homem enrolavam a droga em pedaços de papel higiênico, jogando a mercadoria de cima para baixo.

Os policiais registraram vários usuários comprando drogas. Na quarta-feira (24), por volta de 19h, com o apoio de uma escada dos bombeiros, policiais do Patrulhamento Tático acessaram o piso superior do sobrado, enquanto uma granada de som e luz era detonada do lado oposto da entrada para distrair os traficantes. Os três envolvidos foram flagrados com a droga. A mulher acusada ainda arremessou uma sacola com cinco buchas de cocaína e várias pedras de crack pela janela, mas a ação foi filmada pelos policiais que recuperaram a sacola com os entorpecentes caídos em um terreno ao lado do imóvel.

A droga encontrada, bem como duas balanças de precisão, R$ 445,50 em espécie, celulares, juntamente com as filmagens, fotografias, e registro de denúncias anônimas foram levados com os acuasados à Central de Polícia, no bairro Boa Vista. Foram presos em flagrante por tráfico o casal Rodrigo Hundemann, 24 anos, e Sirlei Batista, 24, além de Carlos Edurado de Paula, também de 24 anos.

Pela 1ª vez, desembargadora afirma: “Oscar é inocente”

Cristiano Alves
cristiano@gazetadejoinville.com.br

Ney Fayed ao se reportar ao magistério de Renê Floriot, a respeito da dúvida, assim discorre: “Se um elemento do processo vos perturba, inquieta e impede de chegar a uma total certeza, numa palavra, se conservais alguma dúvida, por mais ligeira, não hesiteis em absolver. É preferível deixar sair em liberdade um culpado do que castigar um inocente. Pouco importa a opinião pública”.

A citação faz parte do voto divergente de 86 páginas da desembargadora Salete Silva Sommariva, em julgamento de recurso impetrado pela defesa do pedreiro Oscar do Rosário, condenado em agosto de 2008, pelo suposto homicídio da menina Gabrielli Cristina Eichoolz, de 1 ano e meio, em 3 de março de 2007.

No dia 25 de fevereiro último, o que se viu na reunião dos desembargadores do Tribunal de Justiça (TJ), que analisava os embargos infrigentes, impetrados pela defesa, que a única certeza que os magistrados têm sobre o caso é que ele está repleto de dúvidas.

O relator dos embargos, Desembargador Rui Fortes deixou evidente em seu parecer que mais procurou evidências que corroborassem com a sua convicção de culpa de Oscar do que encontrar provas revelando a inocência do pedreiro.

“Minha consciência está tranquila, se a dos jurados que condenaram o suspeito não estão, eles que não consigam dormir a noite”, comentou o desembargador.

O desembargador Túlio José de Moura Pinheiro, salientou que o caso do pedreiro Oscar era, sem dúvidas o mais complexo e cheio de dúvidas que já havia passado pelo TJ, no entanto, também se baseou na confissão do réu para embasar sua convicção de que ele era culpado.

Ela não tem dúvidas
Apesar de todos concordarem que se trata de um caso complexo, pelo menos a desembargadora Salete Sommariva não tem nenhuma dúvida. Para ela, Oscar foi condenado injustamente e é inocente. “Tenho plena convicção de que Oscar é inocente”, afirmou a desembargadora, surpreendendo a todos os presentes no julgamento.

A afirmação de Sommariva fez o desembargador Alexandre d’Ivanenko também erguer a bandeira da dúvida, sobre o crime atribuído a Oscar. Para ele, o TJ não pode perder a oportunidade de analisar novamente o processo para ter certeza de que o júri que condenou o pedreiro a 20 anos de prisão se baseou exclusivamente nas provas que constavam nos autos.

“Corremos o risco de ter de rever todo o processo em um futuro próximo, basta que a defesa encontre uma nova prova para o caso. Por que não fizemos isso agora?”, sugeriu o d’Ivanenko.

O julgamento dos embargos infrigentes foi suspenso depois que o desembargador Moacyr de Moraes Lima e Filho pediu vistas do processo, após os votos dos Desembargadores Rui Fortes (relator), Túlio Pinheiro e Marli Mosimann Vargas no sentido de “negar provimento ao recurso” e o voto da desembargadora Salete Silva Sommariva no sentido de “dar provimento ao recurso”.

Segundo o site do TJ, o julgamento deve ser retomado na próxima quinta-feira, dia 1 de abril.

CLIQUE NA IMAGEM PARA LER O VOTO DA DESEMBARGADORA SALETE SOMMARIVA, NA ÍNTEGRA

EDITORIAL: O jornal que mente

Não é segredo para ninguém que o ano de 2009 foi marcado pela inércia em praticamente todas as áreas da administração municipal, especialmente na de novas obras. Pressionado pela população que cobrava o cumprimento das promessas de campanha, o grupo político do prefeito Carlito afirmava que a paralisia do governo era por conta de um rombo de R$ 100 milhões herdado da gestão anterior.

Desmascarados pelo Tribunal de Contas de SC, que não encontrou o tal rombo, os petistas passaram a usar os meios de comunicação, cooptados com gordas verbas publicitárias da prefeitura, para tentar reverter o quadro de descrédito junto a população.

Como parte desta estratégia Carlito conseguiu aprovar o valor recorde de R$ 11 milhões para gastar este ano com publicidade.

No início de 2010, alem de inundar as rádios, TVs e jornais com publicidade oficial, o prefeito resolveu fazer um jornal próprio para mostrar o que teria sido feito em 2009.

Praticamente todos os domicílios da cidade receberam o “jornal da prefeitura” que tinha como manchete: FEITO! Acontece que, como as obras na cidade foram praticamente paralisadas em 2009, a prefeitura resolveu inventar algumas no seu jornal.

A Gazeta flagrou pelo menos duas obras fantasmas de pavimentação. Segundo a publicação da prefeitura elas estariam “feitas”, mas na verdade as ruas continuam com pó e lama.

Descumprir as promessas de campanha, inflar obras inexistentes e torrar dinheiro público com publicidade parece ser a tônica do segundo ano desta gestão Carlito.

“É uma sem-vergonhice subir passagem agora”, diz Kennedy

Jacson Almeida
jacson@gazetadejoinville.com.br

Os usuários do transporte coletivo de Joinville podem preparar o bolso em razão de um novo aumento da tarifa que poderá ser anunciado nos próximos meses. A notícia foi dada pelo próprio prefeito Carlito Merss (PT), em chat promovido pelo jornal A Notícia, em 8 de março. “Desde dezembro (2009), as empresas (Gidion e Transtusa) pedem reajuste e nós, Seinfra (Secretaria de Infraestrutura Urbana) e Ippuj (Instituto de Pesquisa e Planejamento para o Desenvolvimento Sustentável de Joinville) estamos fazendo uma análise da planilha”, afirmou.

O deputado estadual Kennedy Nunes (PP) rompeu com o governo de Carlito Merss no primeiro aumento da passagem de ônibus da nova gestão, em maio de 2009. A queda de braço entre os políticos rendeu até outdoors neste ano onde o deputado estadual pedia para o prefeito tirar verba de gabinete para subsidiar a passagem aos joinvilenses. Com a nova possibilidade de aumento, Kennedy promete que também vai entrar na brigar para barrar o reajuste. “Esse aumento é uma sem-vergonhice”, afima.

O último aumento da tarifa aconteceu em maio do ano passado, quando foi autorizado o acréscimo de 12% - valor acima da inflação no período entre 2007 (quando ocorreu o último aumento na gestão Marco Tebaldi) e 2009 (na gestão Carlito Merss). Os usuários passaram a desembolsar R$ 2,30 pela passagem antecipada e R$ 2,70 pela embarcada.

O que poderá vir como argumento para este novo reajuste, além do pedido das empresas, é um novo projeto oferecendo gratuidade aos idosos entre 60 e 65 anos. O mesmo benefício foi cancelado em janeiro deste ano por ação movida pelas empresas que detém a concessão do serviço na cidade, Gidion e Transtusa, através do Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo de Santa Catarina. O benefício durou menos de um ano.

No chat, Carlito argumentou que grandes cidades do estado elevaram a tarifa de ônibus, como Blumenau e Criciúma. Nestes municípios, os valores das passagens subiram para R$ 2,55 e R$ 2,50, respectivamente. No entanto, o petista não mencionou que o reajuste dado em Blumenau foi barrado pela Justiça.

Empresas ainda não pediram formalmente o aumento

Através da assessoria de imprensa, o Ippuj diz que não houve pedido formal das empresas Gidion e Transtusa para aumento na tarifa. Informalmente, em 2009, as empresas falaram que precisariam de um aumento em 2010. Para o pedido do aumento, as concessionárias têm que enviar um ofício para o gabinete do prefeito explicando o porquê do aumento, junto com planilhas de custos.

População se mobiliza para barrar aumento

Uma pesquisa realizada pela ANTP (Associação Nacional dos Transportes Públicos) mostra que Joinville, se comparada a capitais ou cidades com população acima de 500 mil habitantes, possui uma passagem considerada cara. Das 43 cidades do país neste perfil, 26 têm a tarifa do transporte coletivo menor que Joinville. Em Fortaleza (CE), com 2,4 milhões de habitantes, a passagem custa R$1,80.

O curioso é que a capital do Ceará ficou quatro anos sem aumento de passagem, com o valor a R$ 1,60. Em abril de 2009 houve um reajuste de 20 centavos, que permanece até hoje. Enquanto isso, os prefeitos de Joinville autorizaram em 12 anos 241,6% de aumento na tarifa a pedido das empresas Gidion e Transtusa, embora a inflação medida no período foi de acúmulo de 132,4%. Portanto, se os governos de Joinville calculassem o reajuste de acordo com a inflação, a passagem de ônibus custaria hoje cerca de R$ 1,40, bem abaixo do valor atual que é de R$ 2,30. Em 1996, a passagem custava 60 centavos.

O Movimento Passe Livre de Joinville (MPL), juntamente com outras entidades, está se organizando para barrar esse novo aumento. Segundo o ativista Kleber Tobler, o prefeito Carlito legitimou o aumento na mídia, através do chat do jornal A Notícia, deixando claro que as empresas podem, novamente, colocar a mão no bolso dos joinvilenses.

Na segunda-feira (15), uma reunião entre o Passe Livre e Ippuj marcou a primeira conversa entre prefeitura e movimento depois do aumento de 2009. Foi necessário muita discussão para chegarem a um acordo. Agora a Coordenação de Juventude do governo vai se reunir com o MPL com intuito de montar um debate com a população sobre transporte público.

De acordo com Kleber, técnicos do Ippuj argumentam a prefeitura, através do instituto, informa que as empresas têm prejuízos com o transporte coletivo na cidade. O Ippuj, através da assessoria de imprensa, reconhece que de acordo com seus estudos, ou seja elas têm prejuízo os custos que as empresas de ônibus têm ultrapassam a tarifa.

O Ippuj informa ainda que o transporte de Joinville é de qualidade e dispõe de vários benefícios para o usuário.

Empresas visam o lucro Em carta, o MPL destaca: “É necessário reconhecer que as atuais empresas são incapazes de prover justamente aquilo que se propõem, isto é, mobilidade urbana. Ao contrário, pondo o lucro em primeiro plano, mantêm um serviço de altíssimo preço e de qualidade cada vez mais duvidosa, basta apenas andar em um ônibus por volta das 18 horas para averiguar isso”.

Planilha O economista José Álvaro Cardoso, do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), reconhece que gostaria de entender um pouco como é calculado o preço de uma tarifa de ônibus. Segundo ele, é uma área de conhecimento complexa, pois a planilha envolve variáveis.

Passagem cara gera imenso tráfego e acidentes

De acordo com o economista José Álvaro Cardoso, do Dieese, é mais vantajoso ir ao trabalho ou escola de motocicleta. Segundo ele, o carro fica mais caro. Ele conta que em algumas cidades de Santa Catarina alguns sindicatos orientam seus trabalhadores a destinar o dinheiro do ônibus para a aquisição de uma moto. “É mais rápida, gasta a mesma coisa ou menos, e o trabalhador tem autonomia para ir e vir. É claro tem os seus contratempos, a começar pelo risco. Notamos que o crescimento de carros nas ruas é constante, fazendo com que gere um imenso tráfego e muitos acidentes envolvendo motocicletas”.

Você sabia?

Monopólio do transporte na região é da família Bogo

A empresa Viação Canarinho, que oferece o transporte coletivo em Jaraguá do Sul, também possui uma das tarifas mais caras do Brasil – R$ 2,50. A semelhança é que Joinville e a cidade vizinha têm empresas de viação do mesmos donos. A Gidion e a Canarinho são da família Bogo. No site da Canarinho tem a história: “Em 1975, assumem o comando da empresa os senhores Rinaldo Bogo, Dair Alfeu Bogo, Juvenal Demarchi e Moacir Bogo”. Em Guaramirim o transporte coletivo também é oferecido pela família, como em São Francisco do Sul.

MAURÍCIO PEIXER: “Empreiteiros não denunciam calote por medo de repressão”

Da Redação
redacao@gazetadejoinville.com.br

O vereador Maurício Peixer (PSDB), apesar de garantir que é oposição desde o primeiro dia do seu quarto mandato no Legislativo de Joinville, tem descarregado toda a sua artilharia sobre a gestão Carlito, nos últimos meses.

Segundo Peixer, suas principais cobranças estão relacionadas as contradições e mentiras que estariam se tornando rotina na administração petista. Para o tucano, Carlito tem adotado o ditado “faça o que digo e não faça o que eu faço” já que o discurso de campanha, para ganhar a eleição foi um e, depois da vitória, ele faz justamente o contrário.

Dentre os pontos destacados pelo vereador em entrevista a esta Gazeta (confira principais trechos abaixo), ele garante que apesar de donos de empreiteiras negarem, estão sem receber há muito tempo da prefeitura,. Ainda segundo Maurício, os empreiteiros não denunciam o calote por medo de represarias por parte do governo. “Umas sete empresas já me procuraram em virtude da falta de pagamento, mas eles (empresários) têm medo da perseguição. Eles disseram que se souberem que vieram reclamar, cortam (o contrato)”.

Oposição da Câmara
Estou sendo oposição desde o dia em que assumi o mandato, em 1º de janeiro de 2009. Não ataco o ser humano, a pessoa, a vida dele particular. E sim aquilo que era falado, aquilo que foi proposta, que estão sendo feitas ao contrário. Quem dá os cartuchos para nós (oposição) são eles, pelas atitudes insensatas que estão tomando.

Mentira e Contradições
Eles (PT) são contrários do que pregavam. Agora são: “Faça o que digo e não faça o que eu faço”. O povo quando escolheu Carlito, escolheu a mudança. Justamente uma das principais causas era a saúde, a qual ele falava que iria arrumar. A saúde iria arrumar em 100 dias e que iria despachar dentro do Hospital São José. A primeira vez que ele (Carlito) foi ao hospital, foi vaiado e nunca mais apareceu.

Aumento da água
A segunda questão foi a da água, que foi muito forte, com vídeo de campanha abraçando o deputado Kennedy dizendo que acatava as propostas do deputado e declarou que joinville tinha uma das águas mais caras de Santa Catarina e do Brasil. “Portanto, se eu for prefeito, isso não vai continuar assim. Vou baixar o preço da água”. Fez ao contrário, aumentou.

Passagem de ônibus
Outra proposta que acatou foi a passagem de ônibus. Falou que não iria aumentar e fez justamente o contrário. A outra situação, que tenho que estar contrário, é a passagem para os idosos de 60 a 64 anos. Inclusive, no programa de campanha dele estava que iria fazer imediatamente. Deram o pirulito para a criança e tiraram o pirulito da criança. Foi assim que um idoso falou para mim.

O rombo que não existia
Temos que olhar a questão financeira da prefeitura. O que está acontecendo lá dentro não se sabe. Porque antes falavam que eram as dívidas de R$100 milhões. Estava pagando dívida, era a desculpa para tudo. Quando veio o resultado do Tribunal de Contas, o discurso mudou para “Vamos esquecer. Vamos acabar com isso. Porque agora é diferente”. Mas, agora, a situação financeira caótica da prefeitura continua.

Calote nas empreiteiras
As empreiteiras pequenas estão sofrendo. Os donos das empreiteiras não deveriam continuar trabalhando. O problema não é os donos das empresas e sim seus funcionários que não recebem. Quantas famílias estão sofrendo em virtude da falta de pagamento? A Lei é clara: tem que fazer por ordem cronológica o pagamento. Será que alguém está sendo beneficiado, pago, e outros não? Isso nós tentamos descobrir e não conseguimos. Umas sete empresas me procuraram. Eles (empresários) têm medo da perseguição. Eles disseram que se souberem que vieram reclamar, cortam (o contrato).

Pedidos de Informação ao Executivo
Nós temos respostas de vários pedidos de informação. Alguns deles a gente vai na tribuna e faz a denúncia. Em cima disto, fazemos todo o trabalho de oposição. Até porque legalmente eles (Executivo) são obrigados a responder até 30 dias. Às vezes demora um pouquinho mais. Eles estão respondendo, mas a maiorias dos pedidos não vem completo.

Nepotismo
A primeira incoerência do vereador Marquinhos é a questão do nepotismo. Quando era vereador, denunciava e batia na Câmara a questão do nepotismo. Ele é que deu entrara no Ministério Público (MP) para a retirada das pessoas da prefeitura. Agora, quando eles (PT) assumiram o governo, foram nomeados vários parentes. Inclusive a esposa dele que foi nomeada.

Dívida com a Univille
No ano passado houve uma reunião na Câmara para falar sobre o problema da Univille. Eu mostrei uns materiais onde o vereador Marquinhos falava que o prefeito Tebaldi retirava dinheiro dos estudantes para gastar em publicidade. Foi distribuído para todos os alunos da Univille. Quando entraram no governo prometeram que iriam sanar o problema da dívida. E não o fizeram.

Gastos com publicidade
Outra incoerência. Quando o orçamento da publicidade que era de R$ 7,5 milhões eles (vereadores petistas) criticavam. Só que eles fizeram mais ainda. Botaram R$ 15 milhões para o orçamento de 2010. Nós ainda cortamos a verba de publicidade. Mas a incoerência é de ter falado e na prática não aconteceu.

Candidato a deputado estadual
Faltaram 19 votos na eleição passada para eu ficar quatro anos como deputado estadual. É claro que na época isso foi muito doloroso. Mas continuei trabalhando nestes quatro anos e me reelegi vereador. Sei que tenho condições hoje, depois de quatro mandatos como vereador, de ser candidato a deputado estadual.

Governo PT
Eles não têm um modelo de gestão. O modelo petista de gestão é terrível. Não tem um modelo que possa desenvolver o município, que possa melhorar. O governo Carlito está cercado de bons secretários, mas de um modo geral está muito mal assessorado.

Quem é que manda
O Carlito não se convence de que é o prefeito, que é o mandatário. Tanto que ele nem aparece. Não faz discurso, não dá explicação e justificativa. Ele se esconde, tem medo. Não sei se é ele que comanda mesmo. Esse é o erro dele, porque não tem posicionamento. As medidas que toma são antiquadas, medidas que não agradam as pessoas.

Prefeitura publica como concluídas obras que ainda não saíram do papel

Jacson Almeida
jacson@gazetadejoinville.com.br

Na revista de prestação de contas 2009 que a Prefeitura de Joinville entregou em milhares de domicílios da cidade em fevereiro deste ano, constam como concluídas obras que não saíram do papel. Duas dessas obras aparecem nas ruas dos Gerânios e a dos Ipês, que nas páginas centrais da publicação distribuída pela Secretaria Regional do Boa Vista, receberam asfalto no ano passado, quando na verdade as vias ainda não saíram da condição de saibro.

Outra obra citada na revista que não condiz com a realidade é a Escola Municipal Wittich Freitag, no bairro Aventureiro. Segundo a publicação, a escola já estaria funcionando em fevereiro deste ano. No entanto, a construção da estrutura ainda não estava concluída na segunda-feira (15) e os alunos matriculados na nova unidade permanecem em salas de aula do turno intermediário da Escola Municipal Eladir Skibinski, no mesmo bairro.

No bairro Boa Vista a denúncia partiu de um grupo de moradores, entre os quais Osnildo Marcos do Nascimento, 44 anos, que ficou revoltado ao ver na revista da prefeitura que a via onde mora, a dos Gerânios, faz parte de um conjunto de vias que realmente foram pavimentadas no bairro.

Inconformado, Osnildo acionou o vereador Joaquim Alves dos Santos (PSDB), que dedicou a palavra livre na Câmara de Vereadores na sessão de quarta-feira (10) para criticar o Governo Municipal, prometendo levar o caso ao Ministério Público. “Seria muito bom se fosse verdade que ganhamos asfalto, mas a rua continua sendo só buraco e pó. É muita cara de pau da Prefeitura”, diz o morador.

Outro morador, José Nazareno, 62 anos, residindo há 20 anos na mesma Rua dos Gerânios, afirma que a obra de pavimentação, que não saiu da prancheta dos engenheiros, teria recebido dinheiro do Governo Federal, já que a via dá acesso à rua Beira Mangue, sob jurisdição da Marinha. José também ficou surpreso com a notícia de que prestação de contas da prefeitura consta a rua como pavimentada. “Se chove é ruim por causa da lama e se há sol, é o pó que prejudica”, reclama.

No mesmo bairro está localizada a Rua dos Ipês, que também não recebeu asfalto e consta na publicação oficial da Prefeitura como pavimentada.

Escola ainda está em obras

Ainda na revista de prestação de contas, em sua página 4, consta que até fevereiro deste ano estaria concluída a construção no Aventureiro da Escola Municipal Wittich Freitag, o que não aconteceu. Na segunda-feira (15), a obra foi visitada pela reportagem da Gazeta de Joinville, que constatou que ainda faltam concluir partes na área externa do prédio, como o estacionamento de professores e pátio dos alunos.

Segundo operários que trabalhavam a toque de caixa no local, a expectativa é que a obra seja entregue até o fim de março.

No final de 2009, a dona de casa que se identificou pelas iniciais M.I., de 36 anos, matriculou os dois filhos na nova unidade e ficou decepcionada quando viu que a escola não começou a funcionar no tempo prometido pela Prefeitura. No entanto, consta no balanço do governo que a escola estaria pronta para o ano letivo em fevereiro. “Meus filhos chegaram a ir à nova escola, mas soubemos que a Vigilância Sanitária interditou o prédio porque estava inacabado”, conta ela. As duas crianças frequentam atualmente o turno intermediário da Escola Eladir Skibinski, também no Aventureiro.

A fiscal da Vigilância Sanitária Lia Abreu explica que as aulas estavam previstas para começarem na escola Wittich Freitag em fevereiro, mas reclamações dos próprios pais a respeito das condições do prédio impediram a entrada dos alunos. A fiscal visitou o prédio e proibiu o começo das aulas, argumentando que ainda seriam necessários três meses para a obra ser concluída. “Iriam levar as crianças para o meio de uma obra, um lugar insalubre”, declara.

A equipe de reportagem da Gazeta entrou em contato com a Secretaria de Educação para saber a data para a inauguração da unidade, mas até o fechamento desta edição não souberam responder, já que a empreiteira responsável pela construção não deu qualquer confirmação.

O OUTRO LADO

A Secretaria de Comunicação (Secom) da Prefeitura informou que por um erro de digitação a nota com o título “Pavimentação”, publicada na página 15 da Revista de Prestação de Contas 2009, referente à Secretaria Regional do Boa Vista, foi impressa de forma incorreta. Segundo a Secom, as ruas dos Gerânios e Ipês estão apenas em fase de pavimentação e têm prioridade na Secretaria Regional e Seinfra (Secretaria de Infraestrutura Urbana). O secretário regional do Boa Vista, Michel Ubirajara Becker, teria esclarecido a questão aos moradores. A Secom reforçou ainda que não houve nenhum outro problema na revista de prestação de contas das ações da Prefeitura de Joinville referente a 2009.

Para entender
A revista de prestação de contas 2009 da Prefeitura de Joinville foi distribuída em toda a cidade, durante o mês de fevereiro passado. A publicação foi produzida pela equipe da Secretaria de Comunicação do governo Carlito Merss (PT) em 14 modalidades de páginas centrais, número que corresponde ao de secretarias regionais que cuidam dos bairros do município. As páginas centrais exaltam as obras realizadas na jurisdição de cada respectiva unidade administrativa, sendo que a capa e as demais páginas são iguais no conjunto geral da publicação.

Empresas de ônibus prometem reprimir ação de manifestantes

Jacson almeida
jacson@gazetadejoinville.com.br

A Transtusa e a Gidion, concessionárias do transporte coletivo de Joinville, informaram que vão continuar reprimindo juridicamente qualquer manifestação popular contra o serviço que oferecem. Para o entendimento das empresas, protestos colocam em risco o direito de ir e vir e a segurança dos usuários dos ônibus. Desde 2003, quando a população começou a reivindicar uma passagem mais barata, já foram seis prisões de manifestantes e uma condenação.

Pela assessoria de imprensa, as empresas deixaram claro que qualquer situação de manifestação nos terminais urbanos, os apontados como responsáveis serão levados à apreciação da Justiça, que, segundo as concessionárias, é o poder competente para tratar de assuntos desta relevância. No entanto, a advogada do Centro de Direitos Humanos (CDH), Cynthia Pinto da Luz, diz que não se pode tratar criminalmente a ação de reivindicação da população.

Gidion e Transtusa optam por linha dura

As empresas de transporte coletivo tentaram por diversas esferas, principalmente jurídicas, barrar as manifestações que ocorrem desde 2003 contra os aumentos de passagem. Inclusive o processo que condenou Adilson Mariano (PT) foi aberto pelas concessionárias. “Ele estava justamente onde tem que estar o vereador, no lado da população”, explica Cynthia.

Mariano foi condenado pelo juiz Renato Roberge a um ano e três meses de detenção – pena que foi substituída por trabalho comunitário, em 2007. As concessionárias responsabilizam o vereador pela manifestação. Em 2008, a advogada do CDH recorreu da sentença em segunda instância. Mas no TJ/SC a condenação foi mantida pelo desembargador João Eduardo Varella, o mesmo que assumiu o governo do Estado no começo deste ano. Agora só resta para Mariano recorrer da sentença em Brasília.

“O CDH tem um processo histórico na defesa do transporte público. Sempre foi uma decisão dar apoio para organizações que lutam pelo transporte de qualidade”, explica Cynthia.

As empresas entram com ações principalmente quando estão marcadas manifestações relacionadas ao transporte para evitar os protestos. “Este é um claro exemplo de impedir o direito de liberdade de expressão, organização e mobilização sociais”, diz o historiador Maikon Duarte.

Já Mariano ironiza sua condenação, em que foi considerado culpado por ser “mentor intelectual” da manifestação. “Eu estava na minha função como vereador”, diz.

Perseguições jurídicas e através da imprensa

O vereador Adilson Mariano (PT) foi um dos participantes do maior protesto para barrar o aumento da tarifa, em 2003, que culminou em sua condenação, ratificada pelo Tribunal de Justiça de Santa Catarina, em processo movido pelas empresas contra o petista. Enquanto isso, ativistas também foram presos nas manifestações. “O que deveria se criminalizar é as empresas que contrataram seguranças encapuzados e preparados para bater. Isso é crime”, explica Cynthia.

Naquele ano, estudantes foram às ruas e queriam barrar o aumento de 14% pedido pelas prestadoras do serviço. Para conter os manifestantes, foi chamado a Polícia Militar e seguranças particulares. Estes últimos, encapuzados, barravam a entrada no terminal central. Conforme Cynthia, as empresas Gidion e Transtusa sempre tiveram opinião ofensiva contra quem se manifesta.

A advogada do CDH explica que a condenação de Mariano foi de cunho político e não jurídico, já que todo vereador usufrui de imunidade parlamentar. Para organizações sociais, esses fatos são caracterizados como perseguições. Integrantes do Movimento Passe Livre (MPL) de Joinville contam que já foram ameaçados por seguranças da Gidion e Transtusa. “Homens à paisana passaram a perseguir e ameaçar militantes do MPL”, diz Maikon Jean Duarte, historiador e ex-integrante do movimento.

A imprensa também teve seu papel na criminalização dos protestos. As perseguições passaram a acontecer instigadas pelos radialistas Luiz Veríssimo, Toninho Neves e Beto Gebaili, em programas de TV e rádio. Segundo Maikon, os programas destes comunicadores estão atrelados às empresas de transporte coletivo. Em 2007, no programa Encontro com a Imprensa, que foi transmitido pela TV Cidade e Brasil Esperança, Gebaili falou que os manifestantes não eram de Joinville, chamando-os de “terroristas”. “Ele não tem dinheiro para comprar passagem, mas olhe a banha. Está bem alimentado”, disse o comunicador ao se referir a um dos manifestantes.

O OUTRO LADOEm nota enviada à redação da Gazeta de Joinville, a Gidion e Transtusa dizem o seguinte: “As concessionárias do transporte coletivo discordam da abordagem que vem sendo dada ao conjunto de matérias denominado “Caixa preta do transporte coletivo” (desta Gazeta), uma vez que a planilha e os dados do sistema estão à disposição do público no site das empresas.”

Depoimento - Maikon Jean Duarte, historiador e ex-militante do MPL

Você já foi vítima de perseguição das empresas?
Eu já fui preso pela Polícia Militar e já fui perseguido em diversos momentos. Na mesma semana da minha prisão, fiquei sabendo que três homens tinham sido contratados para me agredir. Felizmente um dos caras contratado era próximo de um grande amigo, que acabou relatando o caso, o que me fez ficar afastado por uns dias. No primeiro ano de movimento também aconteceram ameaças na antiga casa que morava com minha mãe.

Pode contar um fato estranho que tenha acontecido com algum ativista?
No dia 26 de novembro de 2005 aconteceu o dia nacional de luta pelo passe livre. O MPL de Joinville organizou um ato na Praça da Bandeira. Até que foi tranqüilo, apesar da Polícia Militar tentar evitar a nossa entrada na Câmara de Vereadores, na época presidida pelo Darci Mattos, hoje deputado estadual e desde sempre defensor da exploração privada no transporte coletivo. Entramos na Câmara. Mas os dias seguintes foram de pavor. Homens à paisana passaram a perseguir militantes do MPL. As ameaças foram via telefone, nas casas. Ocorreram perseguições nos caminhos de casa até a escola ou universidade.

Straight Edge: anarquistas e libertários

Gisele krama
giselekrama@gazetadejoinville.com.br

A oposição ao punk e o vínculo ao estilo de música hardcore é como os straight edge são conhecidos no mundo. O movimento tímido, porém conhecido internacionalmente, desembarcou em Joinville perto de 1998. Sete amigos do círculo de Nalvan Pereira, 22 anos, fazem parte dessa identidade que é associada ao anarquismo, ao vegetarianismo, ao socialismo e o movimento ecológico. O rapaz, sentado em uma das poltronas da clínica de tatuagem do qual é sócio, explica que faz parte de um movimento ideológico.

Um straight edge não bebe, não fuma, não usa drogas ilícitas e é contra discriminação como racismo e homofobia. Esses jovens, longe de toda a autodestruição do movimento punk, foram na contramão da moda e escolheram um estilo de vida diferente.

Com cabelos curtos, Nalvan e o amigo Luiz Felipe Ribas, 21 anos, conversam sobre o que consideram suas filosofias de vida. Além disto, os dois também são veganos, outra característica de um straight edge. Para quem não sabe, veganismo é o mesmo que vegetarianismo, ou seja, o não consumo de derivados de animais, como carne, leite, ovos e mel.

A força dos straight está no senso político. Bandas como Confronto, do Rio de Janeiro, têm suas letras pautadas pelos temas sociais como MST, anti-racismo e a questão indígena. Em Joinville não há bandas de hardcore e nem que falem sobre o movimento straight edge, mas se houvessem, cantariam, segundo Nalvan, sobre o problema do transporte coletivo. “A ideia é resgatar os problemas que assolam o povo”, explica.

O encontro com uma identidade cultural

Atrás de Nalvan, retratos de figuras como Martin Luther King demonstram o engajamento político dos amigos. Ele teve contato com o movimento quando começou a ir a shows de hardcore, em 2004. Lá conheceu pessoas mais velhas que eram adeptas ao estilo. “Simpatizei com o movimento”, diz o rapaz.

Um dos motivos que levou o jovem a deixar de lado o comportamento convencional dos amigos de sua idade é o fato de Joinville ter um histórico grande de alcoolismo. Quando parou de beber, de fumar e até de comer carne, sentiu uma sensação de pertencimento a certa ideologia. “Eu tinha uma identidade cultural”, diz.

O vegetarianismo foi brusco para Nalvan. De uma hora para outra parou de comer carne e derivados de animais e a família não gostou muito dos novos hábitos alimentares. Mas com relação às drogas, a atitude de não consumir foi bem aceita pelos parentes. “Qualquer família gostaria que os filhos não se envolvessem com drogas”, diz.

Nalvan conta que já ouviu brincadeiras como: “Se não bebe e não fuma, como se diverte?”. O fato dos jovens não beberem é o que mais gera estranhamento na população. O mais complicado para ele é quando questionam sobre sua sexualidade só porque não consome drogas. Foram mudanças drásticas, principalmente para um garoto que na época tinha 16 anos.

“Sempre bati na tecla da igualdade”

Ribas, com alargadores nas orelhas, tatuagem e cabeça raspada – semelhante ao colega – demorou um pouco para se identificar com o movimento. Ele já era envolvido com o hardcore e com o punk. Mas sempre teve uma postura de negação dos padrões. “Fui conhecendo bandas que tinham como tema o straight edge”, conta.

Depois é que o processo de identificação foi acontecendo. Primeiro ele se tornou vegetariano e então parou de usar drogas. Assim, assumiu a ideologia. “As pessoas não entendem porque é um aspecto cultural nosso”, diz Ribas. Conforme ele, essas atitudes os levam a remar com a maré.

A postura política também foi um ponto importante para que Ribas buscasse identificação com os straight edges. “Sou anarquista e libertário. Sempre bati na tecla da igualdade”, conta.

Sobre as drogas, Ribas explica que foi fácil, pois considera o consumo um escapismo. O amigo Nalvan também concorda com isso. “Drogas fazem fugir da realidade. E queremos encarar as coisas de frente”, destaca.

A MARCA DA ABSTINÊNCIAUma curiosidade sobre o movimento é que os integrantes costumam marcar com um X as mãos. Esse símbolo veio dos Estados Unidos, onde os menores de idade, que não podiam beber, eram marcados com o X para não consumirem álcool nos shows. Assim, os adeptos do straight edge também marcaram as mãos para não precisar usar drogas. Em Joinville isso não acontece, mas em bares de Curitiba a marca é comum.

No quesito musical, um dos maiores equívocos é achar que bandas famosas como NX Zero e Fresno pertencem ao movimento. Na verdade, os músicos do straight edge giram somente no círculo alternativo e são mais politizados.

Em Joinville já foi criado até o Coletivo Contraparte para organizar os shows. Foi trazida uma banda do Chile, mas não houve muita adesão do público. “Infelizmente, a juventudade liga a diversão com bebida”, explica Nalvan. Além disso, como as letras das bandas tanto do movimento quanto do hardcore são mais politizadas, não despertam o interesse do povo. “A juventude não está interessada em política”, lamenta.

Esses jovens são uma das muitas tribos que juntam ideologia, identidade e diversão. A música embala o modo como eles vêem o mundo. E são um dos muitos grupos que compõem a diversidade urbana de Joinville.

Saiba mais

Straight edge pode ser definido como uma contracultura, modo de vida, ou como uma forma de resistência, abstendo-se de substâncias psicoativas, lícitas ou ilícitas.

A idéia surgiu com o início da cultura punk, no meio de jovens de culturas distintas que simplesmente não queriam fazer uso de drogas ou de bebidas alcólicas para se divertir.

Quem adota esta postura procura uma forma de resistir, através da contracultura, à pressão social que incentiva o consumo de álcool, cigarro e drogas ilícitas.

Grande parte escolhe por ser vegetariano ou vegano.

Os Straight Edges sentem profunda aversão ao preconceito de maneira geral, seja racial, nacional, sexual, etc.

Obras prometidas, onde estão?

Um dia após o aniversário de 159 anos de Joinville, uma equipe de reportagem da Gazeta sobrevoou a cidade, de helicóptero, para avaliar, juntamente com o engenheiro Rogério Novaes, ex-presidente do CREA-SC, o atual sistema viário.
O que se viu, do alto, foram muitos trechos com engarrafamento e que perfaziam mais de 20 km de extensão. A cidade nunca teve tanto congestionamento e em tantos locais diferentes.

Para Rogério Novaes, especialista na área, o problema está sendo agravado com a falta de obras da atual administração. Novaes lembra que na campanha de 2008, o atual prefeito prometeu, por diversas vezes, que iria implantar o anel viário para desafogar o trânsito das regiões centrais. Entre as obras, que deveriam ser prioritárias, estavam também a construção de viadutos e do eixo norte-sul (o eixão).

Nada disso saiu do papel. As promessas de campanha estão sendo solenemente ignoradas há mais de 14 meses.
Na semana passada, quando foi cobrado publicamente pelo presidente da Associação Comercial e Industrial de Joinville, Acij, sobre a construção do anel-viário, Carlito usou por três vezes o termo “veja bem”. Desconversou e deixou os empresários da Acij sem respostas.

Aliás, as respostas podem ser observadas nas ruas de Joinville, mesmo para quem não tem a visão aérea de um helicóptero. Há dois anos, por exemplo, um aluno que ia, do centro para a Univille de carro, levaria cerca de 10 minutos para fazer o percurso. Hoje gasta mais de meia hora.

O tempo das desculpas já passou a administração municipal precisa começar a implantar as obras prometidas que, a cada dia, se tornam mais urgentes.

Obras prometidas não saem do papel e geram engarrafamentos

Cristiano Alves
cristiano@gazetadejoinville.com.br

Basta andar pela cidade para ver que o trânsito de Joinville exige medidas urgentes para minimizar os engarrafamentos. Antes, o que era um problema da área central, como em toda cidade grande, agora se alastra pelos quatro cantos do município gerando transtorno e irritação a motoristas e pedestres.

A realidade dos congestionamentos não está mais resumida a “hora do rush”. Em vários pontos da cidade as filas intermináveis de automóveis se estendem por quase todo o dia. Trechos que normalmente seriam percorridos em cinco ou dez minutos acabam se transformando em viagens de até uma hora.

Não é difícil encontrar pontos críticos. Quem precisa chegar aos campi da Univille e Udesc, por exemplo, tem de estar preparado para travar uma verdadeira batalha com centenas de carros com mesmo destino. Além da via principal, a avenida Santos Dumont, várias ruas paralelas e transversais também acabam ficando congestionadas.

O drama é o mesmo para os motoristas que transitam na rua Ottokar Doerffel, uma das principais vias de entrada da cidade ou pela avenida Procópio Gomes, destino centro-bairro.

Além do congestionamento, as três vias têm outro dado em comum e certamente o principal motivo para os engarrafamentos: todas iniciam em duas pistas e acabam tendo que afunilar no final para encontrar uma pista de mão dupla, ou seja, criando um gargalo.

Compromissos de campanha ficaram na promessa

Mas como resolver o problema e lutar contra uma frota de automóveis que cresce a cada dia na velocidade dos motores pulsantes que movem os veículos?

Nas eleições de 2008, que elegeram o atual prefeito Carlito Merss (PT), duas ideias foram apresentadas pelos candidatos. A primeira, exclusiva e inédita, apresentada pelo engenheiro Rogério Novaes, então candidato pelo PV, era de construir um anel viário, por fora da cidade, ligando os quatro cantos do município. A segunda seria um “eixão” que cortaria Joinville de norte a sul.

No último debate do primeiro turno das eleições, realizado pela RBS TV no dia 3 de outubro, o então candidato Carlito Merss se comprometeu a incorporar o projeto do anel viário, apresentado por Novaes, terminar as obras de duplicação da Marques de Olinda e garantiu dar prioridade ao Eixo Norte-Sul, que, segundo ele, já teria financiamento garantido.

Carlito venceu. Tornou-se prefeito de Joinville e o que era prioridade na campanha acabou sendo jogado e esquecido dentro de uma gaveta.

Depois de quinze meses à frente do governo municipal, nem mesmo uma única licitação relacionada às obras foi feita. O projeto do “eixão” foi jogado fora, por ser, segundo o prefeito, “uma enganação”. No seu lugar foi apresentado um novo projeto, com o carimbo do PT, para a criação do Eixo Norte-Sul.

O projeto da gestão Tebaldi, que já estava sendo implantado, inclusive com financiamento de R$ 60 milhões disponibilizados pelo Ministério das Cidades, foi jogado fora e uma nova obra, que custará R$ 98 milhões, está esperando que os recursos sejam liberados pelo governo federal, sem data para ter a execução iniciada.

Empresários cobram Carlito

Se o eixão ao menos tem um projeto, em pior situação está o anel viário. A obra que, segundo o seu idealizador, o engenheiro Rogério Novaes, é, hoje a melhor alternativa para o trânsito de Joinville, ainda está em fase de debates.

“O anel viário não seria um ponto de partida para um planejamento urbano, mas é a única alternativa para Joinville”, afirma o engenheiro.

Não foram apenas os candidatos que se enfrentaram no segundo turno, em 2008 (o candidato derrotado, Darci de Matos também prometeu incorporar o projeto do anel viário ao seu programa de governo), mas também vários segmentos da sociedade apostam na ideia de Novaes como a solução, não só para o trânsito da cidade como para o seu desenvolvimento.

Um exemplo disso foi a recente reunião entre o prefeito e empresários da Associação Comercial e Industrial de Joinville (Acij), onde Carlito foi intimado pelos presentes quanto à execução da obra.

Duplicações também estão paradas

Quanto aos engarrafamentos da cidade, o engenheiro Rogério Novaes concorda que não dá para ficar esperando pela construção do anel viário, até porque a obra deve demorar no mínimo dez anos para ser concluída.

“Hoje nós temos situações emergenciais que não conflitam com o anel viário. Um exemplo é a duplicação da Santos Dumont, que inclusive está com toda a lateral direita da via disponível”, lembra o engenheiro.

Ainda segundo ele, a obra amenizaria uma série de problemas no trânsito. “Bairros como Aventureiro, Jardim Sofia, Jardim Edilene, além das universidades e o novo shopping que está sendo construído na região seriam beneficiados porque a duplicação melhoraria o fluxo de veículos”, analisa Novaes.

“É decepcionante saber que, passados um ano e três meses de gestão, nenhum projeto foi sequer desenhado em relação ao anel viário”, desabafa Novaes.

Quanto mais melhor

Gisele Krama
giselekrama@gazetadejoinville.com.br
- CQ...CQ...CQ...PP5JY chamando geral.

- PP5JY aqui é PP5AX, atendendo ao seu chamado. Sou Carlos, da cidade de Joinville.

Os códigos estranhos que aparecem neste diálogo fazem parte da comunicação básica de um radioamador. Operando um aparelho de transmissor e um de recepção, milhares de pessoas do Brasil e ao redor do mundo se comunicam usando a fala ou até código Morse, aquele usado pelos telégrafos.

Por hobby ou em situações de emergência, os radioamadores podem se comunicar com todo o Brasil e ultrapassar as fronteiras, mantendo contato com países distantes, como Japão e Austrália. Para isto, usam como língua padrão o inglês e, claro, diversos códigos e siglas.

Antes dos celulares, os radioamadores dominavam o setor de comunicação. Mas agora, como utilitário, perdeu campo e é dominado pelas pessoas que encaram o radioamadorismo com paixão.

O discípulo que virou mestre

O engenheiro eletricista Carlos Cintra tornou-se um aficionado pelo radioamadorismo aos 11 anos. Na época, seu pai lhe deu um rádio cidadão, atualmente usado pelos caminhoneiros para se comunicar. Quase 30 anos depois, ele mostra no alto de sua casa as quatro antenas instaladas para o equipamento.

Se no começo, amigos da família tinham o rádio e davam dicas ao garoto, atualmente Carlos inicia os novos curiosos na arte de navegar pelas frequências radiofônicas.

Ele é um dos 50 participantes do Clube de Radioamadores de Joinville (CRAJE), criado em 1969 por figuras conhecidas na cidade como Albano Schultz, Dario Geraldo Salles e Luiz Gomes, que já foi prefeito.

Quase 41 anos depois, na sede, que fica no morro do Boa Vista, os participantes do Clube se reúnem às quartas-feiras para bater-papo e trocar informações sobre o radioamadorismo. “Normalmente o assunto é sobre técnicas”, fala Carlos, se referindo ao conteúdo das conversas entre os usuários do radioamador.

Cintra também é um apaixonado pela telegrafia e consegue decifrar os significados daqueles “di di di da da da” que recebe no seu rádio, somente ouvindo os sons. Ele tentou dividir esse hobby com o filho, de 8 anos, que chega a fazer transmissões, mas não demonstra muito interesse pelo assunto.
Mas o mundo dos radioamadores também toma forma no papel. Uma tradição entre eles é enviar um cartão para cada novo contato que conseguem fazer. Segundo Cintra, quanto mais longe melhor. Esses cartões também ganham um código na gíria dos radioamadores, pois são chamados de QSL.

“Isso é um vírus. A pessoa nunca deixa de gostar”, assim Carlos resume o seu hobby e dos colegas de clube. Ele ainda diz mais: “a atividade abrange um mundo técnico e social”.

Mulheres ficam de fora

No Brasil há aproximadamente 32 mil radioamadores, contra 360 mil do Japão. É um dos países que menos têm participantes. Quem domina este setor normalmente é os Estados Unidos, que também monopoliza o quadro de competições.

O atual presidente do CRAJE, Joaquim Rangel Codeço, engenheiro eletricista e professor universitário, começou a gostar de eletricidade aos 14 anos e isso culminou no radioamadorismo. Ele ganhou uma coleção chamada “Os cientistas”, com vários experimentos. Com esses objetos conseguiu montar, mesmo adolescente, um telégrafo.

Com contato dos amigos do pai, conheceu o radioamador em 1974. A partir de então nunca mais largou a atividade. Ele chega a dividir relatos com os alunos, mas superficialmente. Mas Joaquim pretende montar uma estação na universidade.

“O hobby mexe muito com os alunos, mas eles também têm outras obrigações”, diz.

Uma das coisas intrigantes nesta atividade é a pouca participação das mulheres. “É característica não ter muita mulher e, quando tem, elas se congregam separadamente e em número menor”, explica.

As esposas dos participantes também não gostam muito do radioamadorismo. “Elas chegam a acompanhar, mas não gostam”, diz Joaquim.
Ele conta, com risos, que os cartões de QSL tinham caricaturas de um homem operando o rádio enquanto a mulher está do lado, brigando com um rolo de macarrão.

Com saudade, Joaquim diz: “Havia algo de glamuroso em ser radioamador antigamente”.

Governo é governo, sindicato é sindicato

Dinilson Vieira
dinilson@gazetadejoinville.com.br
Aos 34 anos de idade, o professor de português Ulrich Beathalter é o típico militante que ainda alardeia a velha máxima da Karl Marx: “A emancipação dos trabalhadores será a obra dos próprios trabalhadores”.

Recém eleito presidente do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Joinville (Sinsej), Ulrich, que toma posse em 20 de abril e comandará a entidade até 2013, manda um recado ao prefeito Carlito Merss (PT): “Governo é governo, sindicato é sindicato. Seremos independentes ao governo para manter a coerência e defender os interesses da categoria”.

Eleito com 1.134 votos pela chapa 3 e membro da esquerda marxista do PT, Ulrich diz ter desbancado concorrentes que, caso vencessem, dariam continuidade a uma política sindical apática, que há 12 anos não marcava presença nos locais de trabalho e nem se preocupava em realizar assembleias regulares.

Segundo o professor, as propostas do sindicato não se confundirão com as do governo e que se for da vontade do trabalhador, haverá manifestações e até possíveis paralisações para lutar por benefícios para a categoria, como a reposição de perdas salariais que chegam a 40%. O novo presidente acrescentou que dará início a uma campanha de sindicalização. Atualmente, o sindicato conta com 5.585 filiados entre cerca de 11 mil servidores.

Entrevista • Ulrich Beathalter • novo presidente do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Joinville

É necessário independência
Tem um ponto que a gente vem discutindo de longa data: desde que a nossa movimentação surgiu, em 2005, frisamos a necessidade da categoria manter independência em relação ao governo. Por isso a frase ‘governo é governo, sindicato é sindicato’. Por isso o distanciamento, a independência para manter a coerência e os princípios para manter as atividades sindicais, que são o de defender os interesses dos trabalhadores”.

Instrumento de luta
Essa questão de que a oposição volta ao sindicato dá a impressão de que já estivemos lá e que estamos retornando. Isso não é verdade. Durante 12 anos nós tivemos uma direção do sindicato completamente apática, com ausência total de assembleias, de boletins da categoria, de presença dos diretores nos locais do trabalho. Somos servidores que entendem que o sindicato tem que ser um instrumento de luta dos trabalhadores e não uma correia de transmissão de partido X ou Y”.

Reforma de cargos e salários
Após cinco anos de trabalho desse novo grupo com informativos periódicos na base, inclusive mobilizando a categoria em alguns momentos, coisa que o sindicato se negou a fazer, como foi em 2007 e 2008, para defender nossos direitos na reforma de cargos e salários e também na reforma do estatuto. Por isso evoluímos naturalmente para a uma chapa para disputar as eleições do sindicato.

Governo versus novo sindicato
Esse governo que está aí pode ter certeza que vai enfrentar um novo sindicato dos servidores. Não podemos nos furtar de defender os interesses da categoria. Sempre que houver qualquer reivindicação, o sindicato estará junto do trabalhador, independente do governo de plantão. O nosso papel será cobrar da Prefeitura para que ela cumpra com suas obrigações”.

Linha de atuação
Sempre discutimos que é o trabalhador quem decide a forma de atuação. Em última instância, é o trabalhador que deve tomar a rédeas da situação. Não posso dizer que haverá uma manifestação, haverá uma paralisação. Quem vai dizer isso é a categoria. É claro que o sindicato vai trabalhar no sentido de conseguir o maior número de benefícios como a revisão salarial, a de cargos e salários, que tanto a categoria anseia. Afinal, são 12 anos de reivindicações represadas.

Perdas salariais
Os setores mais atingidos têm hoje até 40% de defasagem salarial, mas essa não é a realidade de todos os servidores. O magistério foi uma das categorias mais afetadas. Em 2007, os servidores tiveram incorporado no salário-base um abono de 200 reais, pagos desde 2001. O professor ainda não teve esse abono incorporado. Vamos fazer um estudo para sentir a realidade de cada setor para tentarmos uma recomposição de maneira justa”.

Redução da jornada de trabalho
A redução da jornada é mais uma regulamentação do que uma redução. O setor administrativo da Prefeitura já trabalha com 30 horas semanais, mas a regulamentação fala em 44 horas. Na prática, já funcionam as 30 horas, só queremos a regulamentação, avançando para outro setores. A saúde, por exemplo, trabalha no limite das 44 horas semanais. Outra curiosidade é que o servidor não recebe hora extra, mas tem banco de horas, que é ilegal.

Comunicação com os servidores
“Existem algumas coisas elementares na atividade sindical, entre as quais a comunicação com a categoria. O boletim informativo tem que ser regular. Imaginamos uma publicação mensal e a presença constante de diretores do sindicato nos locais de trabalho. Ainda promoveremos uma campanha de filiação ao sindicato, que hoje conta 5.583 associados. Na Prefeitura, são cerca de 11 mil servidores. Vamos desburocratizar o processo”.

Prefeito Carlito Merss
“Nossa chapa é formada por 24 pessoas e vem de um processo que reuniu centenas de trabalhadores. Eu, particularmente, sou filiado ao PT e militante da esquerda marxista do partido. Obviamente votei no Carlito. Agora, uma coisa que sempre foi coerente na nossa postura é essa independência em relação ao governo. Não é porque sou petista que vou deixar de fazer a luta em benefício da categoria.

A esquerda marxista
Desde o primeiro dia de governo a esquerda marxista se posicionou independente. Entendemos que esse governo de coalizão não tinha como representar de fato todos os interesses da classe trabalhadora. A posição do Adilson Mariano (vereador pelo PT) é a posição da esquerda marxista. Vou ficar três anos à frente do sindicato e dará para fazer muita coisa”.

Transporte público ou privado; os protagonistas dessa luta

Jacson Almeida
jacson@gazetadejoinville.com.br
Com o fim da concessão das duas empresas que oferecem o transporte coletivo em Joinville, previsto para 2013, mas com a possibilidade do processo de licitação ser adiantado para 2011, o Movimento Passe Livre (MPL) de Joinville já se organiza para uma série de debates envolvendo todos os setores da sociedade.

A ideia é apresentar um novo modelo de transporte público, bem diferente do que o joinvilense está acostumado no exercício diário do sobe e desce dos ônibus, em que faltam fiscalização ao serviço e transparência por parte das empresas (Gidion e Transtusa) se transformaram na apresentação de números.

“Não se pode deixar tudo nas mãos de empresários”, alerta Kleber Tobler, ativista do Passe Livre. Segundo ele, o movimento na cidade pretende engrossar o diálogo em cima da Tarifa Zero, implantada em alguns locais de São Paulo, onde mais de 200 mil usuários chegaram a usufruir do benefício durante curto período na década de 1990.

O projeto foi apresentado por Lúcio Gregori, ex-secretário de Transportes paulistano na gestão da prefeita Luiza Erundina (então PT). O projeto pretendia criar um Fundo Municipal de Transportes, baseado em uma reforma tributária em que a classe alta arcaria com os custos da isenção da tarifa aos menos favorecidos. O projeto não passou de uma célula e agora, o Passe Livre pretende ressucitá-lo em Joinville.

Para o Passe Livre o transporte coletivo tem que ser democrático, para todos e não pode estar ligado aos interesses de empresários, que visam o lucro, segundo Kleber.

VEREADOR QUER FISCALIZAÇÃOO vereador petista Adilson Mariano já fez uma moção ao Executivo sugerindo uma empresa pública de transporte coletivo. Mesmo com a concessão na mão de empresas privadas, uma empresa pública faria concorrência. Outra ideia de Mariano seria um órgão público para fiscalizar o transporte e obter sua própria planilha de custos. “Se controlar o sistema de transporte fica mais fácil checar e barrar qualquer aumento”, explica.

“O transporte coletivo no Brasil não é público. É privado, daqueles que o podem pagar”. Essa realidade apontada por Lúcio Gregori ocorre em Joinville. De um lado as empresas privadas com o apoio de diversos setores da sociedade inclusive dos governos e de outro, inúmeros usuários do transporte que pagam diariamente R$ 4,60 para ir e voltar do trabalho (valor de duas tarifas).

Gregori diz que a saída para o transporte coletivo é “o subsídio à tarifa e, no limite altamente desejável, o subsídio total que é conhecido por Tarifa Zero.

DEPUTADO É CONTRA No entanto, para o deputado federal José Carlos Vieira (PR), que esteve à frente do planejamento do transporte coletivo mais de cinco anos em Joinville, o modelo público acabou. Segundo ele, existiam muitos cabides de emprego nas empresas públicas, enquanto empresas privadas são mais eficientes.

Exemplo a ser seguido

O ex-secretário de transportes da cidade paulistana em entrevista ao jornal Brasil de Fato, mostrou um exemplo de subsídio a tarifa. Na cidade belga Hasselt cerca de 300 mil habitantes em seu conjunto urbano tem o sistema de Tarifa Zero desde 1997. Por causa do benefício, de 360 mil passageiros/ano, em 1996, o número de usuários aumentou para 1,4 milhão um ano depois. Quase dez anos depois o número de passageiros era de 4,1 milhões, um aumento de aproximadamente 1.315%.

“A gratuidade é bancada por fundos com recursos federais, estaduais e municipais. Política pública de transportes coletivos é isso. Transporte não é um fim para ganhar dinheiro, mas um meio de fazer a sociedade andar, literalmente”, explica Lucio.

Prefeito Wittich Freitag foi o último a exigir fiscalização

Por ser um modelo privado, os governos municipais se exoneraram da responsabilidade do transporte coletivo e raras vezes houve tentativa de fiscalização, como aconteceu em 1986, em Joinville. Na época, um jornal da cidade trouxe a informação que iniciaria uma pesquisa sobre o transporte na cidade, feita pela Geipot, órgão extinto do Governo Federal e ligado ao Ministério dos Transportes. O objetivo era verificar horários de embarque, desembarque e quantidade de ônibus.

Na época, José Carlos Vieira era o secretário de Planejamento e Coordenação do governo Wittch Freitag. Chamado pelo então prefeito para melhorar alguns problemas de Joinville, inclusive o transporte coletivo. Vieira lembra que foi a Brasília pedir orientações à Geipot e trazer para Joinville um Núcleo de Estudo de Transporte. Segundo deputado, naquela época o resultado do estudo confirmou que seria preciso reformular o transporte coletivo.

Automaticamente a pesquisa iria propor melhoramentos na área de transporte urbano, criando um órgão de gerência permanente. A Geipot chegou a verificar 13 cruzamentos da cidade para remanejar o tráfego, segundo o jornal Extra, publicado no dia 13 de maio de 1986.

Diálogo com a sociedadeQuando o atual prefeito Carlito Merss (PT) autorizou o aumento da passagem, em maio de 2009, foi criado um fórum do transporte para dialogar com a prefeitura sobre a tarifa. Embora nada tenha adiantado, ativistas tiveram como promessa da prefeitura a criação de um Fórum do Transporte, em que a população e organizações pudessem debater sobre o transporte coletivo.

Segundo o ativista do Passe Livre, Kleber Tobler, o governo emitiu parecer positivo e deu esperança em marcar uma data para o debate. Mas até o momento nada aconteceu. “Foi combinado e até agora nada”, lamenta.

HistóriaEm 2005, um grupo de quatro estudantes de Joinville criaram o coletivo do Movimento Passe Livre na cidade. Desde então, o movimento sempre esteve presente nas ações para barrar o aumento de tarifas, também nos desfiles de Carnaval e 7 de setembro. Além de debates, mostras de vídeos e outras atividades. O objetivo: lutar pelo passe livre para estudantes. Mas atualmente na cidade a luta é por transporte de qualidade e gratuito para todos.

EDITORIAL: Muito perdidos

Era para ser apenas uma formalidade, afinal o balanço de 2009 já estava pronto e só faltava a assinatura do prefeito.

No entanto, minutos antes da divulgação oficial dos números, alguém alertou o prefeito Carlito de que poderia haver um forte questionamento, da imprensa, sobre o aumento nos gastos com pessoal que saltou de R$ 334 milhões para R$ 403 milhões em 2009.
Surpreendido com os números que desconhecia, Carlito resolveu não assinar o balanço oficial até que seus assessores avaliassem o impacto desta divulgação na imagem do prefeito junto à população.

Com seu governo enfraquecido perante a opinião publica, por inúmeras promessas de campanhas descumpridas, o prefeito não queria correr o risco de sofrer novo desgaste com a explosão das despesas em mais de R$ 69 milhões no seu primeiro ano de governo.

Ao final de muitas reuniões, o grupo de conselheiros políticos do prefeito sugeriu que ele assinasse o balanço e culpasse o governo anterior pela explosão dos gastos com pessoal.
Apostando na desinformação das pessoas e na simpatia da grande imprensa, a prefeitura esperava pouca repercussão para os números do balanço divulgado.

No entanto não poderia passar despercebido o fato da prefeitura estar trabalhando na fronteira da irresponsabilidade fiscal, apenas 0,8% do teto constitucional.

Este episódio reforça a percepção de que Carlito está perdido e com enfado para encarar o dia a dia da administração municipal.

O resultado disto é um descontrole incapaz de perceber a explosão nas despesas com pessoal da gigantesca cifra de R$ 69 milhões.

Quase 80% dos postos de saúde municipais não têm alvará sanitário

Dinilson Vieira
dinilson@gazetadejoinville.com.br
A falta de alvará sanitário e a constatação de precariedade nas condições de trabalho dos dentistas fizeram o Conselho Regional de Odontologia de Santa Catarina (CRO/SC) interditar dois consultórios do Posto de Saúde do bairro Vila Nova, prejudicando cerca de 1,5 mil pessoas que procuram a unidade todos os meses para tratamento. O Conselho ainda autuou e deu prazo de cinco dias para colocar em ordem os consultórios dentários dos postos dos bairros Petrópolis, Jardim Sofia e Jardim Iririú, a fim de que não sofram o mesmo tipo de punição. A Secretaria de Saúde admitiu que das 57 unidades de atendimento básico, apenas 12 possuem alvará sanitário.

Pela decisão do CRO/SC, que realizou diligência nos postos no último dia 24 de fevereiro, após receber uma série de queixas de dentistas da rede municipal, também ficou definido que todas as unidades de saúde da Prefeitura que prestam atendimento odontológico têm 30 dias para contar com alvará sanitário, sob a ameaça de que o serviço poderá ser interrompido pelo órgão caso o documento não seja providenciado.

Os motivos que causaram a interrupção do serviço no Vila Nova, onde trabalham oito dentistas, vão desde ralo e piso inadequados nos consultórios até transformar os ambientes em depósito de materiais e arquivos de prontuários e fichas, “reduzindo ainda mais o espaço que deveria ser destinado ao atendimento da população, fatos que também contrariam todas as normas de biossegurança estipulados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária)”, de acordo com o Conselho.

“Uma vergonha” Moradora do Vila Nova, a dona de casa Joice Strapasson da Cunha lamentou a interdição do serviço. “Precisava trazer meu filho mais velho para tratamento e fui orientada a ir ao PA Costa e Silva”. Já uma funcionária do posto, que preferiu ficar incógnita, admitiu o problema: “Isso aqui é uma vergonha e até demorou para acontecer (a interdição)”. Nos dois consultórios odontológicos do Vila Nova, que foram visitados pela reportagem na segunda-feira (01), era visível a sujeira debaixo de armários e atrás de portas, conforme já havia sido averiguado pelo Conselho.

Providências simples ajudariam

Nos postos fiscalizados no Petrópolis, Jardim Sofia e Jardim Iririú, trabalho que teve o apoio da Regional Joinville da Associação Brasileira de Odontologia (ABO), o principal problema constatado foi a falta de equipamentos de ar condicionado. “Erroneamente, contorna-se o problema com o uso de ventiladores de teto e de mesa, o que faz proliferar bactérias provenientes dos atendimentos, transmissores de doenças infectocontagiosas”, disse o dentista Pedro Ivo Gualberto Maischitzky, presidente local da ABO e delegado do Conselho.

Pedro observou que a Secretaria de Saúde é rigorosa em exigir alvará sanitário na iniciativa privada, mas esquece de cuidar de seu próprio quintal. De acordo ainda com Ivo, “o abafamento em alguns consultórios é tamanho que obriga a realização de atendimentos de portas abertas, expondo os pacientes e sujeitando os tratamentos a contaminantes externos, potencialmente infectantes”. Para o dentista, a solução para que o serviço odontológico municipal não custaria milhões. “Muitas vezes, as providências são simples, como a remoção de materiais”.

“Durante a campanha eleitoral, o Carlito (Merss, prefeito) e os demais candidatos a prefeito estiveram na ABO e receberam nossas reivindicações. Mas até agora, sequer foi resolvido o problema do ar condicionado”, afirmou ele. O CRO/SC deverá realizar outras visitas a postos de saúde em 30 dias e, caso constate irregularidades, poderá fazer novas interdições.

Dentista tira do bolso e compra ultrassom

Novata na profissão de dentista, Franciele Colatusso disse adorar o que faz, mas lamentou as condições de trabalho a que tem que submeter-se no Posto de Saúde do Jardim Sofia. O consultório em que ela chega a fazer até 180 atendimentos mensais fica nos fundos do imóvel alugado pela Prefeitura. Para chegar à sala, os pacientes precisam subir dois lances de escadas, o que impede a acessibilidade de deficientes.

Pequeno, o consultório possui um ventilador de teto, o que não é recomendado pelo CRO/SC. A cortina, aparelho de ultrassom e alguns instrumentos foram comprados pela própria dentista. “Já fazia tempo que estava pedindo esses materiais para a Secretaria de Saúde”, disse ela, que espera ser reembolsada.

Tirar dinheiro do próprio bolso para conseguir trabalhar com o mínimo de condições é outra denúncia que o Conselho faz e cobra providências da Prefeitura. No posto do Vila Nova, os oito dentistas se cotizaram para adquirir aparelhos de ar condicionado para os dois consultórios.

Outro lado

Os 57 postos da rede municipal de saúde nunca tiveram alvará sanitário, mas o atual governo levantou a real dimensão do problema, identificou os gargalos e está fazendo as adequações necessárias. A justificativa foi dada pela Secretaria de Saúde, através do assessor de comunicação da pasta, Altair Nasario. Segundo Altair, 12 postos possuem o documento, incluindo as recém inauguradas unidades do Floresta e a de Pronto Atendimento (PA) Aventureiro.

O assessor explicou que existe uma programação da Secretaria da Saúde para que outros 12 postos sejam regularizados em 2010 e que não haverá como atender a exigência do CRO/SC para que todas as unidades tenham o documento em 30 dias. Mas, de acordo com o assessor, seria possível fazer rapidamente as mudanças no posto do Vila Nova, atendendo às exigências do Conselho, e ainda respeitar o prazo de cinco dias para regularizar os postos do Jardim Iririú, Jardim Sofia e Petrópolis. O prazo expirou nesta quarta-feira (3), e o serviço no Vila Nova continuava interditado.

Altair declarou ainda que será aberto uma licitação via pregão presencial para a realização de compra de aparelhos de ar condicionado. “Trinta e um dos aparelhos vão para o serviço de odontologia”. Para o assessor, a situação precária dos postos de saúde é herança do governo anterior.